SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A literatura latino-americana inspirou a Trupe Ave Lola, de Curitiba, na criação do espetáculo “Cão Vadio”, em cartaz no Teatro Estúdio, no centro de São Paulo.
“Fomos ler [Jorge Luis] Borges, [Mario Vargas] Llosa, [Gabriel] García Márquez”, diz a dramaturga e diretora Ana Rosa Genari Tezza em documentário sobre o processo de feitura do espetáculo.
Cena de ‘Cão Vadio”, da Trupe Ave Lola, de Curitiba (PR) Maringas Maciel/Divulgação A imagem mostra dois performers sentados no chão, de costas um para o outro. O homem à esquerda tem cabelo desgrenhado e usa uma jaqueta, com uma pequena gaiola em sua cabeça. Ele tem maquiagem facial que inclui um bigode e um sorriso pintado. A mulher à direita tem cabelo cacheado e usa uma blusa de rede, com maquiagem que destaca seus olhos e lábios. Notícias de jornais, as obras do artista visual Antonio Berni e trechos da obra de William Shakespeare e de Anton Tchékhov também fazem parte dessa costura, que adota o formato de cabaré para contar crônicas sobre momentos das vidas dos personagens.
São oito atores e dois músicos em cena. Eles apresentam personagens que vivem às margens da sociedade e lidam com questões como migração, violência e intolerância, todas atuais, desafiadoras e angustiantes.
“O lugar do teatro flutua entre uma reflexão profunda e um coração pulsante”, diz Ana Rosa. O desejo é que o público “decole” com a trupe, em um contexto periférico e poético proposto por “Cão Vadio”.
A montagem estreou em 2021 na Tenda Ave Lola, um teatro a céu aberto em um bosque de Curitiba, que marcou a retomada das artes cênicas na cidade após o período de restrição provocado pela pandemia de Covid-19. Já teve temporadas também no Rio de Janeiro.
Em São Paulo, o espetáculo encenado na borda do mundo encontrou o cenário ideal no teatro recém-inaugurado em um antigo galpão abandonado nos arredores do terminal Princesa Isabel, nos Campos Elíseos, em uma região marcada pelo estigma da cracolândia.
Caminhar, à noite, em direção ao Teatro Estúdio, em meio à sujeira e ao abandono do centro, é um ato concreto de contato com a marginalização de uma região. Ao mesmo tempo, a ocupação artística de espaços esquecidos traz esperança e beleza, como na encenação.
A borda do mundo é, segundo a descrição do grupo, um lugar para onde alguns fogem, outros são levados à força ou carregados pelo vento do deserto. Um espaço de desolação em que os personagens têm encontros e enfrentam desafios.
A manipulação de marionetes e a música ao vivo, executada pelos multi-instrumentistas Arthur Jaime e Breno Monte Serrat, são destaques da peça, assim como a presença de uma escada que representa portais, torres, abrigos e esconderijos.
“Cão Vadio” é a quinta montagem da Trupe Ave Lola, companhia com 20 integrantes liderada por mulheres. O grupo, criado em 2010, tem uma sede no centro de Curitiba, onde mantém um teatro de 54 lugares que recebe montagens nacionais e internacionais, festivais e mostras diversas.
O grupo já montou os espetáculos “O Malefício da Mariposa”, “Tchekhov”, “Nuon”, “Manaós – Uma Saga de Luz e Sombra” e, depois de “Cão Vadio”, “O Vira-Lata”, em 2022.
Cão Vadio
Quando: Qui., sex. e sáb., às 20h, e dom., às 18h
Onde: Teatro Estúdio – r. Conselheiro Nébias, 891, Campos Elíseos, São Paulo
Preço: Pague quanto quiser
Classificação: 16 anos
Autoria: Ana Rosa Genari Tezza
Elenco: Ane Adade, Cesar Matheus e Eduardo Giacomini
Direção: Ana Rosa Genari Tezza
CRISTINA CAMARGO / Folhapress