Tupinambás reclamam de falta de apoio do governo em visita ao manto no Rio

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Após ter sido adiado, o encontro dos indígenas com o manto tupinambá enfim ocorreu no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, mas em termos diferentes daqueles que tinham sido combinados pelo grupo de trabalho de repatriação com instituições ligadas ao governo federal.

Segundo lideranças tupinambás, as ofertas de transporte, hospedagem e alimentação não corresponderam ao que foi discutido nos últimos meses em reuniões registradas em documentos do Ministério dos Povos Indígenas, o MPI.

Os materiais foram obtidos pela Folha de S.Paulo, em parceria com a organização Fiquem Sabendo, especializada em transparência pública, por meio da Lei de Acesso à Informação.

O MPI afirma que fez diversas articulações para garantir o apoio aos indígenas. No início das discussões, o ministério afirmou que pagaria passagens aéreas para alguns anciãos, mas a oferta foi revogada em reuniões seguintes, quando o MPI também disse que não pagaria ônibus para os tupinambás, que viajaram da Bahia até o Rio, e repassou a demanda ao governo da Bahia.

O governo baiano teria prometido oferecer 15 ônibus para os indígenas, mas eles dizem ter comprado as próprias passagens com ajuda de doações. Procurado desde quarta-feira por email, o governo não respondeu aos questionamentos da reportagem até a publicação deste texto.

Segundo o MPI, as lideranças indígenas tinham dito que conseguiram parceiros que disponibilizariam os ônibus, motivo pelo qual o transporte não era mais uma preocupação para a pasta.

Cerca de 200 indígenas chegaram ao Rio no sábado e ficaram alojados na escola municipal Nilo Peçanha até domingo. Nesses dois dias, eles não puderam iniciar os rituais sagrados de celebração, como tinham acordado, devido à impossibilidade de utilização de fogo e incensos no local.

Na segunda, eles foram realocados no circo Marcos Frota, nas imediações do parque Quinta da Boa Vista, onde fica o Museu Nacional. O espaço foi obtido por meio de articulação dos ministérios dos Povos Indígenas, Educação e Cultura. As barracas e colchões foram trazidas da Bahia pelos próprios tupinambás.

Os indígenas tiveram que realizar uma vaquinha para pagar as refeições no domingo, em razão de atrasos na entrega da alimentação que havia sido combinada com o governo federal e a Prefeitura do Rio de Janeiro. Foram necessários ainda pedidos de doações para garantir outras refeições. O MPI, por outro lado, diz que contornou a situação e contratou outro parceiro para fornecer a alimentação.

Os indígenas dizem ter ficado sem café da manhã na terça-feira, dia em que o grupo encontrou pela primeira vez o manto durante uma sessão fechada. A reportagem participou do evento a convite de lideranças tupinambás. A refeição só foi obtida após articulação própria dos próprios tupinambás.

A esses problemas se somam a recepção frustrada da chegada do manto ao Brasil, em junho, ocasião em que os indígenas não puderam participar do trâmite, e ao adiamento da cerimônia por problemas logísticos.

INSATISFAÇÃO COM O GOVERNO

Não é de hoje que os indígenas manifestam insatisfação com a condução da pauta indigenista pelo governo federal. Depois de o cacique Raoni Metuktire subir a rampa do palácio do Planalto, em Brasília, em ato simbólico durante a posse do presidente Lula, a política tomou um rumo diferente do que eles esperavam.

Em maio do ano passado, o governo desidratou as pastas de Marina Silva (Meio Ambiente e Mudanças Climáticas) e Sônia Guajajara (Povos Indígenas), o que gerou uma onda de protesto.

No ano passado, o governo descumpriu a promessa de demarcar seis terras indígenas e demarcou apenas duas. Procurada pela Folha de S.Paulo na época, a Casa Civil afirmou que, “por cautela”, optou por “agir com maior segurança social e jurídica”.

JORGE ABREU E ISABEL SETA / Folhapress

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