NATAL, RN (FOLHAPRESS) – As semanas de Erika de Souza Muniz, técnica judiciária aposentada de 56 anos, são vividas com a ajuda de injeções de medicamentos e canabidiol, o óleo extraído da Cannabis Sativa.
A estratégia traçada com especialistas combate “dores de fazer chorar”, além do avanço da artrite reumatoide, diagnosticada em 2009. A doença tem como principal característica a inflamação das articulações.
“Tinha dias que eu não conseguia segurar um garfo, escovar os dentes ou fazer qualquer outra coisa que dependesse das mãos”, diz. “Hoje sou outra pessoa”.
As injeções que toma são ora com metotrexato, medicamento mais utilizado para o controle da artrite, ora com medicamento biológico, produzido a partir de organismos vivos. “E o canabidiol tira minhas dores”.
O educador ambiental aposentado Carlos Eduardo Danilevicius Tenório, 50, recorre a infiltrações de corticoides e doses de analgésicos e anti-inflamatórios contra a osteoartrite, ou artrose, descoberta aos 36. O desgaste da cartilagem que reveste as articulações, típico da condição, atinge seus joelhos e quadris.
Ele adaptou o apartamento onde vive e implantou uma prótese no quadril esquerdo para reduzir dores e facilitar movimentos. Esperou por quase seis anos pelo procedimento na rede pública. Agora, se prepara para colocar no lado direito. “A artrose provoca uma dor que fica latejando, ali, o tempo todo. E é uma doença que te incapacita muito”, diz.
Coordenador da Associação Brasileira Superando o Lúpus, Doenças Reumáticas e Doenças Raras, ele aponta como uma das grandes demandas de quem chega à instituição “a indicação de uma medicação que vai dar um jeito nos problemas”. “Mas as medicações são individuais. O que funciona para um pode não funcionar para outro, então a gente tenta combater isso.”
Não há um levantamento sobre quantas pessoas têm artrite reumatoide e artrose no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. Entre as doenças reumáticas, entretanto, elas estão entre as mais frequentes e, em termos de tratamento, caminham em ritmos distintos.
“Para artrite reumatoide temos aprovados inúmeros medicamentos com comprovação científica de resultados e potencial de melhorar os sintomas. Para a artrose não temos nada específico com bom resultado. Continuamos só usando medicamentos para diminuir a dor, desinflamar”, diz a reumatologista Ana Paula Gomides, doutora em Ciências Médicas e uma das autoras do primeiro “estudo de vida real” no Brasil sobre os padrões de tratamento de pacientes com artrite reumatoide no SUS (Sistema Único de Saúde).
Buscas no Google sobre as doenças incluem “pomada milagrosa”, “o melhor anti-inflamatório”, “colágeno” e “remédio caseiro”. “Mas não há comprovação de tratamentos que resolvem todos os casos e há risco de efeitos colaterais”, alerta Gomides. Ela frisa que todos os remédios aprovados no Brasil para a artrite reumatoide estão no SUS.
A lista inclui medicamentos modificadores de doença, como o metotrexato, medicamentos biológicos, pequenas moléculas inibidoras de Janus Kinase os inibidores de JAK e corticosteroides, que são os mais antigos, diz Marco Antônio Araújo da Rocha Loures, presidente da SBR (Sociedade Brasileira de Reumatologia).
Em caso de não resposta com modificadores de doença, é possível solicitar ao SUS a medicação biológica nas Regionais de Saúde ou nas Secretarias Municipais de Saúde, recomenda. Na farmácia, uma caixa desse tipo de medicamento pode superar R$ 10 mil.
Não dá para dizer qual é a medicação mais eficaz e promissora. Uma vez que não há cura para artrite reumatoide ou artrose, os tratamentos tem como objetivo alcançar a remissão ou a baixa atividade da doença. Uma linha terapêutica indicada de forma precoce por um reumatologista pode evitar cirurgias e sequelas.
“Todas têm excelentes benefícios e aí vai depender da resposta de cada paciente. Alguns simplesmente não têm resultado satisfatório com um medicamento, por características individuais ou da própria doença. Temos etapas em que vamos trocando os medicamentos até ter uma resposta. Mas não existe receita de bolo, algo como todo mundo melhora com isso”, afirma Ana Paula Gomides.
A estudante Maria Luiza Borges, 18, busca o melhor tratamento desde 2020, quando chegou ao diagnóstico de artrite idiopática juvenil, como é chamada a artrite reumatoide em populações mais jovens. “Dores de fazer gritar” nas pernas e calcanhares começaram na infância. Há um mês, ela iniciou uma nova terapia. Para ela e a mãe, Alessandra, significa uma “nova esperança”.
“Agora consigo andar, me movimentar, dançar e a minha médica me liberou para fazer academia”, diz a estudante. “Eu tento pensar tem que ter fé, né? Pensar que tudo isso que estou passando é porque mereço algo muito melhor no futuro”.
As trilhas que a menina percorre buscam ação contra a artrite e o lúpus, descoberto depois. Os tratamentos incluem acompanhamento psicológico.
No caso da artrose, “diferente da artrite, não existe um medicamento que deixe a doença estabilizada. O tratamento é baseado em melhorar os sintomas de dor”, reitera Gomides.
Os fármacos são, principalmente, com analgésicos e anti-inflamatórios. Outros remédios, como antiartrósicos, não estão na rede pública e, segundo Gomides, ainda não têm eficácia comprovada.
Colágenos, glicosaminas e condroitinas, que avançam no mercado como capazes de fortalecer articulações, por exemplo, não são consenso na área. “São medicamentos à base de substâncias mais naturais que, em alguns casos, podem ajudar nos sintomas, mas não atuam de forma eficaz na doença”, diz Gomides.
RENATA MOURA / Folhapress