BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – Líderes da União Europeia sinalizaram apoio ao endurecimento da política imigratória do bloco e o advento de “soluções inovadoras” para o problema, como o posto de detenção e controle inaugurado pela Itália nesta semana na Albânia. Fruto de uma reunião que entrou noite adentro em Bruxelas na quinta-feira (17), o documento fala da necessidade de mudança, mas não se arrisca em maiores explicações.
Grupos de direitos humanos afirmam que medidas como a italiana ferem o direito internacional e limitam a procura de refúgio e asilo de populações vulneráveis. Os apelos encontraram pouco espaço entre os políticos presentes, como o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, e seu colega belga, Alexander De Croo. “A história tem demonstrado que estas soluções não trazem grandes resultados”, disse o último ao canal Euronews.
Pelo contrário, prosperou a discussão sobre iniciativas semelhantes. A Holanda, sob uma gestão de direita como a Itália, por exemplo, divulgou tratativas com Uganda para a transferência de imigrantes ilegais africanos.
Enquanto os líderes jantavam robalo e cogumelos à espera do rascunho do documento que seria divulgado ao fim do encontro, um bebê era encontrado morto em uma embarcação clandestina no Canal da Mancha. A rota em direção ao Reino Unido, que não viu o recente alívio no fluxo imigratório percebido em outras regiões de fronteira da Europa, já provocou 52 mortes neste ano, o maior registro desde 2018.
Em discurso na saída da reunião, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, repetiu que iniciativas como a italiana devem ser estudadas, mas que o bloco tinha legislação aprovada no primeiro semestre e que ela precisa ser efetivada. “Precisamos definir de uma vez, por exemplo, o que é o conceito de terceiro país seguro”, declarou, em referência ao plano de transferir refugiados para locais que não representem ameaça a eles.
Von der Leyen afirmou também que as ondas de imigração ilegal na Finlândia e na Polônia são pontuais e acusou Belarus e Rússia de fabricá-las como estratégia de desestabilização das fronteiras ao leste do continente. “São ataques híbridos de agentes estatais”, declarou, citando também tentativas parecidas nos Bálcãs. Assim, o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, ganhou apoio público em sua radical decisão desta semana de suspender pedidos de refúgio de imigrantes ilegais vindos da Belarus e da Ucrânia.
“De todos aqueles que não têm o direito de permanecer na Europa, apenas 20% são devolvidos a seus países de origem. Precisamos trabalhar isso”, declarou Von der Leyen, reconhecendo que a burocracia do bloco no controle precisa ser aprimorada.
A Europa, como outras partes do mundo, vê a consolidação de um populismo de direita que se impõe nas urnas e na agenda do continente, como se vê no caso da imigração.
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE / Folhapress