SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Diante do afastamento entre o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o presidente da Câmara Municipal, vereador Milton Leite (União Brasil), o União Brasil deve adiar a decisão sobre quem apoiar na eleição municipal para depois da convenção, marcada para este sábado (20).
O partido avalia trocar Nunes por Pablo Marçal (PRTB), que já teve conversas com líderes nacionais do União Brasil.
Nunes e Milton Leite, que não se falam desde que o vereador declarou à imprensa que a relação deles estava péssima, têm uma reunião marcada para a manhã desta sexta-feira (19) na tentativa de aparar as arestas.
Aliados do prefeito estão otimistas e dizem acreditar que o União Brasil, dono da terceira maior fatia do fundo eleitoral e do tempo de propaganda na TV, vai integrar a coligação do MDB.
O presidente do MDB, Baleia Rossi, tem sido o interlocutor entre Nunes e Milton Leite, que preside o União Brasil na capital, e atua para restabelecer a parceria com o outrora aliado de primeira hora.
Marçal, por sua vez, também acredita no apoio do União Brasil. “Vai dar certo a vinda deles. Faltam pequenos ajustes”, disse o empresário à reportagem nesta quarta-feira (17).
Entre pessoas próximas a Nunes, a avaliação é a de que dificilmente o União Brasil vai embarcar na campanha do ex-coach, visto por eles como um aventureiro e pouco confiável.
Eles também afirmam que a decisão, no fim das contas, caberá à direção nacional da União Brasil, com quem eles dizem já ter sacramentado um acordo a sigla aceitou compor a coligação em troca de apoio para o próximo comando da Câmara Municipal.
Vereadores e pré-candidatos do União Brasil engrossam as reclamações de Milton Leite em relação ao prefeito, mas veem o o impasse com apreensão, uma vez que é incerta a chapa majoritária que irão apoiar. A esperança deles é que Milton Leite e Nunes se acertem nesta sexta-feira.
Procurado pela reportagem, Milton Leite afirmou que não iria comentar.
O União Brasil tem ainda um pré-candidato próprio à prefeitura, o deputado federal Kim Kataguiri (SP). Integrantes da legenda, porém, descartam lançar Kim e afirmam que a convenção deve deliberar que o partido vai integrar a coligação de outro candidato.
Na última pesquisa Datafolha, divulgada em 5 de julho, Nunes aparece na liderança em empate técnico com Guilherme Boulos (PSOL), com 24% e 23%, respectivamente. Marçal tem 10%, e Kim marca 3%.
Na convenção deste sábado, o União Brasil deve delegar à direção municipal, encabeçada por Milton Leite, a decisão de escolher qual coligação integrar, o que deve ser feito até 15 de agosto, prazo para o registro dos candidatos.
As convenções, que devem ser feitas pelos partidos de 20 de julho a 5 de agosto, são reuniões formais de filiados para escolher seus candidatos e coligações na eleição.
A relação entre Milton Leite e o prefeito ficou estremecida após pedidos não atendidos e declarações de Nunes que desagradaram o vereador. No início do mês, o vereador disse que a legenda poderia desembarcar da aliança com Nunes e até poderia apoiar Boulos, principal adversário do prefeito.
O climão entre Milton Leite e Nunes resultou em um boicote dos vereadores do União Brasil a um evento de pré-campanha do prefeito, no último dia 11, na Vila Olímpia. O episódio pensado para ser uma demonstração de força não contou com os sete integrantes da bancada no Legislativo e também com diversos pré-candidatos da legenda.
Políticos ouvidos pela reportagem afirmam que o dirigente do União Brasil vem fazendo uma série de pleitos ao prefeito, que envolvem cargos e influência na prefeitura, e buscou pactuar com Nunes qual seria o espaço do partido em uma futura gestão.
Auxiliares de Nunes dizem que ele não quer lotear seu eventual novo mandato na prefeitura antes da hora e que não tem feito acordos nesse sentido com nenhum dos dez partidos que o apoiam.
Por outro lado, Milton Leite, que pleiteava ser candidato a vice na chapa de Nunes e perdeu o posto para o bolsonarista Ricardo Mello Araújo (PL), conseguiu garantias de que a presidência da Câmara seguirá nas mãos do União Brasil no ano que vem. O acordo foi acertado entre ele e Nunes, com aval de MDB, PL e PP.
De qualquer forma, o fato de não ter sido escolhido vice pesou no descontentamento do vereador com Nunes. O presidente da Câmara Municipal acabou enfraquecido por estar na mira do Ministério Público no contexto da investigação que apura se empresas de ônibus são usadas para lavar dinheiro do PCC.
Outro fator que esgarçou a relação foi uma declaração do prefeito, depois da articulação de Milton Leite para brecar a greve de ônibus no início do mês.
O vereador havia dito à rádio CBN que Nunes havia pedido que ele prosseguisse com as negociações para buscar uma solução, e que ele, como presidente da Câmara, exercia a função de “vice-prefeito”. “O prefeito sempre é comunicado de cada ato que eu tomo”, afirmou na ocasião.
O emedebista agradeceu a atuação de Milton Leite, mas negou que a prefeitura tivesse participado da negociação, desautorizando indiretamente a fala do aliado. “Ninguém da prefeitura, ninguém tem procuração minha para poder fazer negociação”, disse Nunes.
Em 2023, Milton Leite foi eleito pela quarta vez seguida presidente da Câmara Municipal. Ao longo da gestão de Nunes, a visão de aliados do vereador é de que ele foi fiador do governo aprovando leis de interesse do Executivo e emprestando seu capital político ao prefeito, que assumiu após a morte de Bruno Covas (PSDB) em 2021.
Segundo integrantes do União Brasil, Milton Leite passou a ser isolado neste ano eleitoral, preterido em negociações por líderes de outros partidos e também por nomes nacionais de sua própria sigla. Milton Leite, que exerceu influência ao longo dos mandatos de João Doria (na época do PSDB), Covas e Nunes, não estava acostumado a um papel de coadjuvante como o atual.
O PL de Jair Bolsonaro, que embarcou na pré-campanha de Nunes, passou a ser a principal sigla na coligação do prefeito. A situação também tem a ver com a aproximação entre Nunes e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que tirou os cargos que Milton Leite havia indicado na administração estadual assim que assumiu e manteve relação distante com o mandachuva do União Brasil.
Milton Leite também ficou insatisfeito com o prefeito no ano passado, quando pleiteava uma vaga no Tribunal de Contas do Município para um de seus filhos, mas teve os planos frustrados por Nunes. Na ocasião, o emedebista indicou o secretário municipal da Fazenda, Ricardo Torres.
ANA LUIZA ALBUQUERQUE, ARTUR RODRIGUES E CAROLINA LINHARES / Folhapress