SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Usuários de drogas promoveram uma série de ataques nesta terça-feira (11) a veículos que transitavam perto da região conhecida como cracolândia na área central da cidade São Paulo. Entre os alvos estavam ao menos seis ônibus municipais e dois caminhões, um de coleta de lixo e outro que transportava bebidas. Houve saque, além da depredação de uma viatura policial. Dois suspeitos foram presos.
Agentes da GCM (Guarda Civil Metropolitana) e da Polícia Militar cercaram dezenas de dependentes químicos na rua dos Gusmões, entre a avenida Rio Branco e a rua Santa Ifigênia. Diante do ambiente de tensão gerado pela onda de violência, alguns estabelecimentos comerciais funcionaram durante a tarde com portas parcialmente fechadas.
Vídeos gravados por moradores e divulgados na internet mostraram o momento de um desses ataques, quando um grupo cercou um ônibus e arremessou objetos que romperam vidros do coletivo.
Em outra sequência de ataques, usuários correram após saquearem um caminhão de bebidas que iria abastecer um mercado na alameda Barão de Limeira, na esquina da rua Vitória.
Entre as vítimas dos ataques estavam o motorista de um caminhão de coleta de lixo que passava pela rua Vitória. Ele disse que foi obrigado a sair do veículo e teve o celular e a carteira roubados.
Dois funcionários de uma distribuidora de bebidas foram atacados na avenida Duque de Caxias. Cerca de 25 caixas de cerveja em lata foram levadas, contou um dos funcionários à reportagem.
A confusão começou quando usuários de drogas depredaram uma viatura da Polícia Militar na praça Júlio de Mesquita. Em seguida, o ônibus foi apedrejado e um caminhão de bebidas, saqueado.
Houve confronto entre dependentes químicos e policiais na esquina da rua General Osório e da avenida Rio Branco. Usuários confrontaram os policiais, que reagiram com bombas de efeito moral.
Depois que policiais militares dispersaram pequenos grupos na Duque de Caxias e em ruas próximas, uma aglomeração maior se formou na esquina da avenida Rio Branco com a rua dos Gusmões, local onde a concentração da cracolândia tem sido recorrente nas últimas semanas.
Dois homens suspeitos de depredar a viatura da PM foram encaminhados ao 3º Distrito Policial, no bairro Santa Ifigênia.
De acordo com a coordenação da operação policial na região, equipes de Rocam (apoio de motos da PM), Força Tática e Iope (tropa de operações especiais da Guarda Civil) foram acionadas para patrulhar a área após as ocorrências.
Segundo a SPTrans, que é responsável pelo sistema de ônibus da capital, foram atingidos três coletivos que fazem a linha 609F/10 (Chácara Santana – Terminal Princesa Isabel), um da linha 8707/10 (Rio Pequeno – Terminal Princesa Isabel), um da linha 9500/10 (Terminal Cachoeirinha – Praça do Correio) e um da linha 9653/10 (Pedra Branca – Praça do Correio).
“A SPTrans mantém contato com a PM em relação às ocorrências de violência no transporte público e esclarece que todos os registros que recebe de usuários são comunicados ao setor de inteligência das autoridades policiais”, afirmou o órgão.
As cenas desta terça ocorreram após uma tentativa de remoção da cracolândia, no último fim de semana.
Na noite de sábado (8), um pelotão formado por guardas-civis e policiais civis e militares escoltou o fluxo -como é conhecida a concentração de usuários- da cracolândia da rua dos Protestantes até a parte de baixo da ponte Governador Orestes Quércia, conhecida como Estaiadinha, na marginal Tietê, perto da avenida do Estado.
Vídeos obtidos pela reportagem mostram viaturas da GCM acompanhando o grupo de dependentes químicos nas imediações da rua José Paulino, no Bom Retiro. Antes disso, moradores do entorno da rua dos Protestantes relataram o uso de bombas de gás para dispersão do fluxo.
A intenção, segundo policiais ouvidos pela reportagem, era que a cracolândia se mantivesse no local.
Poucas horas depois, usuários voltaram a ocupar a rua Conselheiro Nébias, bloqueando o trecho entre as ruas Aurora e Timbiras. Também era possível encontrar usuários de drogas pelo largo General Osório.
Nesta segunda (10), o prefeito Ricardo Nunes (MDB) reafirmou que a concentração de usuários de drogas da cracolândia tem dinâmica própria e negou a informação de que a prefeitura tenha tentado removê-los da região da Santa Ifigênia.
“Apesar de vocês insistirem em falar que a GCM conduz aquele grupo de pessoas para algum local, a gente só faz o acompanhamento. Eles têm uma dinâmica própria. Se não fosse assim, eles não teriam ido para outro local, né?”, disse Nunes.
DISPERSÃO DESAFIA PREFEITURA E GOVERNO HÁ MAIS DE UM ANO
Há mais de um ano, a cracolândia que antes ocupava o entorno da praça Júlio Prestes se dispersou pelas ruas do centro da cidade. Ao menos oito vias foram ocupadas pelos usuários de drogas no período, e o tema foi declarado como prioridade pelas gestões municipal e estadual.
Em meio ao clima de instabilidade, proliferaram casos de empresas de segurança privada ligadas a guardas-civis metropolitanos e policiais militares que passaram a vender pacotes de vigilância privada a moradores e comerciantes.
A gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) inaugurou no início de abril um equipamento de saúde para aumentar a taxa de internação entre frequentadores da cracolândia. Até o momento, porém, 4 em cada 10 usuários da cracolândia deram entrada no serviço.
Há cerca de um mês a prefeitura trocou o comando da pasta responsável pela gestão da cracolândia. O ex-secretário de Projetos Especiais Alexis Vargas pediu demissão após Edsom Ortega ter sido nomeado para assumir a zeladoria e a segurança urbana na cracolândia.
Ex-secretário de Segurança Urbana na gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD), em 2012, Ortega proibiu a distribuição de sopas e marmitas a moradores de rua na região central de São Paulo.
USUÁRIOS SAQUEARAM FARMÁCIA EM ABRIL
Em abril, usuários de drogas invadiram e saquearam uma drogaria na avenida São João, na região central de São Paulo. O caso aconteceu depois dos dependentes químicos terem sido dispersados por uma ação conjunta de GCM, Polícia Militar e Polícia Civil na cracolândia.
Nas cenas que foram registradas por câmeras de monitoramento, os usuários destruíram estandes e levaram o que encontraram pela frente, afastando-se o mais rápido possível. Pouco depois, o policiamento chegou ao local.
Mesmo após a dispersão do entorno da drogaria, os usuários continuaram vagando pela avenida São João, inclusive no meio da via, e atacaram ao menos mais um comércio.
MARIANA ZYLBERKAN E PAULO EDUARDO DIAS / Folhapress