WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – O presidente Donald Trump anunciou nesta quinta-feira (8) um acordo comercial entre os Estados Unidos e o Reino Unido. Trata-se do primeiro de vários pactos que o republicano tem prometido fazer desde 2 de abril, quando anunciou um “tarifaço” a todas as nações.
Segundo Trump, o Reino Unido concordou em abaixar as cobranças não tarifárias sobre produtos importados. “Um ótimo acordo para ambos os países. Eles estão abrindo o país -o país estava um pouco fechado”, disse o presidente americano.
Trump depois colocou o primeiro-ministro inglês para falar por telefone durante o anúncio do Salão Oval. “Isso é histórico e fantástico”, disse Keir Starmer.
O secretário do Comério americano, Howard Lutnick, deu algumas informações sobre o plano -ainda pouco detalhado- e afirmou que as tarifas de 10% sobre os produtos do Reino Unido seguem em vigor. Haverá, por sua vez, isenções ligadas aos automóveis, setor que recebe uma tarifa de 25% impostas por Trump, além do aço e aviões.
O Reino Unido poderá enviar 100 mil carros aos EUA e pagará uma tarifa de 10%, disse Lutnick.
Autoridades inglesas afirmaram que tarifas sobre aço -também a 25% para o mundo- serão zeradas para o Reino Unido.
Um documento divulgado pela Casa Branca após o anúncio firma ainda que os EUA vão ampliar em US$ 700 milhões as exportações de etanol e em US$ 250 milhões a venda de outros produtos agrícolas, como carne bovina.
“Abrimos novo acesso ao mercado: etanol, carne bovina, máquinas, todos os produtos agrícolas”, afirmou o secretário do Comércio.
O governo Trump tem tentado persuadir outros países a chegarem a acordos comerciais rápidos com os Estados Unidos, usando barreiras tarifárias.
Apesar do adiamento das taxas específicas para cada país, ele manteve uma tarifa global de 10% em vigor, inclusive sobre o Reino Unido. Ao contrário de outros países, a naçõ não foi submetida a tarifas “recíprocas” mais altas, porque compra mais dos Estados Unidos do que vende para eles. É o mesmo caso do Brasil.
O Reino Unido também está sujeito a uma tarifa de 25% que Trump impôs sobre aço, alumínio e automóveis estrangeiros, taxas que os funcionários britânicos têm pressionado seus homólogos americanos para suspender.
O interesse de Trump em firmar um acordo comercial com o Reino Unido remonta ao seu primeiro mandato, quando seus assessores negociaram com o país, mas não finalizaram um acordo. Funcionários britânicos também têm buscado um acordo comercial com os Estados Unidos desde o Brexit, como forma de compensar relações mais fracas com a Europa. Na administração Biden, funcionários britânicos continuaram a pressionar por um acordo com os Estados Unidos, mas fizeram pouco progresso.
Para o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, o acordo comercial ofereceria uma validação para seu cultivo assíduo da relação com Trump. Durante sua visita ao Salão Oval em fevereiro, Starmer apareceu com um convite do Rei Charles III para que o presidente fizesse uma rara segunda visita de Estado à Grã-Bretanha.
A administração Trump parece avançar em negociações com Índia e Israel, e continua em conversas com a Coreia do Sul, Japão, Vietnã e outras nações. Ainda assim, Trump mais uma vez demonstrou sua abordagem imprevisível à política econômica na terça-feira, quando minimizou a perspectiva de acordos comerciais, dizendo que outros países precisavam mais desses acordos do que os Estados Unidos.
“Todos dizem ‘quando, quando, quando você vai assinar acordos?'” disse Trump, em certo momento apontando para Howard Lutnick, seu secretário de comércio. “Não precisamos assinar acordos. Poderíamos assinar 25 acordos agora mesmo, Howard, se quiséssemos. Não precisamos assinar acordos. Eles precisam assinar acordos conosco.”
Especialistas em comércio disseram que Trump pode estar pretendendo anunciar acordos muito mais limitados do que os acordos comerciais tradicionais, que cobrem a maior parte do comércio entre países e exigem aprovação do Congresso. Historicamente, os acordos de livre comércio levaram mais de um ano para serem negociados pelos Estados Unidos.
Em seu primeiro mandato, Trump renegociou vários acordos comerciais dos EUA, incluindo um acordo de livre comércio com a Coreia do Sul e o Nafta. Mas ele também assinou uma série de “mini-acordos” mais limitados com países nos quais eles reduziram tarifas sobre alguns tipos de mercadorias ou concordaram em falar sobre alguns setores.
Além das disputas comerciais, Trump faz pressão para que o banco central americano, FED, baixe as taxas básicas de juros e, também nesta quinta, criticou o chefe da autarquia, Jerome Powell -o chamou de “tolo” um dia depois de o Fed ter mantido o índice de referência.
“‘Atrasado demais’ Jerome Powell é um tolo, que não tem a menor ideia. Fora isso, eu gosto muito dele!”, escreveu Trump em sua plataforma de mídia social. Ele citou a queda nos custos de energia e sua política tarifária e contestou qualquer aumento nos custos ou na inflação. Ainda mencionou preocupações com desemprego.
Os funcionários britânicos, por sua vez, também têm negociado com a União Europeia, e na terça-feira (6) concordaram com um acordo comercial com a Índia. O acordo com a Índia reduziria as tarifas entre os países e garantiria mais acesso para empresas britânicas aos setores de seguros e bancário da Índia, entre outras mudanças. O anúncio seguiu-se a quase três anos de negociações.
JULIA CHAIB / Folhapress