SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A relação entre Valdemar Costa Neto e Lula (PT) é antiga e traçada por um histórico tanto de falas de apoio como de crítica contundente do presidente do PL ao governo petista.
No primeiro mandato de Lula, o PL fez aliança com o PT ao indicar o senador José Alencar (1931-2011) para a Vice-Presidência.
Em 2004, insatisfeito com a política econômica do governo Lula, Valdemar defendeu as demissões de Antonio Palocci Filho (ministro da Fazenda) e Henrique Meirelles (presidente do Banco Central).
Ao ser acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser um dos integrantes do esquema do mensalão no governo Lula, Valdemar afirmou que os R$ 6,5 milhões que recebeu das empresas do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza foram usados para pagar dívidas da campanha presidencial do petista.
Na época, ele procurou “blindar” Lula. “Não quero ser um problema para o presidente Lula”, disse. “O Lula é um homem honesto. O caixa dois (…) aconteceu sem o conhecimento dele”, afirmou Valdemar.
Nos últimos dias, Valdemar entrou na mira de bolsonaristas após fazer elogios a Lula. Sem mencionar diretamente o presidente do PL, Jair Bolsonaro falou em “implosão” de seu partido com “declaração absurda”.
Relembre a relação de Valdemar com o petista:
Vice-Presidência
No primeiro mandato de Lula, o PL fez aliança com o PT e indicou o senador José Alencar (1931-2011) para a Vice-Presidência.
Em uma convenção nacional, o partido presidido por Valdemar Costa Neto aprovou a coligação com o PT e oficializou Alencar para chapa com o petista.
O PT esperava que o vice ampliasse o espectro da aliança de Lula, atraindo o apoio do grande empresariado e fortalecendo a imagem de que o partido estava menos radical.
Ataque à equipe econômica petista
Em 2004, o presidente do PL atacou a equipe econômica do governo Lula e defendeu as demissões do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
“Na minha opinião, ele [Lula] tem de trocar o ministro Palocci por alguém que tenha competência para o cargo. O Palocci tem competência para ser prefeito de Ribeirão Preto [SP], não para ser ministro da Fazenda”, disse Valdemar.
À época, as pressões contra a política econômica se acirraram depois que foi anunciado o encolhimento do PIB em 0,2%. A crítica à política econômica tornou-se comum por parte tanto da oposição quanto dos aliados.
Ao cobrar mudanças, Valdemar citou o vice-presidente: “José Alencar tem alertado o governo há mais de um ano. Ele viu que o país não ia ter crescimento em abril do ano passado. O Palocci e o Meirelles só foram enxergar isso no mês de outubro. Quer dizer, nenhum dos dois tem condições de estar no governo”.
Escândalo do mensalão
Durante depoimento à CPI do Mensalão, Valdemar disse que usou caixa 2 em eleição de Lula. Ele afirmou que os R$ 6,5 milhões que recebeu entre fevereiro de 2003 e janeiro de 2004 das empresas do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza foram usados para pagar dívidas da campanha presidencial de Lula –de quem José Alencar foi candidato a vice.
“Para as eleições de 2002, involuntariamente, recebi dinheiro não-oficializado do PT. (…) [O recurso] foi totalmente gasto na campanha do presidente Lula no segundo turno”, disse à época.
Segundo o presidente do PL, o dinheiro quitou dívidas contraídas com a confecção de material de campanha da coligação Lula-Alencar distribuído na região metropolitana de São Paulo.
Valdemar foi acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser um dos integrantes do esquema do mensalão.
Na época, o presidente do PL procurou “blindar” Lula, o vice e o PL. “Não quero ser um problema para o presidente Lula”, disse. “O Lula é um homem honesto. O caixa dois (…) aconteceu sem o conhecimento dele.”
À época deputado federal pelo PR-SP, Valdemar foi condenado no processo do mensalão pelo STF (Supremo Tribunal Federal) a sete anos e dez meses de prisão e multa de R$ 1,1 milhão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Contra impeachment Dilma
Próximo à votação do impeachment de Dilma Rousseff no Senado, em 2016, Lula recorreu a Valdemar Costa Neto para conseguir votos do PR contra a medida. Na época, o ex-deputado era ex-presidente do partido e principal liderança da sigla.
O PR estava entre as apostas do governo para segurar o impeachment de Dilma. As tratativas estavam sendo feitas pelo ministro do partido, Antonio Carlos Rodrigues, e pelo ex-deputado condenado no mensalão, mas ainda com forte influência no partido.
Escolha de Lewandowski
Em 2024, o presidente do PL elogiou em entrevista à Folha de S.Paulo a escolha de Lula de indicar o ministro aposentado do STF Ricardo Lewandowski para o Ministério da Justiça.
O dirigente do partido de Jair Bolsonaro classificou Lewandowski como homem de bem e de comportamento firme.
“Lewandowski tinha tudo para ir pro Ministério da Justiça. Ele é preparado, homem de bem, homem que sempre teve comportamento firme. [Lula] Acertou, como não. Como no caso do [Cristiano] Zanin, não foi boa indicação?”, disse.
Mais elogios a Lula
Nos últimos dias, o presidente do PL virou alvo nas redes sociais de apoiadores de Bolsonaro por falar bem das gestões passadas de Lula.
Em um vídeo editado de uma entrevista de dezembro, Valdemar afirma que Lula tem prestígio e é fenômeno por “chegar onde chegou”. A declaração foi dada ao jornal O Diário, da região de Mogi das Cruzes (SP).
“O que eu falei do Lula, eu falei porque é verdade. Se eu não falar a verdade, perco a credibilidade, que é o que me resta na política. Ninguém pode negar que ele foi bom presidente. Ele elegeu a Dilma [Rousseff]. Só que eu tava fazendo comparação: o Lula tem prestígio, Bolsonaro tem uma coisa que ninguém tem no planeta, carisma”, explicou à Folha de S.Paulo.
O ex-presidente Bolsonaro também criticou as falas elogiosas do dirigente ao presidente Lula e expôs uma fissura na legenda, dividida entre o grupo bolsonarista e a ala “raiz”, formada por políticos próximos ao centrão.
Em uma declaração captada em vídeo por apoiadores em sua casa de praia, em Angra dos Reis (RJ), sem mencionar diretamente Valdemar, o ex-presidente falou em “implosão do partido” com “declaração absurda” de “pessoa do partido”.
PRISCILA CAMAZANO / Folhapress