Trump consegue vitória recorde em Iowa e tira fôlego de alternativas

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Confirmando as expectativas, o ex-presidente Donald Trump venceu com facilidade a primeira batalha pela nomeação republicana da corrida pela Casa Branca, em Iowa, nesta segunda-feira (15). A ampla vantagem em relação ao segundo colocado, Ron DeSantis, é um banho de água fria em quem tinha esperança na emergência de uma alternativa e fortalece a perspectiva de um novo embate entre o empresário e Joe Biden em novembro.

Com mais de 95% dos votos contados, Trump tem 51% de apoio —maior percentual já obtido em uma disputa do partido, à frente dos 41% obtidos por George W. Bush em 2000, dono do recorde anterior. A distância para DeSantis, que teve 21,2% dos votos, foi de praticamente 30 pontos percentuais, outro número inédito.

O resultado frustra as três possibilidades de surpresa discutidas por analistas: uma votação menor de Trump, uma vantagem menor para o segundo lugar, e Nikki Haley à frente de DeSantis —a ex-embaixadora na ONU terminou com 19,1% dos votos.

Com isso, limita-se ainda mais o horizonte de um outro nome alcançar a nomeação do partido. Sintoma disso, Vivek Ramaswamy, quarto lugar na votação, declarou sua saída das primárias e apoio a Trump.

Ao final da noite, um Trump estranhamente conciliatório e tranquilo discursou. Após semanas atacando seus concorrentes, ele afirmou que Haley, DeSantis e Ramaswamy são pessoas “muito inteligentes” e que tiveram um bom desempenho nesta segunda.

“Esse é o momento para nosso país se unir, seja republicano ou democrata”, afirmou o empresário. Em seguida, ele repetiu as prioridades de seu novo mandato: perfurar petróleo (“bill, baby, drill”), “selar a fronteira”, que está sendo “invadida por milhões de pessoas”, e combater o crime, “resgatar a economia” e acabar com a dívida pública.

O empresário disse ainda que, se fosse presidente, a Rússia nunca teria atacado a Ucrânia, e nem Israel teria sido atacado pelo Hamas.”Eu e [Vladimir] Putin nos damos muito bem. Isso é uma coisa boa, não ruim”, afirmou.

Em contraste com a postura enérgica e agressiva de seus comícios, Trump aproveitou o momento para elogiar a mulher, Melania, homenagear a sogra, que morreu recentemente, e chamar ao palco um apoiador assíduo fantasiado de muro. “Eu amo essa roupa”, disse, em referência ao terno marrom, estampado de blocos.

O empresário criticou também a possibilidade de votação por correio, uma de suas grandes fragilidades em 2020, e prometeu acabar com o modelo.

Mais em linha com o estilo do ex-presidente, Alex Pfeiffer, diretor da Make America Great Again Inc., comitê de financiamento de campanha de Trump, afirmou em nota que “todo dólar gasto pelos perdedores das primárias” poderia estar sendo aproveitado “para lutar contra Joe Biden”. “É hora de Nikki Haley, DeSantis e Vivek Ramaswamy encararem a realidade e parar de perderem tempo e dinheiro.”

DeSantis, por sua vez, pareceu aliviado ao se dirigir aos apoiadores, quando ficou claro que conseguiu alcançar o segundo lugar. Sua campanha havia apostado pesado em Iowa, e ficar atrás de Haley no estado seria um fracasso estrondoso. Ainda assim, a distância para Trump é um mal sinal para seu futuro nas primárias.

A projeção de vitória foi anunciada menos de uma hora após o início do caucus (reunião com hora marcada em que os presentes escolhem um candidato) no estado, antes de muitos dos participantes votarem, o que foi criticado pela campanha DeSantis como uma interferência no processo.

A população de Iowa —uma região conservadora, rural e religiosa no centro dos EUA— enfrentou uma sensação térmica que chegou a -40° C em algumas áreas para participar das reuniões. A previsão do tempo recalibrou as expectativas de uma participação expr essiva no caucus a favor de Trump, dono da base mais engajada.

Para evitar surpresas, o ex-presidente passou o dia atacando seus oponentes e motivando seus chamados “capitães de caucus” —voluntários responsáveis por fazer uma defesa do empresário nas reuniões.

Esses representantes, cerca de 2.000, receberam bonés brancos e dourados que, estampados com as palavras “Capitão do Caucus do Trump”, rapidamente se tornaram itens de desejo da base Maga (Make America Great Again, slogan do ex-presidente). A campanha pediu que cada um desses voluntários levasse ao menos dez pessoas para o caucus e fizesse ligações durante o dia convencendo conhecidos a participarem da votação.

Esta é a primeira vitória de Trump em Iowa em uma corrida disputada —em 2020, como incumbente, sua nomeação estava praticamente certa. Em 2016, ele perdeu para Ted Cruz no estado. Durante o dia, porém, o empresário afirmou, falsamente, que já venceu no estado duas vezes, e repetiu a mentira em seu discurso durante a noite. Ele até hoje não reconhece a derrota para Cruz.

O êxito nesta noite ainda representa para Trump a conquista de um eleitorado conservador e evangélico que desconfiava dele há oito anos.

Iowa tem um peso pequeno nas primárias republicanas, com apenas 40 dos mais de 2.000 delegados que definirão o candidato do partido na Convenção Nacional, no meio do ano. Mas o estado, onde há décadas acontece a largada da disputa, tem um peso simbólico para impulsionar ou derrubar candidaturas.

Essa era a esperança de Haley. A ex-governadora da Carolina do Sul chegou a aparecer em segundo lugar em pesquisas de intenção de voto, mas sabiamente evitou criar expectativas de que pudesse ter um desempenho melhor para não ter que lidar com um balde de água fria nesta segunda.

O terceiro lugar, nesse sentido, fica dentro do esperado, mas não deixa de ser uma oportunidade perdida. Otimistas com sua campanha contavam com um desempenho melhor em Iowa para impulsionar sua candidatura em New Hampshire na semana que vem, onde ela está muito mais próxima de Trump nas intenções de voto. Uma vitória no estado, cujo perfil do eleitorado é muito mais moderado e escolarizado, daria força para ela ter alguma chance na Carolina do Sul.

Com o resultado de Iowa nesta segunda, Trump sai na largada com 20 delegados, DeSantis, 8, e Haley, 7. Vivek obteve 2, mas saiu da corrida.

O QUE É CAUCUS? QUAL A DIFERENÇA PARA A PRIMÁRIA?

O caucus é uma reunião organizada pelos partidos em alguns estados, em geral em ginásios de escolas, igrejas e centros comunitários. Esses encontros têm hora marcada –em Iowa, eles começaram às 19h do horário local– e participam dele representantes das campanhas, que fazem uma defesa de seus candidatos.

O método pode ser voto secreto, como fizeram os republicanos nesta segunda, ou, como os democratas costumavam fazer em Iowa, formando grupos em uma sala.

Podem participar do caucus no estado apenas eleitores registrados como republicanos, mas esse registro pode ser feito na hora de se inscrever na reunião, o que permite que mesmo independentes e democratas votem.

Após ouvirem os representantes das campanhas (que podem ser o próprio candidato), os participantes do caucus escrevem seu voto em um papel e o entregam aos organizadores da reunião. Ao final, esses votos são lidos em voz alta, contabilizados e repassados ao comitê do partido.

A primária, por sua vez, é uma votação secreta organizada comumente pelas comissões eleitorais dos estados, não pelos partidos. São abertas seções eleitorais ao longo do dia, em que os eleitores votam em urnas, em um modelo tradicional.

QUEM PODE VOTAR NAS PRIMÁRIAS?

As regras variam de estado a estado. Em alguns, apenas os filiados a um partido podem votar –são as chamadas “primárias fechadas”. Em outros, qualquer um pode votar, exceto os filiados a outro partido. Em outros, ainda, não há nenhum impedimento sobre quem pode votar.

FERNANDA PERRIN / Folhapress

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