Três suspeitos são presos por morte de Mãe Bernadete na Bahia

SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – Três homens foram presos por suspeita de participação na morte da líder quilombola Bernadete Pacífico, 72, conhecida como Mãe Bernadete. A informação foi confirmada nesta segunda-feira (4) pelo secretário de Segurança Pública da Bahia, Marcelo Werner.

Um dos presos confessou à polícia ter sido um dos executores da líder quilombola. Os outros dois não teriam tido participação direta no crime -um dele estava com o celular de Mãe Bernadete e o outro guardava as armas supostamente usadas no crime.

O suspeito de executar o crime foi preso na cidade Araçás (a 105 km de Salvador). Os outros dois foram detidos na cidade de Simões Filho, na região metropolitana de Salvador.

As armas apreendidas são compatíveis com os projéteis identificados na cena do crime e estão analisadas pela Polícia Técnica da Bahia. Ao todo, os investigadores ouviram 64 pessoas e apreenderam 21 telefones celulares.

O secretário Marcelo Werner não deu detalhes sobre as possíveis motivações do crime. Ele alega que a investigação corre em segredo de Justiça e que qualquer informação pode atrapalhar o trabalho de apuração polícia.

“Estamos avançando nas investigações, mas, até por uma questão de sigilo, a gente não pode passar maiores dados”, afirmou o secretário. Um dos supostos executores confessou qual seria o motivo do crime, mas o depoimento ainda será confrontado com provas colhidas ao longo da investigação.

Pelo menos mais uma pessoa teria participado diretamente da execução da líder quilombola e continua foragida da polícia.

Bernadete Pacífico foi assassinada com 22 tiros em 17 de agosto na casa que funcionava como sede da associação de quilombolas em Simões Filho. Inicialmente as autoridades falavam em 14 tiros, mas o número foi corrigido após laudo cadavérico.

Ela era coordenadora nacional da Conaq (Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos) e liderava o Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho. Trabalhava havia anos denunciando a violência contra a população quilombola e as tentativas de tomada das terras.

Após o assassinato de seu filho Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, em 2017, a luta contra ataques a terreiros e assassinatos de lideranças religiosas de matriz africana se intensificou. Conhecido como Binho do Quilombo, ele era um dos líderes quilombolas mais respeitados da Bahia.

Outro filho de Mãe Bernadete, Jurandir Wellington Pacífico, afirmou que ela recebia ameaças havia pelo menos seis anos. Ele disse acreditar que a mãe foi vítima de um crime de mando.

A líder quilombola estava junto dos netos quando dois homens chegaram usando capacetes e abordaram a família. Os netos foram trancados em um quarto, e Mãe Bernadete foi morta.

Ela já havia recebido ameaças e fazia parte de um programa de proteção a defensores de direitos humanos do Governo na Bahia. Câmeras foram instaladas na sua casa e no entorno, e policiais faziam visitas periódicas ao local, mas não havia uma vigilância constante.

A Polícia Federal na Bahia diz que, além do inquérito para investigar a morte de Maria Bernadete, o caso de Binho está sendo apurado.

Bernadete foi secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial de Simões Filho na gestão do então prefeito Eduardo Alencar (PSD), irmão do senador Otto Alencar (PSD).

Em julho, ao lado de outras líderes quilombolas, ela participou de um encontro com a presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministra Rosa Weber, na comunidade Quingoma, na cidade de Lauro de Freitas. Na ocasião, Mãe Bernadete afirmou que era ameaçada por fazendeiros.

“É o que nós recebemos, ameaças. Principalmente de fazendeiros, de pessoas da região. Minha casa é toda cercada de câmeras, eu me sinto até mal com um negócio desse”, afirmou.

Mãe Bernadete iniciou-se aos 23 anos no terreiro Ilê Axé Kalé Bokum, em Salvador, por meio do babalorixá -título de maior autoridade no candomblé- Severiano Santana Porto (1894 -1972).

Para além de ser porta-voz e representante das demandas políticas do quilombo, Bernadete exercia um papel de cuidado direto e pessoal com a comunidade.

O assassinato instalou um clima de medo entre os moradores da comunidade de Pitanga dos Palmares, que vivem de artesanato, agricultura de subsistência e criação de animais em uma região relativamente isolada do núcleo urbano da cidade que abriga cerca de 300 famílias.

A demarcação da área como terra de descendentes de quilombolas está em fase final de tramitação no governo federal, mas segue parada desde 2017.

JOÃO PEDRO PITOMBO / Folhapress

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