RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O capitão Emerson Ribeiro, 36, do Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Sul, viajou com a equipe durante dois dias por terra até chegar a Mato Grosso para combater os incêndios no estado. Segundo ele, o trabalho é uma maneira de retribuir o apoio que os bombeiros gaúchos receberam dos mato-grossenses durante as enchentes em maio deste ano.
Cerca de 6.600 profissionais dessa categoria atuam na linha de frente da luta contra as queimadas, segundo a Ligabom (Conselho Nacional dos Corpos de Bombeiros Militares do Brasil), um número que representa 7,7% dos 85 mil bombeiros em todo o país.
A entidade registrou 182 mil ocorrências de incêndios até agora em 2024, um aumento de 48% na comparação com todo o ano passado.
Ribeiro coordena uma força-tarefa que conta com nove pessoas, além de quatro viaturas. Eles foram o terceiro grupo de bombeiros do Rio Grande do Sul a se deslocar para Mato Grosso. A equipe, que chegou há cerca de dez dias, deve permanecer um mês trabalhando no combate ao fogo no estado.
Em campo, eles enfrentam calor extremo e baixa umidade, com rotinas de trabalho que permitem poucas horas de descanso. A equipe se aloja em um espaço que tenha alguma estrutura de água e saneamento, como fazendas.
Somado a isso, eles estão em uma região de mata densa fechada e altitude elevada, o que, de acordo com Ribeiro, põe toda a gestão à prova.
“Nosso status operacional é prontidão eterna, durante 30 dias”, diz. “Por ser o chefe, tenho que me certificar de que, enquanto uma equipe está trabalhando, a outra tenha um descanso, que se hidrate e alimente, porque logo em seguida essa equipe vai render [a outra].”
Os salários de bombeiros no Brasil variam de acordo com o estado. No último concurso para a corporação em Goiás, em 2022, o menor salário foi de R$ 6.353,13, para soldados combatentes. Já no Rio Grande do Sul, o último ocorreu em 2017 e teve remuneração inicial de R$ 3.760,54.
Quando estão fora do estado onde atuam, eles também têm direito a diárias, nas quais a corporação paga por alimento e hospedagem dos servidores.
Apesar de os incêndios pelo país e as chuvas no Sul serem de naturezas diferentes, a articulação entre corpos de bombeiros segue um protocolo parecido. Na época, o capitão Emerson Ribeiro ajudou a coordenar o planejamento e as operações da corporação.
Em 2023, pouco antes das enchentes no Rio Grande do Sul, a Ligabom criou uma diretriz de desastres. O objetivo era organizar os procedimentos de todos os corpos de bombeiros para responder ao aumento de eventos extremos devido às mudanças climáticas.
“O Brasil está vivendo um novo normal. Uma série de eventos que aconteciam a cada dez anos, com uma determinada força, agora ocorrem a cada cinco anos com uma força duas vezes maior”, afirma Ribeiro.
A resposta aos incêndios organizada por diferentes estados é coordenada pela Ligabom, presidida por Washington Luiz Vaz Júnior, coronel e comandante-geral do Corpo de Bombeiros de Goiás.
Para combater os focos de agora, a corporação coordena três gabinetes de crise: um sediado em Goiânia, por ser o corpo de bombeiros do presidente, outro na região do Pantanal, que envolve os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, e um terceiro na Amazônia Legal. A articulação também conta com apoio do Ministério da Justiça.
Segundo o coronel, o gabinete identifica a necessidade de recursos físicos e humanos em um determinado estado mais afetado pelas queimadas. A partir disso, eles entram em contato com os corpos de bombeiros de locais menos afetados como os do Nordeste, por exemplo.
“No Rio Grande do Sul, tínhamos um estado [da federação] deficitário e 26 equilibrados. Com os incêndios e a crise hídrica, praticamente todos os estados passam a sofrer com isso conjuntamente. Começamos a buscar outros bombeiros nos locais mais aliviados”, diz ele.
Vaz afirma que, em eventos extremos, o número de servidores sempre será insuficiente para o aumento de demanda. Por isso, em Goiás, as corporações têm reduzido o quadro administrativo para aumentar o operacional, de bombeiros na linha de frente.
Eles substituem, por exemplo, profissionais em guaritas que controlam a entrada nos galpões de corpos de bombeiros por portas automatizadas.
Apesar dos esforços na categoria, 13 boletins divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente indicam que a escalada de fogo ocorreu em ritmo maior do que o aumento de recursos para combate aos incêndios feito pelos governos federal, estaduais e municipais, como mostrou a Folha. Isso inclui a alocação de brigadistas, bombeiros e recursos físicos, como aeronaves.
LUANY GALDEANO / Folhapress