BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A troca no comando da Caixa Econômica Federal, da atual presidente Rita Serrano pela ex-deputada federal Margarete Coelho (PP-PI), divide opiniões no banco. Apesar de haver resistências pela chegada de uma representante do centrão ao comando da instituição, há também entre os membros a visão de que uma política experiente pode fortalecer a atuação da estatal.
A substituição faz parte do rearranjo no governo para incluir o PP e o Republicanos na coalizão governamental.
Coelho não tem formação acadêmica em finanças. Ela é advogada de formação, com especialização no direito eleitoral, e defende em processos o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) –inclusive em ações contra a imprensa.
Ela entrou para a política em 2010 como deputada estadual. Em 2014, foi eleita vice-governadora na chapa do hoje ministro Wellington Dias e, em 2018, se elegeu deputada federal.
Ganhou projeção no Congresso pelas mãos de Lira, que a designou para relatar importantes projetos –entre eles o que enterrou a Lei de Segurança Nacional e o que altera toda a legislação eleitoral.
Coelho acabou não conseguindo se reeleger em 2022 e hoje é diretora de Administração e Finanças do Sebrae. A entidade de apoio às pequenas e microempresas, apesar de ser privada, sofre forte influência governamental e do mundo político.
Serrano, por sua vez, foi por três mandatos a representante dos trabalhadores no conselho de administração da instituição financeira. Na última eleição, teve mais de 90% dos votos.
A atual presidente assumiu a Caixa em um momento conturbado da história do banco, que sofreu com denúncias de assédio e de uso eleitoral da instituição durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
Ela fez carreira no sindicalismo bancário, sem acumular tanta experiência na gestão da instituição. Isso pesou para o seu descrédito interno. A crítica é que, além da falta de experiência gerencial, ela não teria se cercado de pessoas de alto nível para tocar um dos maiores bancos do país.
Um dos pontos que mais incomodou os funcionários de carreira da Caixa durante a gestão de Pedro Guimarães foi justamente a nomeação de pessoas estranhas ao banco ou com pouca experiência para cargos chave.
Os dois exemplos mais citados são o da vice-presidente de Negócios de Varejo, Maria Cristina Farah, e de Negócios de Atacado, Ronny da Costa.
Farah teve como cargo máximo na Caixa o de substituto eventual de gerente regional no ABC Paulista, região da qual também veio Serrano.
Costa é da mesma região e chegou a um cargo acima do de Farah na carreira, o de Superintendente Executivo, que também está bem distante do de vice-presidente.
Procurada para comentar o tema, a Caixa informou que “observa estritamente a previsão da Lei das Estatais e do Estatuto Social da empresa” sobre o preenchimento de cargos.
“O banco reforça que seus dirigentes são avaliados e preenchem tais requisitos. Os dirigentes mencionados são empregados de carreira do banco, com vários anos de experiência em gestão, bem como cumprem todos os requisitos legais e estatutários”, disse.
A expectativa interna com a possível chegada de Coelho é de que as escolhas para as vice-presidências sejam de quadros com histórico de sucesso na Caixa.
Internamente, a visão é de que, das 12 vice-presidências, somente duas devem permanecer como estão. A de Habitação, comandada por Inês Magalhães, e a de Governo, chefiada por Marcos Bonfim.
Para tentar reduzir os danos da perda do comando da Caixa, petistas defendem que vice-presidências estratégicas do banco fiquem com o partido, principalmente a de Magalhães. Mas o partido União Brasil pleiteia esse cargo, o que deve gerar mais uma disputa política.
A estrutura comandada por Magalhães é de especial importância para o governo federal. A Caixa é o maior banco em financiamento imobiliário no país e por lá passa o grosso do Minha Casa Minha Vida, um dos principais programas sociais do governo Lula (PT).
Apesar da expectativa interna da Caixa de que Coelho irá fazer indicações de carreira, a ala política do governo também colocou as vice-presidências do banco na negociação com o centrão. Os cargos devem ser distribuídos para indicados do PP, Republicanos e União Brasil.
No PT, eventual escolha de Margarete Coelho para a presidência da Caixa é vista com ressalvas. Nos governos petistas anteriores, o partido conseguiu manter o comando do banco.
Integrantes da cúpula petista reconhecem que a ex-deputada tem perfil conciliador e se destaca pela articulação política, o que é considerado um perfil positivo para a gestão de um banco com tamanha capilaridade e encarregado de operacionalizar programas sociais do governo.
No entanto, o PT preferiria manter na estatal uma pessoa de confiança da sigla.
“Claro que o partido gostaria de mais espaço, mas Margarete é muito respeitada no PT. E, mesmo se ela for escolhida, o importante é que o PT continua na formulação de políticas sociais”, disse o líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PR), ao se referir à perspectiva de Wellington Dias permanecer no Ministério do Desenvolvimento Social, que é cobiçado pelo PP, de Ciro Nogueira.
Petistas se dividem sobre o desempenho de Rita Serrado. Uma ala critica a atual presidente pela falta de experiência e traquejo político. Outro grupo avalia que ela não fez nada de errado.
Mas dentro do PT é unânime a visão de que o melhor seria o partido continuar à frente da Caixa, apesar dos elogios à ex-deputada do PP.
Por causa da proximidade que tem com Lira, Margarete Coelho foi responsável por relatar temas polêmicos que o presidente da Câmara encampou em 2021 e 2022. Ela foi relatora da PEC da Imunidade Parlamentar, da proposta para afrouxar a Lei das Estatais e do novo Código Eleitoral, por exemplo.
A atuação dela e o diálogo que teve com o PT à época envernizaram o currículo da ex-deputada, na visão de membros do PT.
Outro atenuante, na avaliação do partido, é que Coelho já foi alinhada a Dias no Piauí e se envolveu com pautas sociais na Câmara.
Isso, porém, não apaga a memória do PT sobre a atuação da ex-deputada ao lado de Michele Bolsonaro na campanha à reeleição de Bolsonaro, além de ser uma das principais aliadas de Ciro Nogueira, que é do Piauí, preside o PP e foi ex-ministro de Bolsonaro.
LUCAS MARCHESINI E THIAGO RESENDE / Folhapress