Usinas oferecem recompensa por autores de incêndios no interior de SP

RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Os indícios vistos pela PF (Polícia Federal) e o setor agrícola de que incêndios registrados desde a última quinta-feira (22) possam ter sido criminosos fizeram com que usinas de açúcar e etanol do interior de São Paulo, região seriamente afetada pelas queimadas, oferecessem recompensa para quem der informações sobre os autores do fogo.

O fogo já foi responsável por prejuízos de R$ 350 milhões para o setor sucroenergético, conforme a Orplana (Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil), mas a Faesp (Federação da Agricultora do Estado de São Paulo) estima que as perdas cheguem a R$ 900 milhões ao envolverem outras atividades agrícolas.

Depois do Grupo Moreno oferecer recompensa de até R$ 30 mil por informações que levem à prisão dos dos incêndios, agora a Usina Santa Adélia está ofertando R$ 20 mil para quem conseguir identificar os supostos criminosos.

Na última quinta, quando a série de queimadas teve início, o Grupo Moreno, com sede em Luiz Antônio, ofereceu a recompensa sobre autores dos incêndios criminosos ou não autorizados em suas lavouras de cana-de-açúcar.

Integram o grupo cinco empresas, em Monte Aprazível, Nipoã e Luiz Antônio. “Tais incêndios causam transtornos e prejuízos às empresas, seus colaboradores, meio ambiente e sociedade em geral. O programa de recompensa por denúncias está disponível para qualquer pessoa que tenha informações sobre as causas e autoria desses incêndios”, diz o comunicado do grupo. A recompensa será paga caso, segundo o grupo Moreno, as informações levem à prisão do responsável pelo ato.

A Santa Adélia ofereceu como canais de denúncias unidades em Jaboticabal e Pereira Barreto e também pagará caso os autores sejam presos a partir das informações oferecidas pelos denunciantes.

“Estamos intensificando as medidas de segurança para capturar os responsáveis por esses crimes. Nossas brigadas de incêndio estão atuando incansavelmente para combater as chamas e minimizar os danos”, diz o comunicado da usina. Nos dois casos, os grupos sucroenergéticos garantem anonimato de quem denunciar.

A Usina Lins, de Lins (SP), entre outras plantas industriais instaladas em território paulista, também está divulgando um canal de denúncias sobre atos incendiários em canaviais, que sejam administrados por ela própria, parceiros ou fornecedores de cana.

O registro de ocorrências também está sendo incentivado pelo presidente da Faesp, Tirso Meirelles, que descarta a possibilidade de que o setor agrícola seja responsável pelos incêndios.

Ele disse à reportagem que foram encontradas garrafas com gasolina enterrados em lavouras das regiões de Batatais e General Salgado e que orientou os produtores rurais a registrarem boletim de ocorrência na polícia.

“Quando inicia um incêndio ele inicia pontualmente por alguma bituca de cigarro, uma lata de cerveja ou óleo. Agora tem uma sequência de uma distância de 400 quilômetros um do outro e levar tudo ao mesmo tempo é algo surreal, né? Isso não existe, não é possível que você tenha 400 km de incêndios praticamente contínuos”, afirmou.

Segundo ele, os produtores agrícolas são os maiores prejudicados com os incêndios e não podem ser apontados como eventuais autores de incêndios, especialmente por conta do Código Florestal.

Em redes sociais, há publicações com vídeos de áreas sendo queimadas por funcionários de usina e que apontam o agro como responsável pelos focos. Segundo o executivo, isso é resultado de desconhecimento de como funciona o setor agrícola e a prática é conhecida como contra-fogo, usada justamente para controle de incêndios.

“Quando você vê que o fogo está vindo de uma velocidade muito grande, o vento alastrando da forma que estava, só profissionais como bombeiros e esse pessoal das usinas, que são extremamente profissionais, podem fazer o contra-fogo. O contra-fogo é feito quando vem um fogo muito forte do outro lado e, se ele continuar, vai pegar todo o restante, por exemplo, do lado direito, então você faz um aceiro [faixa de terra sem vegetação], tira aquela produção que tem ali, deixa na terra e põe fogo pra encontrar com o outro fogo, porque o fogo apaga outro fogo.”

Ele afirmou que a prática tem de ser feita com extrema eficiência para não alastrar de uma forma que o torne “insegurável”.

Meirelles afirmou que o prejuízo do setor, estimado em R$ 900 milhões só em São Paulo, não inclui as mortes de animais (silvestres ou ou não) e perdas de máquinas, equipamentos, habitações na zona rural e custos com reservas legais e áreas de APPs (Áreas de Preservação Permanente).

A região de Ribeirão Preto foi uma das mais atingidas, segundo o setor agrícola, e os impactos foram sentidos não só pelos grandes grupos do setor sucroenergético, mas também por pequenos agricultores, como assentados e acampados numa área entre Guatapará e Pradópolis, que resultou em 8 famílias desabrigadas, outras 80 com prejuízos no campo e nas mortes de cerca de 200 animais.

Nesta segunda, a lista do governo paulista de municípios em alerta máximo para incêndios contava com 48 localidades, 21 delas da região de Ribeirão. Além dela, as regiões de São José do Rio Preto, Barretos e Araçatuba são apontadas pela Faesp como as mais afetadas no estado.

MARCELO TOLEDO / Folhapress

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