Turista anda a pé trecho de rio em Alter do Chão, que sofre com seca severa pelo 2º ano seguido

ALTER DO CHÃO, PA (FOLHAPRESS) – Pelo segundo ano consecutivo, a seca extrema que atinge a região Norte afeta o balneário de Alter do Chão, o “Caribe da Amazônia”, distrito de Santarém, no oeste do Pará.

O nível do rio Tapajós está em 91 centímetros, o menor desde 1995, quando começou a medição. É um cenário ainda pior que o de 2010 —ano da seca considerada a mais drástica até então—, quando o nível ficou em 2 metros, segundo a Defesa Civil do município.

Por causa da estiagem severa, catraias (canoas) ficam estacionadas enquanto turistas atravessavam a pé o canal que liga a vila à Ilha do Amor. Com cerca de 12 mil habitantes, Alter do Chão depende do turismo como principal atividade econômica.

No lago do centro de apoio ao turista, o manancial secou provocando a mortandade de peixes e tartarugas, entre outros animais.

Na última segunda-feira (23), a ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico) aprovou a declaração de situação crítica de escassez hídrica no trecho baixo do rio Tapajós, entre Itaituba e Santarém.

Segundo o líder do povo Borari de Alter do Chão, cacique Rosivaldo Maduro, a seca já causa impacto direto na economia da vila balneária, onde ao menos cem catraieiros (barqueiros) já suspenderam as atividades.

“A seca desempregou mais de cem pessoas, porque tem cem catraias cadastradas e tem os donos e as pessoas que trabalham para eles. Essas pessoas estão sem trabalhar”, disse o cacique.

Joeli de Sousa, que trabalha em uma empresa de saneamento em Alter do Chão, afirma que nunca viu uma seca tão severa.

“Além das causas naturais, porque estamos no verão amazônico, essa seca também é provocada por ação humana, porque as pessoas desmatam a floresta e ficam assoreando e contaminando os leitos dos nossos mananciais”, diz.

Segundo o presidente da Associação de Turismo Fluvial de Alter do Chão (Atufa), Elton Charles, nos últimos dois anos houve vazante extrema, que neste ano se antecipou.

“A gente tenta se adaptar a essa situação com a ajuda das comunidades dos rios Tapajós, Arapiuns e Amazonas. A gente acaba perdendo alguns roteiros, mas sempre com adaptações, para que o cliente tenha um aproveitamento no passeio.”

Para o piloto de lancha Valdison de Sousa, os mais prejudicados são os catraieiros. “Como em Alter do Chão dependemos do turismo, já estamos bem prejudicados”, disse.

O comércio também está sentindo os impactos da seca. “Muitos turistas pensam que não tem praia boa para banho devido à seca, mas ainda dá para frequentar”, afirma o comerciante Erinaldo Santana.

Em 2023, a Folha já tinha revelado que os efeitos da estiagem que afetava o sul amazônico já havia alterado a paisagem de pontos turísticos como Alter do Chão. Na época, o rio Tapajós tinha altura de 1,58 m.

A região tem sofrido os impactos da estiagem e da piora na qualidade do ar, situação agravada por incêndios.

O governador Helder Barbalho (MDB) decretou na semana passada situação de emergência no estado com o intuito de mitigar os efeitos da estiagem nas regiões do Tapajós e baixo Amazonas.

O prefeito de Santarém, Nélio Aguiar (União Brasil), também decretou situação de emergência no município, o que autoriza a prefeitura a mobilizar todos os órgãos municipais e voluntários, além de realizar campanhas de arrecadação de recursos.

O decreto também dispensa a necessidade de licitação em contratos de aquisição de bens para atendimento da situação emergencial ou calamitosa.

MANOEL CARDOSO / Folhapress

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