NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – “Não, não é ‘se Donald Trump vencer’. Ele vai vencer. Deixa eu ver você escrever isso”, disse Janette, 62 ela não quis dizer o sobrenome.
Irritada, ela não admitiu ouvir a pergunta da reportagem sobre que espera de diferente de um eventual segundo mandato do republicano, em comparação ao primeiro. Para ela, não há cenário possível de derrota.
Janette é uma das milhares de pessoas que se reuniu neste domingo (27) no icônico Madison Square Garden, em Nova York, para um dos últimos comícios de Trump antes da eleição, em 5 de novembro.
Fazer um evento na arena, que se autointitula a mais famosa do mundo, era um sonho do ex-presidente. De madrugada, já havia pessoas na fila. O local, com capacidade para quase 20 mil pessoas, estava praticamente lotado.
Apesar das pesquisas de intenção de voto mostrarem Trump e Kamala Harris empatados, os apoiadores do ex-presidente estão confiantes na vitória. Como o candidato, muitos dizem, sem provas, que a única forma de ele ser derrotado é o se o lado adversário trapacear.
Eles também estão confiantes que, se reeleito, Trump será um presidente mais forte do que em sei primeiro mandato.
“Acho que ele vai ser mais agressivo. Ele sabe o que esperar agora, tem experiência e uma ideia melhor do que fazer. E não tem a crise da Covid”, afirma à Folha Michael DePasquale, 40, de Long Island.
O latino Christian Vargas, 23, acrescenta que o Congresso agora é mais favorável à Trump do que no governo anterior, o que facilitaria a implementação de sua agenda. A composição da Câmara e do Senado será renovada em 5 de novembro, mas pesquisas indicam que os republicanos têm boas chances de dominar o Legislativo. Mais que isso, aliados do ex-presidente ganharam mais espaço e poder dentro do partido.
Stacey, 23, veio com a mãe para ver Trump neste domingo. A jovem engenheira acredita que o republicano fará escolhas melhores de secretários para seu governo. “Vai ser uma representação melhor do nosso movimento”, diz.
Muitos integrantes do primeiro governo Trump romperam com o republicano. O núcleo que o cerca agora é visto como mais restrito, ideológico e leal. Soma-se a isso a triagem e seleção de potenciais funcionários para um novo governo sendo feita pela fundação conservadora Heritage.
Por isso, a aposta é que Trump consiga fazer um governo mais à sua imagem se reeleito, diferentemente do primeiro, quando ainda não tinha experiência no Executivo.
Seu chefe de gabinete mais duradouro, John Kelly, afirmou na última semana que precisava constantemente explicar coisas básicas sobre a Constituição ao então presidente, a quem classificou de fascista. Outros ex-integrantes do governo que se viraram contra o empresário dizem que criavam táticas para não dar seguimento às ordens mais descabidas do empresário.
“Acho perigoso quando você fala que um candidato é uma ameaça ou inimigo da democracia. Você coloca um alvo nas costas dele, é irresponsável e imoral dizer coisas do tipo”, responde Michael DeCurtis, 38, ao ser questionado sobre o rótulo de fascismo.
Para ele, Trump significa uma economia melhor e o fim das guerras no Oriente Médio e no Leste Europeu. DeCurtis diz que os democratas fracassaram, citando a si mesmo como exemplo: nos últimos quatro anos, perdeu o emprego como segurança na Disney na Flórida, e hoje trabalha com faxina em Nova York.
As brasileiras Magna Trovato, 53, e Alessandra, 62 (ela não quis dizer o sobrenome), se conheceram na fila para o comício. Ambas dizem que a economia será muito melhor se o empresário voltar à Presidência.
“Quando ele era presidente não tinha guerras, inflação estava baixa, combustível estava barato, ele cortou imposto. Comprei minha casa em dinheiro”, diz Alessandra, que mora na Filadélfia há 20 anos e trabalha como operadora de turismo. “Nunca guardei tanto dinheiro na vida como nos anos Trump.”
Apesar de imigrantes, as duas não se incomodam com os ataques do ex-presidente à categoria. Elas afirmam que nunca foram mal tratadas por outros apoiadores, e que são a favor de deportação daqueles que entraram no país de modo ilegal.
“Cheguei aqui legalmente, gastei dinheiro, paguei advogado. Agora chega essa gente e ganha tudo, ainda reclamam, e tem direito de ficar aqui? De jeito nenhum, voltem para casa”, afirma Alessandra.
“É injusto quando americanos estão pagando e pessoas estão cortando a fila”, disse de modo semelhante Stacey.
Durante o comício, imigrantes foram alvo de ataques em diversos discursos de convidados. Um comediante fez piada por exemplo com “latinos fazerem muitos filhos”.
A previsão era de que Trump falasse por volta das 18h (horário de Brasília). Elon Musk também está na programação.
Em seu discurso, o comediante Tony Hinchcliffe chamou Porto Rico de uma “ilha de lixo” flutuando no oceano. Depois disso, o cantor Bad Bunny, de Porto Rico, um dos artistas mais populares da atualidade, endossou Kamala Harris.
A vice-presidente também foi um alvo frequente, como esperado. Além dela, também o foi Hillary Clinton, que comparou o comício deste domingo a um pró nazismo realizado no mesmo local em 1939.
Uma mulher com mais de 60 anos que não quis dizer o nome nem o estado de onde vem, dizendo ser apenas do Meio Oeste, repetiu à reportagens acusações já desmentidas de que o vice na chapa democrata, Tim Walz, abusou sexualmente de estudantes.
Ao ouvir da reportagem que a notícia é falsa, ela diz que tem vídeos e fotos que comprovam autoridades do governo disseram que o material foi fabricado por atores russos.
“Não, é verdade. Você precisa pesquisar melhor, eu não vou fazer a sua pesquisa por você”, respondeu ela irritada.
O temor do uso de inteligência artificial para interferir na eleição cresce a medida que o pleito se aproxima. Especialistas acreditam que áudios, fotos e vídeos fabricados podem ser usados para gerar confusão entre eleitores.
FERNANDA PERRIN / Folhapress