SANTOS, SP E PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – Apesar de atrair olhares curiosos pela beleza e o tom azulado, as caravelas-portuguesas (Physalia physalis), uma espécie de cnidários parentes dos corais e anêmonas-do-mar causa temor pelos riscos à saúde a partir do contato físico.
Elas possuem células urticantes chamadas cnidas, mais concentradas nos tentáculos que chegam a até 30 m de comprimento. São como microagulhas ou arpões que liberam toxinas.
“Tenho amigos que nadam em águas abertas e, de fato, têm comentado que há muitas delas nesta época. É um ser vivo perigoso porque o contato com a toxina pode provocar inchaço, falta de ar e até taquicardia”, diz o biólogo Álvaro Esteves Migotto, pesquisador do Cebimar-USP (Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo).
De acordo com biólogos especialistas, ainda é prematuro classificar como epidemia. A espécie vive em mar aberto e não é fauna alvo do Projeto de Monitoramento de Peaias, programa financiado pela Petrobras como condicionante ambiental para a exploração de petróleo e gás na Bacia de Santos.
Os institutos responsáveis em São Paulo só monitoram pinípedes lobos-marinhos, focas, morsas, tartarugas e mamíferos marinhos.
“Não existe um consenso sobre um aumento populacional da espécie ou quais as razões desses aparecimentos. Há vários fatores: o aquecimento da água que favorece a reprodução, a pesca predatória que diminui o número de predadores, o fato de haver mais pessoas nas praias, mas não há nada que caracterize uma epidemia”, afirma o biólogo Álvaro Esteves Migotto.
A espécie também foi avistada por banhistas na praia de Capão da Canoa, no Rio Grande do Sul. As caravelas não se movem sozinhas, normalmente são conduzidas por correntes marítimas.
O QUE FAZER EM CASO DE QUEIMADURA
Em caso de queimaduras, deve-se lavar a área com água do mar ou utilizar vinagre branco, que ajuda a neutralizar o veneno. Outras substâncias como urina e café são descartadas por especialistas.
“Eles têm células microscópicas que provocam dor intensa. Os envenenamentos podem comprometer o sistema respiratório e até cardíaco, apesar de não termos no Brasil acidentes fatais. Existem relatos assim na Austrália, na Indonésia, mas não aqui”, explica o médico e biólogo Vidal Haddad Junior, professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Toxinologia. Ele salienta que a grande maioria dos casos é leve.
O aumento no número de caravelas pode ser atribuído à temperatura da água, que está um pouco mais quente nesse verão. A mudança eleva tanto a quantidade de invertebrados presentes na água quanto a de banhistas no mar, combinação que resulta em mais acidentes.
A caravela costuma ser mais perigosa do que a água viva convencional em razão do longo comprimento do seu tentáculo, um fio que pode chegar a 50 m. É nesta região que as toxinas que provocam queimaduras ficam concentradas.
As guaritas dos salva-vidas no RS costumam ser equipadas com vinagre e os profissionais estão preparados para primeiros-socorros de queimaduras. No estado, a orientação do Corpo de Bombeiros aos banhistas é procurar um salva-vidas imediatamente quando houver queimadura.
Caso não seja possível, a pessoa deve avaliar o ferimento. Se um tentáculo ainda estiver em contato com a pele, ele deve ser retirado com a ajuda de um tecido, como uma toalha ou camiseta. Em seguida, o local deve ser tratado por 30 minutos com compressas de vinagre ou de água do mar para aliviar a dor. Urina e água doce não são aconselháveis.
KLAUS RICHMOND E CAUE FONSECA / Folhapress