SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Uefa, entidade que dirige o futebol europeu, baniu nesta sexta (5) o zagueiro turco Merih Demiral por dois jogos na Eurocopa, deixando o herói do time no torneio fora das quartas de final contra a Holanda e, se a equipe passar, da semifinal contra Inglaterra ou Suíça.
Demiral havia celebrado o segundo de seus dois gols contra a Áustria na terça (2) com uma saudação fascista aludindo, com as mãos, à cabeça de um logo símbolo do grupo extremista turco Lobos Cinzentos.
A entidade também decidiu banir o atacante inglês Jude Bellingham por um jogo por ter feito um gesto obsceno após o primeiro gol da virada por 2 a 1 sobre a Eslováquia, no domingo (30), mas comutou a pena para uma multa de 30 mil (R$ 180 mil) e ele poderá jogar as quartas no sábado contra os suíços.
O caso de Demiral tem gerado bastante polêmica. Nesta sexta, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, saiu em defesa do jogador o partido político associado ao Lobos Cinzentos é aliado seu no Parlamento do país.
“Alguém pergunta por que a camisa da seleção alemã tem uma águia, ou por que a francesa tem um galo? Merih (Demiral) demonstrou sua excitação com aquele gesto”, afirmou ele num voo a repórteres. O líder decidiu que o episódio o motivou a estar no estádio Olímpico de Berlim para ver o jogo contra a Holanda no sábado (6).
Demiral disse ter homenageado seu país na hora do gol. O Lobos Cinzentos, que teve o homem que atirou contra o papa João Paulo 2º em 1981 nas suas fileiras, além de uma série de atentados e crimes atribuídos a seus membros, é legal e ligado a um partido político na Turquia.
Na Alemanha, tem de 18 mil a 20 mil seguidores, o que o torna a segunda maior agremiação de extrema direita, atrás do AfD (Alternativa para a Alemanha). Isso decorre da grande presença de turcos, 1,5 milhão dos 83 milhões de habitantes do país europeu, além de 1,4 milhão de descendentes de pessoas originárias da Turquia.
Nos vizinhos, como Áustria e França, o Lobos Cinzentos é banido da vida pública, algo debatido há anos no Parlamento alemão.
Os embaixadores alemão na Turquia e turco na Alemanha foram convocados pelas chancelarias locais para se explicar, e a ministra do Interior alemã, Nancy Faeser, disse que “os símbolos do extremismo de direita turcos não têm lugar nos nossos estádios” no torneio.
Na Turquia, restrições ocidentais são imediatamente associadas a preconceito religioso contra o Islã, e Erdogan é um líder ultraconservador que faz uso desses sentimentos. Ele busca também independência, com boa relação com Vladimir Putin apesar de ser integrante da Otan, a aliança militar ocidental que apoia a Ucrânia contra a invasão russa.
O caso de Demiral foi o mais grave, mas não o único nesta Euro. Torcedores da Romênia defenderam grupos de ultras, torcedores fanáticos associados à extrema direita, e trouxeram uma bandeira de uma área anexada pelos russos na Ucrânia durante um jogo contra o país invadido.
Na Copa de 2018, a Fifa multou a Suíça após os jogadores de origem kosovar fazerem o símbolo da águia do país em um jogo contra a Sérvia, país de onde Kosovo tornou-se independente em 2008.
IGOR GIELOW / Folhapress