SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Anton Tchékhov, quem diria, foi parar em Botafogo. É o que propõe, com humor e licença poética, a peça “Um Jardim para Tchékhov”, em cartaz até o dia 8 de dezembro no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), em São Paulo.
O espetáculo narra episódios de um período decadente da atriz Alma Duran -vivida por Maria Padilha-, uma ex-diva teatral que está desempregada há três anos e vai morar com a filha médica e o genro policial.
É a capacidade de seguir sonhando, apesar dos tempos difíceis, que possibilita o encontro entre a atriz que planeja voltar aos palcos e o dramaturgo russo –ou uma versão dele no calor do Rio de Janeiro. O escritor é interpretado por Leonardo Medeiros.
Alma quer montar “O Jardim das Cerejeiras”, última peça escrita por Tchékhov e, mesmo diante das evidências de que a vida artística não está nada fácil para ela, segue em frente.
A peça brinca com os contrastes entre realidade e ficção, comédia e drama, passado e presente, Brasil e Rússia.
“Quem já foi à Rússia diz que o temperamento tem a ver com o nosso, com a nossa passionalidade. São dois países continentais, então a peça tem esse jogo de aproximação e distanciamento que é muito interessante, muito teatral”, afirma o dramaturgo Pedro Brício.
O espetáculo é dirigido por Georgette Fadel e já passou por Belo Horizonte e Rio de Janeiro antes da temporada em São Paulo.
Além de “O Jardim das Cerejeiras”, a peça cita outros textos de Tchékhov relacionados à preocupação ecológica, em um olhar pioneiro do russo para o assunto que hoje é bastante presente nas agendas governamentais e nos noticiários.
Alma planta cerejeiras em um jardim do condomínio residencial como se cultivasse a esperança de dias melhores. A atriz decadente lida com o fracasso sem perder o olhar poético para a vida.
Fadel destaca o humor na obra do autor russo e explica que é essa vertente que a equipe decidiu ressaltar.
“O Jardim das Cerejeiras, por exemplo, é uma comédia, mas ficou conhecida na montagem do diretor russo Constantin Stanislavski, que insistiu em encená-la como um drama, o que conferiu a ela essa pecha”.
Foi de Maria Padilha a ideia de uma encenação em torno de Tchékhov. Em 1999 ela interpretou Macha, a irmã do meio, na peça “As Três Irmãs”, em sua primeira experiência com o autor russo, dirigida por Enrique Diaz. Foi o início de um caso de amor pela vida e obra do dramaturgo.
“Desde então, sonhava em montar uma peça dele, mas é algo grandioso, com muitos personagens e ficaria inviável financeiramente”, explica.
A partir de um convite da atriz, Brício criou então uma história original em que Padilha consegue reencontrar Tchékhov.
“Alma simboliza a arte e o teatro como um lugar de respiro. Ela está entre o lírico e o humor, o drama e a comédia, algo que me dá muito prazer em representar”, conclui a atriz.
Grandes artistas como Marília Pêra, Fernanda Montenegro, Nathalia Timberg, Renata Sorrah e Marieta Severo inspiram Padilha no espetáculo.
Um Jardim para Tchékhov
Quando Qui. a sex às 19h; Sáb. e dom. às 17h
Onde Centro Cultural Banco do Brasil, R. Álvares Penteado, 112, São Paulo
Preço R$30 (inteira) | R$15 (meia)
Autoria Pedro Brício
Elenco Maria Padilha, Leonardo Medeiros e Erom Cordeiro
Direção Georgette Fadel
CRISTINA CAMARGO / Folhapress