Ucrânia recua, mas tenta atacar antes de conversa entre Putin e Trump

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Poucas horas antes de Donald Trump e Vladimir Putin discutirem os termos para um eventual cessar-fogo na Guerra da Ucrânia, as forças de Kiev admitiram um raro recuo no leste do país, com unidades deixando a linha de frente na região de Donetsk.

A informação foi dada nesta terça-feira (18) no Facebook pelo comandante da região, general Serhii Naiev. “Isso vai permitir não apenas salvar nossos soldados, mas também melhorar nossas defesas. A Rússia está sofrendo perdas, e nós podemos agir de forma mais efetiva”, escreveu.

A ação vem após o fracasso da Ucrânia em manter o território que havia ocupado na região meridional russa de Kursk, que serviria de carta para as negociações futuras para o fim do conflito.

Na semana passada, os ucranianos começaram a ser cercados pelos russos e tiveram de recuar para uma exígua faixa de fronteira, onde estão sendo atacados. A debacle em Kursk pode ter mais repercussões: também nesta terça o deputado Oleksii Goncharenko disse que o comandante das Forças Armadas, Oleskii Sirskii, “deve ser removido do posto”.

Por outro lado, segundo o Ministério da Defesa russo, houve uma tentativa ucraniana de realizar uma incursão na região vizinha a Kursk, Belgorodo, que a pasta disse ter sido repelida. “Ela visava criar um clima negativo para nas negociações”, disse o órgão.

Blogueiros militares russos e ucranianos, por ora, concordam com a avaliação. Kiev não se pronunciou.

Naiev não disse em qual setor de Donetsk houve o recuo, mas tudo indica que foi na direção de Velika Novosilka, cidade estratégica tomada neste ano pelos russos que faz a junção entre a região e as vizinhas Zaporíjia e Dnipopetrovsk.

Em Zaporíjia, no sul, os russos conseguiram avançar na primeira linha de defesa da Ucrânia pela primeira vez desde 2022, aproximando-se da capital regional. Ela é, ao lado de Donetsk, Lugansk e Kherson, uma das regiões anexadas por Putin que ainda não foram totalmente conquistadas.

Lá fica a usina nuclear homônima, a maior da Europa, que esteve no cardápio a ser discutido pelos presidentes russo e americano.

Mas ela não é o tema mais importante. Trump já sinalizou que o fatiamento da Ucrânia é inevitável, e hoje Putin tem 20% do território vizinho. Também concorda com o veto definitivo à entrada de Kiev na aliança militar ocidental Otan, o “casus belli” principal do Kremlin em 2022.

A Europa assiste a tudo à certa distância. Deve ser chamada à mesa para debater a questão controversa das garantias de segurança a Kiev para a manutenção da paz. Uma força multinacional vem sendo sugerida, mas Putin a rejeita.

Trump também vai precisar dos europeus para fazer o levantamento gradual das sanções à Rússia, algo que já disse ser a favor. Não é um processo rápido nem fácil, mas já anima o Kremlin.

Também nesta terça, o chefe do fundo soberano russo, Kirill Dmitriev, afirmou que o país está pronto para retomar uma agenda de negócios com os EUA e com a União Europeia quando o conflito acabar -ou seja, com o fim das sanções.

Conhecido como o “czar dos investimentos” da Rússia, Dmitriev tem participado de todas as rodadas de negociação direta entre americanos e russos, iniciadas em Riad, na Arábia Saudita, há um mês.

Ele também jogou charme para Elon Musk, o bilionário transformado em braço-direito por Trump. Elogiou o trabalho do empresário na SpaceX e sua ideia de ir a Marte. “Eu acho que sem dúvida haverá uma discussão com Musk [sobre cooperação russa na viagem ao planeta vermelho] no futuro próximo”, disse, num fórum em Moscou.

No mesmo evento, Putin foi um pouco menos amistoso. Disse que as empresas ocidentais que “bateram a porta de forma desafiadora” quando deixaram Rússia não terão tratamento privilegiado para voltar ou serão permitidas a recomprar negócios por pouco dinheiro.

IGOR GIELOW / Folhapress

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