MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – O líder do PP (Partido Popular), Alberto Núñez Feijóo, praticamente anunciou o fracasso de sua tentativa de se tornar o próximo primeiro-ministro da Espanha ao discursar ao Congresso nesta terça-feira (26). Em uma fala de uma hora e 40 minutos transmitida pela TV da Espanha, o conservador declarou que “nem sequer a presidência do governo justifica os meios”.
“Tenho votos ao meu alcance para ser presidente do governo, mas não aceito pagar o preço que me pedem para fazê-lo”, disse. Por trás da frase está o fato de que o PP não apoia qualquer possibilidade de anistia aos políticos separatistas da região de Barcelona, que sofrem processos judiciais após proclamarem a independência da Catalunha sem base legal em 2017.
A afirmação não é exatamente verdadeira. Afinal, se conseguisse os sete deputados do Junts, sigla dos separatistas catalães, o partido de ultradireita Vox não o apoiaria com seus 33 votos. Como o PP conseguiu apenas 137 votos nas eleições de 23 de junho, Feijóo depende de ambas as alianças para atingir a maioria absoluta (176 votos) para ser eleito primeiro-ministro na quarta (27) quando, após as falas, réplicas e tréplicas de todos os nove grupos parlamentares, os deputados enfim votarão “sim” ou “não” para a investidura de Feijóo.
Na terça, após seu discurso inicial, o primeiro grupo que se manifestou foi o do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol). Seu líder, Pedro Sánchez, que comanda o país desde 2018, estava presente, mas preferiu não subir à tribuna.
Para o atual premiê, a investidura de Feijóo é “perda de tempo”, já que a matemática para alcançar maioria absoluta (na votação da quarta-feira) ou simples (na votação de sexta-feira) não está do lado do PP.
Sua ausência na tribuna, porém, foi considerada uma falta de respeito sem precedentes pelos deputados do PP. Já o PSOE informou que Sánchez só falará em sua própria investidura, o que poderá acontecer em outubro, caso Feijóo de fato não saia vitorioso nesta semana.
Em seu lugar, o primeiro-ministro enviou Òscar Puente, ex-prefeito de Valladolid. “Por que você tem mais direito de ser presidente [do governo] do que eu de ser prefeito da minha cidade? Nem você nem eu ganhamos as eleições”, provocou Puente, dirigindo-se a Feijóo, enquanto Sánchez ria.
Em seguida, foi a vez do Vox, o partido de ultradireita que é ao mesmo tempo fiador e pesadelo de Feijóo. Por meses, o líder do PP tem dito que discorda de muitas ideias da sigla, como sua política anti-imigração, o que repetiu na tribuna. O líder do Vox, Santiago Abascal, relevou as críticas e reforçou na tribuna seu apoio ao PP, expressando a esperança de que as duas siglas governem a Espanha nos próximos quatro anos.
Depois disso, quase todas as falas foram desfavoráveis a Feijóo. Duas parlamentares do Sumar, o grupo de pequenas legendas de esquerda que é aliado de primeira hora do PSOE, disseram que ele nunca seria premiê. “Sua aliança com a extrema direita o separa do país que afirma representar”, disse a deputada Marta Lois. Após a réplica de Feijóo, outra deputada, Aina Vidal, assumiu a tréplica. “Numa investidura há negociação. Você não renunciou a nada porque não tem nada”, disse.
O quarto grupo parlamentar a falar foi o ERC (Esquerda Republicana da Catalunha), cujo porta-voz, Gabriel Rufián, afirmou: “Por mais que o senhor [Feijóo] repita que ganhou as eleições, a realidade é que não pode governar”.
O Junts, partido cujos líderes pedem anistia devido à tentativa de separação da Catalunha em 2017, foi o último a se manifestar. “Precisamos de um acordo histórico como não houve desde a queda de Barcelona em 1714. Hoje não existem condições para chegar a esse acordo”, disse a porta-voz da legenda, Míriam Nogueras.
Feijóo respondeu de novo praticamente assumindo que sua investidura será fracassada: “Prefiro adiar a minha vitória para que seja também a vitória de todos os espanhóis”, disse, mais de nove horas depois do início do debate.
Nesta quarta, outros quatro grupos parlamentares farão seus discursos e, ao fim do dia, os deputados votarão, um por vez, se Feijóo deve ser ou não o primeiro-ministro da Espanha.
IVAN FINOTTI / Folhapress