Trilha de ‘Barbie’ usa a elite do pop para reciclar a reputação da boneca

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Num filme que apela para a nostalgia de um brinquedo clássico, uma lembrança da infância de várias gerações e um universo tão facilmente reconhecível, nada mais lógico do que apostar naquilo que é amplamente conhecido em sua encarnação sonora.

O álbum de “Barbie”, trilha do longa-metragem que estreou nos cinemas esta semana, entrega exatamente aquilo que promete. É repleto de canções pop chiclete feitas por alguns dos mais importantes artistas da indústria fonográfica contemporânea.

A lista de estrelas poderia ser a de atrações principais de alguma edição recente do Grammy, ou do ranking de mais ouvidas do ano nos Estados Unidos. São nomes como Dua Lipa, Billie Eilish, Lizzo, Nicki Minaj, Charli XCX, Sam Smith, Tame Impala e Haim.

Há ainda a estrela do reggaeton argentino, Karol G, o grupo pop sul-coreano Fifty Fifty e a sensação jovem Dominic Fike, entre outros. Cada um deles transita dentro de seu próprio universo estético.

Isso significa que Dua Lipa surge dançante em uma base retrô-disco-pop, no estilo de seu álbum “Future Nostalgia”, Charli XCX faz um pop meio glitch que é doce e estranho na mesma medida, na pegada do hyperpop, Lizzo canta um R&B pop e bem-humorado, e Billie Eilish sussurra uma balada melancólica por cima de um piano.

Todas essas músicas poderiam ser sobras da obra principal dessas cantoras, com a diferença de que elas se curvam às cenas ou situações específicas do filme. A música de Lizzo, por exemplo, versa sobre a cor rosa, enquanto a de Dua Lipa é feita para animar uma balada da protagonista e a de Charli XCX é trilha para uma cena em alta velocidade.

Há também músicas que só funcionam por estarem atreladas ao filme. É o caso de “I’m Just Ken”, em que Ryan Gosling, intérprete do boneco do título da faixa, contempla a própria insignificância masculina dentro do universo de “Barbie”.

Mas se há um momento em que a trilha do filme vai além do banal é na voz de Nicki Minaj. A rapper americana, afiada nas rimas e levadas, antes da febre causada por “Barbie” já brincava com a cor rosa. Ela tem por exemplo o disco “Pinkprint”, referência ao clássico “Blueprint”, de Jay-Z, com o universo da boneca em suas músicas.

Em 2018, ela lançou duas músicas com Barbie no nome —”Barbie Tingz” e “Barbie Dreams”. Nesta última, Minaj brinca com a ideia de transar com os rappers mais incensados dos Estados Unidos, chamando-os pelo nome e tirando sarro de cada um deles.

A identificação com a boneca é tão grande que a Mattel, produtora da Barbie, leiloou uma versão do brinquedo com as características da rapper por US$ 15 mil, ou R$ 72 mil. Mas elas não se relacionam de uma maneira direta. A Barbie clássica jamais diria a quantidade de palavrões e termos sexuais usados por Minaj em apenas uma música.

Numa entrevista à MTV, Minaj disse que essas referências à boneca já haviam se tornado um movimento. “Quando dizemos ‘Barbie’, não estamos mais pensando na boneca de plástico com cabelo loiro. É sobre como passamos a nos identificarmos, mas há muitas circunstâncias.”

Na trilha de “Barbie”, Minaj encarna tanto a ideia do filme de reposicionar a boneca em um novo contexto social quanto a do resgate nostálgico. Isso porque a música clássica da personagem, “Barbie Girl”, da banda Aqua, surge como sample enquanto a rapper rima que é “uma boneca, mas que quer se divertir”.

Minaj sexualiza a personagem em “Barbie World” ao ponto de dizer que está gritando por causa “do jeito que Ken está mandando ver”. Na esteira do que o próprio filme propõe, é de certa forma uma anti-Barbie a serviço de uma reciclagem da reputação da boneca.

BARBIE THE ALBUM

Quando Sexta-feira (21)

Onde Nas plataformas digitais

Elenco Nicki Minaj, Lizzo, Billie Eilish, Tame Impala, Dua Lipa, Charli XCX, Karol GProdução Mark Ronson

Gravadora Warner Music

LUCAS BRÊDA / Folhapress

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