WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reúne-se nesta quarta-feira (12) com o primeiro-ministro da Irlanda, Micheál Martin, para um encontro anual entre as autoridades por ocasião do Dia de São Patrício, celebrado na segunda-feira (17).
O dia, que era para ser leve, começou com momentos apreensivos diante das tensões entre Estados Unidos e a Europa.
Na primeira parte da agenda com Martin, durante um encontro bilateral na Casa Branca, Trump defendeu as tarifas impostas à União Europeia, bloco do qual a Irlanda faz parte, e abordou o déficit com o país, dizendo que os irlandeses estão no grupo dos que “se aproveitam dos EUA”. Já os dois próximos compromissos transcorreram de forma tranquila.
Martin é o oitavo líder estrangeiro recebido na Casa Branca por Trump em seu segundo mandato -e também o primeiro a visitar o republicano depois da tensa reunião com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, no último dia 28.
A recepção pelo Dia de São Patrício, comemorado na próxima segunda-feira (17) em homenagem ao padroeiro da Irlanda, tornou-se uma tradição nos EUA a partir de 1953, no governo Dwight Eisenhower. Centenas de pessoas participaram da celebração neste ano.
Depois da reunião no Salão Oval, os líderes foram ao Congresso participar de um almoço e, no início da noite, Martin voltou à Casa Branca para uma nova recepção.
Pela manhã, Trump, embora não tenha usado nem de longe o mesmo tom agressivo que adotou com Zelenski, cutucou o irlandês.
“Nós realmente temos um déficit enorme com a Irlanda porque eles foram espertos. Eles tiraram nossas empresas farmacêuticas de presidentes que não sabiam o que estavam fazendo. E é uma pena que isso tenha acontecido”, afirmou o americano.
Como aconteceu com ucraniano, Trump deixou o encontro, que durou cerca de 35 minutos, aberto à imprensa. Na ocasião, ainda culpou governos anteriores por terem permitido a saída de empresas dos EUA, atraídas por taxas favoráveis dos irlandeses.
“Quando as empresas farmacêuticas começaram a ir para a Irlanda, eu teria dito que tudo bem se você quiser ir para a Irlanda, acho isso ótimo, mas se você quiser vender algo nos EUA, vou colocar uma tarifa de 200% em você, então você nunca vai conseguir vender nada nos EUA”, disse. “Tenho grande respeito pela Irlanda e pelo que fizeram. E eles deveriam ter feito exatamente o que fizeram, mas os EUA não deveriam ter permitido que isso acontecesse.”
O premiê irlandês respondeu, dizendo que há espaço para acordo e que as empresas americanas estão “indo bem na Irlanda”.
“Acho que há espaço para essas empresas crescerem na América e muitas delas, aliás, já anunciaram investimentos bastante significativos em manufatura agora [nos EUA]”, acrescentou o taoiseach.
Trump também afirmou que a União Europeia abusa dos EUA e que ele não permitirá que isso aconteça, dizendo que deve responder a tarifas retaliatórias do bloco.
A economia da Irlanda é fortemente dependente da relação com os EUA e será afetada pelas tarifas impostas por Trump à União Europeia, da qual o país faz parte. Em 2024, a Irlanda exportou cerca de US$ 78 bilhões aos americanos, enquanto importou US$ 22 bilhões em bens.
Antes de conversar com o presidente americano, o premiê irlandês foi recebido em um café da manhã com o vice-presidente J. D. Vance.
À tarde, durante almoço comemorativo no Congresso, que teve partcipação e discurso de parlamentares, Martin fez questão de exaltar as relações com os EUA e Trump. “O verde da nossa nação foi entrelaçado no rico tecido dos Estados Unidos por quase 32 milhões de irlandeses-americanos”, disse o premiê.
Martin referiu-se a Trump como “amigo da Irlanda” e o convidou para visitar o país ao menos duas vezes ao longo do dia. O primeiro-ministro disse que os EUA têm sido um local de acolhimento para o povo irlandês.
A política imigratória de Trump, que busca imigrantes indocumentados, inclusive, irlandeses, ficou de fora das conversas do dia.
No final da tarde, em recepção na Casa Branca, Martin voltou a ressaltar que milhares de irlandeses fugiram para os EUA para fugir da fome condições precárias e espera que os países mantenham a parceria.
Elogiou ontem as negociações de Trump pelo fim das guerras na Faixa de Gaza e na Ucrânia. “Não há nada mais nobre do que a busca pela paz”, afirmou.
Segundo jornalistas, alguns partidos políticos boicotaram as celebrações do Dia de São Patrício na Casa Branca devido à posição de Trump sobre palestinos na Faixa de Gaza, entre eles Sinn Féin, o Partido Social Democrata e Trabalhista (SDLP) e a Aliança. Mais cedo, Trump disse que não sabia do boicote e evitou comentar. O premiê também não quis tratar do assunto.
Na recepção, Martin ainda aproveitou para dizer que espera poder manter parcerias econômicas com os Estados Unidos com a presença de empresas na Irlanda.
Trump também teceu elogios a Martin, já durante um ambiente mais descontraído na Casa Branca.
Quando questionado sobre os boicotes, Trump respondeu: “Eu não ouvi isso, realmente não ouvi isso.”
JULIA CHAIB / Folhapress