Troca no comando da Eletrobras, restrições de oferta de diesel e o que importa no mercado

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Troca no comando da Eletrobras, restrições de oferta de diesel e o que importa no mercado nesta terça-feira (15).

**TROCA NA ELETROBRAS**

Em um anúncio que pegou o mercado de surpresa, a Eletrobras informou na noite desta segunda que Wilson Ferreira Junior renunciou ao cargo de presidente da companhia.

Em seu lugar, assume Ivan Monteiro, que era o presidente do conselho de administração, cargo que agora será ocupado por Vicente Falconi.

Quem é quem:

Wilson Ferreira Junior é um executivo conceituado no setor de energia e já havia presidido a Eletrobras de julho de 2016 a janeiro de 2021. Voltou ao cargo em 20 de julho do ano passado, como primeiro CEO da empresa privatizada.

Ivan Monteiro é ex-funcionário de carreira do Banco do Brasil e chegou a comandar a Petrobras no fim do governo Michel Temer (MDB), além de ter sido CEO da BRF.

Contexto: a troca de executivos acontece em um momento em que o governo Lula (PT), que se opôs à privatização da Eletrobras, tenta ampliar o poder da União na companhia.

A Folha de S.Paulo apurou com pessoas que acompanham a empresa que Ferreira Jr. vinha tendo uma relação difícil com integrantes do conselho sobre a melhor estratégia para o futuro da companhia, especialmente com o governo.

Nesse aspecto, Ivan Monteiro, que participou de gestões petistas, teria melhor trânsito.

**POSTOS FALAM EM RESTRIÇÕES NO DIESEL**

As dificuldades para compras de diesel pelos postos, principalmente os de bandeira branca, foram confirmadas pela federação que representa os revendedores de combustíveis do país.

A ANP, agência do governo responsável por garantir o abastecimento no país, afirmou que os estoques das distribuidoras estão em níveis adequados e que não há falta do produto.

Entenda: relatos de restrições para compra e de preços mais caros do diesel surgiram nas últimas semanas e reacenderam questionamentos sobre a nova política de preços da Petrobras.

Sem mais atrelar a precificação dos combustíveis à paridade de importação, a estatal deixou de acompanhar a volatilidade do mercado externo.

Ao mesmo tempo, ela desincentiva as importações privadas em momentos de grande diferença entre o preço dos combustíveis aqui e das cotações do petróleo lá fora.

Para dar conta da demanda, a Petrobras ampliou suas importações –o Brasil não é autossuficiente no refino de derivados do petróleo, como diesel e gasolina.

Em números: na semana passada, o preço médio do diesel S-10 subiu R$ 0,08 por litro, para R$ 5,08, mesmo sem reajustes nas refinarias da Petrobras.

Nesta segunda, o preço do diesel nas refinarias da Petrobras estava R$ 1,18 por litro abaixo da paridade de importação calculada pela Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis).

Na média nacional, a defasagem era de R$ 1,01 por litro.

Na gasolina, a diferença era de R$ 0,90 por litro nas refinarias da Petrobras e de R$ 0,79 por litro na média nacional.

**ESTRESSE NA ARGENTINA APÓS PRIMÁRIAS**

A vitória do candidato ultraliberal Javier Milei nas eleições primárias da Argentina abalou o mercado local, que amanheceu com alta desvalorização do peso e dos títulos de dívida do país.

Em números: o dólar paralelo, chamado de “blue”, disparou 11% depois que o Banco Central do país subiu os preços do dólar oficial em 22% e elevou a taxa de juros em 21 pontos (para 118% ao ano), em tentativa de estimular investimentos em pesos.

Os outros tipos de cotações oficiais de dólar na Argentina –são dez ao todo– também subiram.

Em Nova York, o valor dos títulos da dívida argentina chegaram a afundar 12%. Por outro lado, o índice Merval, o principal da Bolsa argentina, fechou em alta de 3,30%.

O que explica: parte do mercado reagiu mal ao resultado das primárias pela incerteza que ronda as propostas de Milei.

Sua principal bandeira é dolarizar a economia, por meio de um sistema de livre concorrência entre as moedas, e então eliminar o Banco Central.

Especialistas advertem que isso seria muito difícil num país que não tem reserva de dólares.

Milei recebeu 30% dos votos com 97% das urnas apuradas, seguido pela coalizão de oposição Juntos por el Cambio, com 28,3%. A aliança peronista e governista União pela Pátria ficou em terceiro, com 27,2%.

O economista propõe uma lista de medidas que incluem fazer uma “abertura comercial unilateral” ao mundo, com foco em investimentos nas áreas de mineração, hidrocarbonetos e energias renováveis, e reduzir 90% dos impostos.

Saiba mais sobre quem é o autodenominado anarcocapitalista aqui.

Análise: Mesmo que Milei não vença o pleito à frente, o impulso inicial dos argentinos será comprar dólares o quanto antes, alimentando sua cotação e a inflação, escreve o repórter especial Fernando Canzian.

**SINAIS AZEDOS DO ORIENTE DERRUBAM BOLSA**

Mais uma vez o temor em relação a uma desaceleração da economia chinesa pesou na Bolsa brasileira, que chegou a sua décima queda consecutiva, na maior sequência negativa desde 1984.

Desta vez, o setor imobiliário voltou a gerar preocupações depois que uma grande incorporadora não pagou juros da dívida.

A notícia atingiu em cheio as ações da Vale, fornecedora de matéria-prima para a construção civil e uma das maiores empresas do Ibovespa.

Em números: os papéis da mineradora caíram 3,08% e puxaram a Bolsa brasileira para baixo, com recuo de 1,06%, aos 116.809 pontos.

O temor global sobre a economia chinesa também fez o dólar ganhar força aqui e lá fora. A moeda americana fechou em R$ 4,965, alta de 1,20%.

Ainda nesta segunda, destaque para os papéis de educação negociados na Bolsa.

Eles tiveram forte queda em meio a um impasse no setor após uma decisão do STF que limitou a abertura de novos cursos de medicina e, como mostrou a Folha, gerou indefinição no Ministério da Educação.

Yduqs e Ânima, duas das principais em cursos de medicina privados, tombaram 15,25% e 18,96%, respectivamente.

O que explica a sequência negativa do Ibovespa: é um misto do cenário externo com a ata do Copom, que esfriou as apostas no mercado para um corte maior que 0,5 ponto da Selic.

Apesar da sequência de dias negativos, o tombo não é tão grande: 4,2%. Isso depois de um avanço de 19,7% em quatro meses com a espera do início do ciclo de corte de juros.

ARTUR BÚRIGO / Folhapress

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