Uso do carro particular aumenta em São Paulo, e trânsito piora às segundas e sextas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O automóvel particular é usado com mais frequência hoje do que um ano atrás na cidade de São Paulo. A lentidão do trânsito teve aumentos pontuais, a depender do horário e do dia da semana.

Para especialistas, esse crescimento do transporte individual indica uma tendência ruim devido aos efeitos que ele gera em uma metrópole: poluição, maior probabilidade de acidentes em comparação com outros modais, e acesso desigual.

A capital paulista chega a seu 23º Dia Mundial Sem Carro, celebrado neste domingo (22), no momento em que um de cada quatro moradores (24%) afirma que pretende usar o automóvel com mais frequência no próximo ano. A informação é de uma pesquisa da Rede Nossa São Paulo e do Ipec com 800 entrevistados. A margem de erro é de três pontos percentuais.

Três em cada dez motoristas na cidade afirmam que hoje usam o carro com mais frequência do que no ano passado. Uma minoria (13% da população paulistana) fala em reduzir o seu uso no futuro.

Quando se fala em mudança de hábitos na mobilidade, só as caminhadas atraem mais entusiastas do que os carros: 34% respondem que pretendem andar mais a pé nos próximos 12 meses.

Os modais de transporte coletivo –metrô, ônibus e trem– atraem menos interesse. Só 16% dos entrevistados afirmam que pretendem usar mais os ônibus municipais no próximo ano, e 18% têm intenção de aumentar o uso do metrô.

As justificativas para o uso intensivo do carro em São Paulo são conhecidas: comodidade e oferta insuficiente de transporte público. Segundo a pesquisa da Rede Nossa São Paulo, 24% dos entrevistados que aumentaram a frequência do uso do carro citam o conforto como principal motivo.

Além disso, outros 16% dizem que cansaram de enfrentar o transporte coletivo lotado e 13% afirmam que o tempo de espera pela condução foi decisivo. A proporção de entrevistados que cita a demora do transporte coletivo dobrou de 2022 para 2023 (foi de 7% para 14%) e hoje segue no mesmo patamar.

O automóvel passou a ser usado com mais frequência, principalmente, por aqueles que têm renda familiar acima de cinco salários mínimos (sete a cada dez têm esse perfil) e pela população branca (são 58% daqueles que intensificaram o uso do carro), segundo a pesquisa.

A escolha do carro em detrimento de outros meios de transporte ocorreu principalmente entre os moradores da zona sul e do centro –onde há a maior oferta de transporte público. No sul da capital, houve uma queda na utilização dos ônibus municipais e do metrô, e o aumento no uso do automóvel foi inversamente proporcional.

Em um ano, houve um aumento de 13 pontos percentuais na proporção de moradores da região que afirmam usar o carro todos os dias, quase todos os dias ou de vez em quando –foi de 35% para 48%. Ao mesmo tempo, caiu em 9 pontos percentuais o uso frequente do ônibus e em 14 pontos o uso do metrô.

Centro e zona sul também estão entre as regiões onde o tempo médio de deslocamento diário piorou na cidade. Moradores da região central levam, em média, 2h23 para completar todas as suas viagens a cada dia –13 minutos a mais do que no ano passado. Na região sul, essa média é de 2h46, o que significa um incremento de 22 minutos nos deslocamentos diários, o pior resultado.

Se comparado com o período anterior à pandemia de Covid-19, o trânsito de São Paulo ainda tem congestionamentos abaixo da média. No entanto, o fluxo de veículos aumentou consideravelmente desde 2021 –a ponto de a lentidão nas principais avenidas alcançar o patamar pré-pandêmico no final do ano passado.

A pesquisa da Rede Nossa São Paulo aponta que o tempo médio de deslocamento melhorou em 18 minutos para os motoristas de carro desde o ano passado. Ao mesmo tempo, dados da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) mostram lentidão mais alta em quatro dos oito primeiros meses deste ano. Os congestionamentos pioraram sobretudo às segundas e sextas-feiras –que voltou a ter trânsito pior do que as quintas, encerrando um fenômeno que marcou o pós-pandemia paulistano.

“Temos uma parcela muito pequena, um quinto, do modal que deveríamos ter de forma abundante, que é o metrô. O resultado é o caos”, diz o engenheiro Sergio Ejzenberg, mestre em engenharia de transportes pela Escola Politécnica da USP.

“Estamos vendo um aumento muito grande das mortes no trânsito, nesse ponto há um retrocesso enorme”, diz o planejador urbano e de trânsito Rafael Drummond. “Com certeza os meios de transporte individual, carro e moto, são os meios mais perigosos para todos os usuários, não só os que ocupam esses veículos. Eles contribuem mais para a mortalidade em geral no trânsito, uma vez que pedestres são atropelados principalmente por esses dois veículos.”

TULIO KRUSE / Folhapress

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