WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump culpou o que chamou de “linguagem inflamada” de Joe Biden e Kamala Harris pela nova aparente tentativa de assassinato sofrida no domingo (15), enquanto ele jogava golfe na Flórida.
“Ele acreditou na retórica de Biden e Harris, e agiu com base nisso”, disse o republicano durante entrevista à Fox News na manhã desta segunda-feira (16). “A retórica deles está fazendo com que atirem em mim, quando sou eu quem vai salvar o país, e eles são os que estão destruindo o país, tanto de dentro quanto de fora.”
“A retórica e as mentiras, exemplificadas pelas falsas declarações feitas pela camarada Kamala Harris durante o debate manipulado e altamente partidário da ABC, e todas as ações judiciais ridículas, especificamente planejadas para prejudicar o oponente político de Joe, e depois de Kamala, eu, levaram a política em nosso país a um novo nível de ódio, abuso e desconfiança”, postou Trump em sua rede social, a Truth, repetindo acusações sem provas de que os processos criminais contra ele são fruto de perseguição política.
“Por causa dessa retórica da esquerda comunista, as balas estão voando, e isso só vai piorar!”, completou.
Nesta segunda, a Casa Branca emitiu um comunicado dizendo que Biden conversou com Trump pelo telefone após o incidente do domingo. Durante a conversa, o presidente expressou seu alívio de que o ex-presidente esteja seguro, de acordo com a nota.
Em campanha para continuar na Presidência, os democratas acusam Trump de ser uma ameaça à democracia americana e às liberdades individuais. “Eles são a verdadeira ameaça”, rebateu o republicano nesta segunda.
O discurso é o mesmo adotado pelo empresário após a tentativa de assassinato sofrida em 13 de julho, durante um comício em Butler, na Pensilvânia. Na ocasião, Trump já havia culpado a retórica democrata pelo ataque.
A investigação, no entanto, não identificou ainda qual foi a motivação do atirador, Thomas Crooks, 20, para atirar contra o ex-presidente, que foi atingido por um tiro de raspão na orelha. Crooks foi morto por um sniper do Serviço Secreto. O FBI, a polícia federal americana, tampouco identificou se ele teria alguma ideologia.
Já o suspeito pelo aparente ataque neste domingo, Ryan Wesley Routh, 58, indiciado por dois crimes relacionados à posse de arma nesta segunda, tem uma ativa e contraditória atuação política.
Em seu perfil no X, ele disse ter votado em Trump em 2016 e em Biden em 2020 e vinha fazendo diversas críticas ao ex-presidente. Na corrida republicana, ele defendeu uma chapa formada por Vivek Ramaswamy e Nikki Haley. A conta foi removida. Ele também fez doações a uma organização que apoia candidatos democratas.
A principal bandeira de Routh vinha sendo, porém, a Guerra na Ucrânia. Ele chegou a ir ao país de Volodimir Zelenski para tentar lutar contra as tropas invasoras da Rússia de Vladimir Putin. Por esse motivo, apareceu em ao menos duas reportagens publicadas na imprensa americana no ano passado sobre o assunto.
O repórter do jornal The New York Times que o entrevistou afirmou que as declarações de Routh “pareceram ridículas” o homem falou sobre planos mirabolantes para recrutar ex-soldados afegãos para lutarem em defesa da Ucrânia. Trabalhador do setor de construção civil, Routh não tem experiência militar.
Trump tem afirmado durante a sua campanha que vai acabar com o conflito no Leste Europeu mesmo antes de ser eleito, alardeando uma suposta boa relação tanto com Putin quanto com Zelenski.
No entanto, há um forte temor entre europeus de que, se eleito, o republicano reduza o apoio americano a Kiev ou pressione por um acordo de paz que implique em perda de território ucraniano uma possibilidade que Kiev, até aqui, nega veementemente. Questionado no debate na última terça (10) se quer que a Ucrânia vença, Trump não respondeu.
Routh também tem uma longa ficha criminal. Em 2002, ele foi condenado por posse de uma arma de destruição em massa. O suspeito ainda foi acusado de uma variedade de outras infrações ao longo dos anos, como tributários e cheques sem fundos.
FERNANDA PERRIN / Folhapress