PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – Considerada pelo governo do Rio Grande do Sul o maior desastre ambiental da história do estado, a enchente no Vale do Taquari completa um mês nesta quarta (4) com as primeiras medidas de reconstrução em curso -como escolas, hospitais e a construção das primeiras casas provisórias-, mas com oito vítimas ainda a serem localizadas. Até o momento, foram 50 mortes confirmadas.
Os desaparecidos se dividem entre cinco municípios. O último corpo encontrado em meio a destroços, com o auxílio de cães farejadores, foi encontrado em 24 de setembro, em Roca Sales.
As buscas agora mudam a sua dinâmica. Em vez de escombros de residências, os bombeiros trabalham principalmente em áreas próximas ao leito do rio Taquari que estavam submersas e que vão se revelando ao longo dos dias conforme a chuva diminui e o rio volta ao nível normal.
Conforme o coronel José Carlos Sallet, subcomandante do Corpo de Bombeiros do RS e coordenador das buscas, 52 bombeiros por dia trabalham em áreas até 500 metros distantes do leito do Taquari em áreas de interesse mapeadas por cães farejadores.
“Como o rio [Taquari] já baixou bastante, ele vai revelando mais áreas que antes estavam inacessíveis para as buscas. Mas ainda pode haver metros de sedimentos acumulados sobre os corpos, então nós identificamos as áreas em que os cães manifestaram interesse e, com a ajuda de equipamentos, escavamos estes locais”, explica.
Conforme o subcomandante, as buscas continuarão por tempo indeterminado, mas não está descartada a hipótese de que os últimos corpos tenham sido levados pelo curso das águas Taquari, podendo aparecer com o tempo em outros corpos hídricos em que ele deságua, como o lago Guaíba, em Porto Alegre.
Muçum é o município com mais habitantes desaparecidos, três. Beatriz Pietta, 72, chegou a ser identificada equivocadamente e velada pela família por engano. O IGP (Instituto-Geral de Perícias) se desculpou e abriu sindicância para averiguar como se deu o erro, constatado em um exame de contraprova por DNA.
A cidade ainda busca o corpo de Deoclydes José Zilio, 93, e de Alciano Bianchi, 38, que desapareceu ajudando a resgatar outras pessoas.
Em Lajeado, uma das vítimas é Ariel Dermo Armani, 25. No dia seguinte à tragédia, no Parque do Imigrante, o marido dela, Miguel Rutigliano, 36, contou que havia perdido a esposa e os dois filhos -uma menina de um ano e nove meses e um bebê de três meses-, na enxurrada quando sua casa no bairro Conservas não resistiu à invasão da água. As crianças foram localizadas, mas o corpo da esposa não apareceu.
A outra vítima da cidade é Carlos André Pereira, de idade desconhecida.
Em Roca Sales, a última pessoa a ser localizada é Deiser Cristiane Vidal, cujos dois filhos, um menino de sete anos e uma menina de oito meses, só foram localizados cinco dias depois. As demais vítimas são Alexandre Eduardo Assis, 48, de Arroio do Meio, e Paulo Lansini, 68, de Encantado. Ambos tiveram as casas destruídas pela enchente e desapareceram.
Nos municípios mais atingidos, enquanto equipes do Exército trabalham na limpeza dos destroços, há um esforço para a reabertura de equipamentos públicos. Em Roca Sales, por exemplo, o Hospital Roque Gonzales reabriu as portas na segunda (2). O hospital recebeu R$ 150 mil em recursos estaduais e R$ 400 mil em municipais.
Voltaram a funcionar: ala de internação, sala de emergência e de observação, raio-X, eletrocardiograma, exame de laboratório e farmácia interna, além de copa e cozinha e do setor administrativo.
Segundo a secretaria estadual de Saúde, R$ 1,4 milhão foram repassados a sete hospitais em Arroio do Meio, Dois Lajeados, Encantado, Estrela, Lajeado, Muçum e Roca Sales. Outros R$ 5,4 milhões foram destinados em parcela única para 43 municípios em situação de emergência.
Em Muçum, município vizinho e igualmente arrasado pela cheia do rio Taquari, o esforço foi pela reabertura de escolas. Nesta quarta, foram reabertas duas das cinco escolas municipais da cidade, que passaram a receber provisoriamente também os alunos das escolas ainda fechadas.
Desde a enchente, 13 escolas do Vale do Taquari conseguiram retomar o funcionamento: 11 continuaram em suas próprias instalações e duas foram realocadas temporariamente em outras instituições.
Os municípios mais atingidos também aceleram o trabalho para construir em um período de até 40 dias as primeiras dezenas de casas provisórias.
Em Roca Sales, um loteamento receberá entre 60 e 120 casas com até 36 metros cada. O modelo se baseia em construções rápidas utilizadas em São Sebastião, no litoral de São Paulo, que passou por tragédia semelhante em fevereiro passado. Estrela, Muçum e Encantado terão iniciativas semelhantes e trabalham no cadastro das famílias que serão beneficiadas. Em Arroio do Meio, um terreno já passa por terraplanagem para receber os primeiros 25 contêineres moradia adquiridos pela prefeitura.
CAUE FONSECA / Folhapress