SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma nova dispersão de usuários de drogas pelo centro de São Paulo fez retomar uma rotina de medo e ligações desenfreadas para a central 190 da Polícia Militar por vizinhos de um dos pontos escolhidos pelos dependentes químicos para se concentrar.
A reportagem conversou com moradores de um condomínio na alameda Barão de Piracicaba, no bairro dos Campos Elíseos. Eles relataram que a situação começou no final de abril. Vídeos e fotos encaminhadas pelo grupo mostram uma concentração com cerca de 10 pessoas durante o dia, mas com mais de 40 durante a noite.
A situação não é exclusiva do local. A reportagem percorreu diversos trechos do centro da capital paulista nesta terça (25) e encontrou ao menos 13 pontos com concentração de usuários de drogas alguns reúnem não mais que meia dúzia de pessoas, enquanto outras tem dezenas de dependentes.
Há grupos reunidos na avenida do Estado, no Bom Retiro, em um viaduto embaixo da praça Roosevelt, na República, e até as proximidades da avenida Paulista, já na zona oeste da cidade.
Em nota, a gestão Ricardo Nunes (MDB) disse “que o fluxo, maior concentração, não tem se movimentado, permanecendo na rua dos Protestantes desde novembro de 2023”.
De fato, a maior das aglomerações segue na via, mas ela tem diminuído de tamanho nos últimos meses, como mostrou a Folha de S.Paulo há dez dias. Se no auge mais de 600 usuários de droga ficavam no local, nas últimas semanas o número não chegava a 400.
Com isso, o número de dependentes que passaram a migrar pelas ruas da região aumentou nesse período.
Uma mulher de 38 anos que mora no condomínio da Barão de Piracicaba afirmou que há dois meses não consegue receber visitas em casa devido à presença de usuários na frente do prédio. O local fica próximo da praça Júlio Prestes, onde a cracolândia funcionou por quase 30 anos, até ter início a dispersão dos usuários em março de 2022.
A mulher, que pediu para não ter seu nome divulgado por temer represálias, contou que vans escolares precisam parar ao lado dos dependentes químicos para embarcar e desembarcar estudantes. Diz também que costuma chamar a PM, que dispersa os usuários. Mas isso dura pouco tempo, já que eles rapidamente retornam ao local quando os agentes vão embora.
Uma promotora de vendas de 59 anos, que reside no mesmo condomínio, disse não saber mais o que fazer ou para quem pedir auxílio. Ela diz não dormir em decorrência do barulho.
Droga barata, o crack há um bom tempo não está mais restrito a cracolândia, e tem se espelhado por outros bairros da cidade. Um cachimbo em uma das mãos e um isqueiro na outra, além da ponta dos dedos queimados são alguns dos indícios que diferenciam um grupo de dependentes químicos de um conjunto de moradores em situação de rua, que também se proliferam em São Paulo.
Um dos pontos com presença de dependentes químicos é praça Doutor Clemente Ferreira, no Pacaembu, zona oeste. Uma área de terra batida escondida no entroncamento das avenidas Rebouças e Doutor Arnaldo, a poucos metros da Paulista.
Com o trânsito parado é possível de dentro do carro notar usuários pitando seus cachimbos em uma das áreas mais nobres da cidade.
Antes de acessar a praça, os dependentes químicos chegaram a passar uma temporada sob o túnel que passa embaixo da Paulista, mas foram dispersados após ações da polícia.
A cerca de cinco quilômetros dali, na avenida do Estado, a vista é bem diferente. Dependentes químicos camuflados entre um tronco ou outro de árvores secas e chão de terra têm ao fundo a ponte estaiada Governador Orestes Quércia. O trânsito na marginal Tietê, que escorre ao lado, é mais intenso. O ponto escolhido fica no entorno da favela do Gato e a 500 metros da sede do Denarc (Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico) da Polícia Civil.
Na noite do dia 8 de julho usuários que estavam na rua dos Protestantes foram escoltados por equipes da Guarda Civil Metropolitana e por policiais civis e militares até a região. Eles, no entanto, permaneceram por poucas horas ali e retornaram para o endereço de origem. Na ocasião, muitos dependentes criticaram a área escolhida por ser um local ermo e escuro.
Na tarde desta terça-feira ainda haviam concentrações de usuários ao longo da avenida Duque de Caxias e no viaduto Júlio de Mesquita Filho no limite com o início do elevado Presidente João Goulart, o Minhocão. Nos dois locais os usuários atravessam a pista a todo momento.
Durante seu trajeto pelo centro de São Paulo, a reportagem visualizou pessoas consumindo crack em alguns endereços já conhecidos, como o viaduto Orlando Murgel, sobre a favela do Moinho, a alameda Dino Bueno, a rua Helvétia e a avenida Rio Branco.
Segundo a prefeitura, a presença de pessoas em situação de rua, usuários ou não de drogas, é registrada ocasionalmente nas regiões mencionadas, sem representar grupos de maior tamanho. “Esses casos também são objeto de ação de abordagem dos agentes da Saúde e da Assistência Social do Município”.
A gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse que tem intensificado as ações de policiamento na região. “Essa medida possibilitou uma redução significativa dos casos de roubos e furtos na área central, com quedas de 31,2% e 20,8%, respectivamente, nos cinco primeiros meses deste ano. No mesmo período, o volume de drogas apreendidas aumentou 374,39%, alcançando a marca de 1,2 tonelada”.
Segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública), as forças de segurança monitoram permanentemente o comportamento e a variação do fluxo de usuários, adotando, sempre que necessário, medidas para reforçar o patrulhamento preventivo e ostensivo em toda a área central. “Para isso, o efetivo na região foi reforçado com a inauguração de três novas companhias da PM, a incorporação de 400 novos policiais e a criação de mais de 1.300 vagas pela Atividade Delegada”.
PAULO EDUARDO DIAS / Folhapress