SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os casos de virose se multiplicam pelas cidades litorâneas paulistas e os serviços de saúde operam com capacidade acima do normal em decorrência do surto. Além de Guarujá, moradores e turistas de Santos e Praia Grande, na Baixada Santista, e de São Sebastião, no litoral norte, também relatam sintomas gastrointestinais.
Guarujá aguarda o resultado de análises encaminhadas ao Instituto Adolfo Lutz para esclarecer a origem do surto. A prefeitura afirma acreditar que a causa pode estar relacionada a vazamentos e ligações clandestinas de esgoto na região da praia da Enseada.
Marcelo Neubauer, infectologista e professor da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Campinas, orienta sobre os cuidados a serem tomados em relação à doença. Leia a seguir.
O QUE É VIROSE?
É qualquer doença provocada por um vírus. Catapora, Aids e gripe são exemplos. A diarreia que atinge turistas e moradores no litoral é uma virose. Os médicos, principalmente os de pronto-socorro, chamam de virose as doenças com características de serem provocadas por vírus e que não é possível definir uma causa. Vírus diferentes podem dar sintomas muito parecidos.
No outono e no inverno prevalecem os vírus respiratórios como o influenza, o rinovírus, o VSR (vírus sincicial respiratório). No verão, são comuns os enterovírus, com transmissão por meio da ingestão de água e alimentos contaminados. “São vírus que nós eliminamos nas fezes. Eles contaminam o ambiente e outras pessoas. Alguns vírus não são sazonais, como os da hepatite e o HIV, por exemplo. A transmissão deles acontece o ano inteiro, porque não dependem tanto de fatores ambientais, mas mais de contato entre as pessoas”, explica o médico.
QUAIS OS SINTOMAS DA VIROSE QUE ATINGE O LITORAL?
São típicos de uma virose intestinal. Cólica, náusea, vômito, diarreia, mal-estar e fraqueza. Alguns pacientes relatam coriza e nariz entupido.
QUANDO PROCURAR UM SERVIÇO DE EMERGÊNCIA?
Se os sintomas forem leves e possíveis de serem controlados com hidratação e remédio simples para enjoo, não é necessário procurar um hospital.
Extremos de idade (crianças pequenas e idosos), doentes crônicos -principalmente no caso de diabetes-, cardíacos, imunossuprimidos e as pessoas com doenças autoimunes e aquelas cujos sintomas não regridem com o tratamento caseiro convencional devem buscar ajuda médica porque precisam de uma avaliação.
PARA QUEM NÃO FAZ PARTE DE GRUPO DE RISCO, QUAL É O MOMENTO DE BUSCAR AJUDA MÉDICA?
Se você tomou remédio para vômito, por exemplo, e não melhorou na segunda dose, é melhor passar por uma avaliação médica. “Mais do que a diarreia, o que preocupa muito a gente nessas viroses são os vômitos. Se a pessoa tiver diarreia e conseguir manter a hidratação, beber líquidos, isotônicos, soro de hidratação, tudo bem. Agora, se ela está vomitando, não consegue ingerir líquidos adequados e está com diarreia, o quadro pode rapidamente complicar”, alerta o infectologista.
DURANTE A CRISE, O DOENTE DEVE FORÇAR A ALIMENTAÇÃO? O QUE INGERIR?
Se a pessoa não tiver vômito e náusea deve comer o que o corpo tolerar. Não precisa de grande restrição dietética. A orientação é manter uma alimentação balanceada e muito líquido. Não adianta água pura. Para hidratar quando se tem diarreia, o paciente deve optar por isotônico, soro de hidratação, água de coco ou suco de fruta.
QUE ALIMENTOS DEVEM SER EVITADOS E QUAIS PRIORIZADOS?
Deve-se evitar os alimentos que estragam facilmente no calor, como maionese, cremes, os gordurosos, aqueles que levam muito creme de leite e leite. “No caso de uma situação de vírus como essa, o alimento que é mais arriscado é o que a gente não consegue limpar adequadamente, principalmente o cru. Prefira os alimentos cozidos. Priorize frutas, alimentos tipo purê, amido, mandioquinha, leguminosa, carne magra, frango, algo leve e fácil de digerir.”
“Se for comprar gelo, verifique a procedência. O mesmo vale para essas águas minerais de galão de cinco litros. Tem que ser água mineral de verdade e não de torneira que foi engarrafada. E esse galão tem que ser muito bem higienizado antes de ser colocado no filtro”, orienta Neubauer.
QUEM CONTRAIU VIROSE E MELHOROU PODE CONTINUAR COM BANHO DE MAR?
Ainda não sabemos se o vírus que causou o surto provoca imunidade. É preciso esperar o Adolfo Lutz identificar qual é o vírus para ter certeza se a pessoa está imunizada ou não por ter adquirido a doença.
VIROSE PODE SER CONFUNDIDA COM OUTRAS DOENÇAS?
As intoxicações alimentares têm sintomas muito parecidos e é difícil diferenciar. No verão, as intoxicações são comuns até porque no calor os alimentos se degradam mais depressa.
QUAL A DIFERENÇA ENTRE ESSA VIROSE DO LITORAL E A DENGUE? É POSSÍVEL CONDUNDI-LAS?
A dengue é uma virose e tem uma evolução diferente. Na dengue, a febre intensa e a dor no corpo chamam muito a atenção. “Normalmente, é uma febre que começa de repente, já alta. Apesar de a dengue dar sintomas digestivos, vômitos não são muito comuns. Pode causar um pouquinho de diarreia também, mas a febre alta e a dor no corpo chamam muito mais atenção.
COMO PREVENIR A VIROSE?
Sempre lave as mãos em qualquer situação, principalmente depois do uso do vaso sanitário e antes de preparar os alimentos. Higienize os alimentos, principalmente se forem consumidos crus, como salada. Mergulhe em solução de hipoclorito de sódio (a 1%, dilua duas colheres de sopa para cada litro de água). Faça o mesmo com as frutas. Lave bem os utensílios domésticos. Hidrate-se. Evite consumir alimentos preparados em locais sem condições de higiene, de vendedores não autorizados ou de origem duvidosa.
“No caso de Guarujá, eu aconselhei alguns pacientes -principalmente de alto risco- a subirem a serra. Saiam daí, não esperem se contaminar. Enquanto esse surto não for controlado, a melhor maneira de se prevenir é evitar exposição. E, infelizmente, como parece que isso está em todo lugar, vão para a casa que é melhor. Perdem uns dias das férias, mas ganham em saúde.”
PATRÍCIA PASQUINI / Folhapress