Veja peças de Zé Celso, que dirigiu obras de Shakespeare, Chico Buarque e Beckett

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Morreu nesta quinta-feira (6), aos 86 anos, o diretor teatral José Celso Martinez Corrêa, nome fundamental, do teatro brasileiro, após não resistir aos ferimentos causados por um incêndio em seu apartamento.

Além de textos de sua autoria, Zé Celso, criador do Teatro Oficina, deu seu olhar para a obra de autores de diferentes épocas e lugares, que vão do grego Eurípedes a Nelson Rodrigues, sem ignorar Shakespeare ou Oswald de Andrade.

Veja algumas peças dirigidas por Zé Celso, de sua autoria ou de outros dramaturgos:

“Vento Forte para um Papagaio Subir” (1958), de Zé Celso

“Vento Forte para um Papagaio Subir” desvirginou em dose dupla. Foi o primeiro texto autoral de Zé Celso para o teatro e, em 1958, a primeira obra da Companhia Teatro Oficina que estreou os palcos do espaço que hoje carrega seu nome, na época conhecido como Teatro Novos Comediantes.

Na trama, o jovem João Ignácio deixa Bandeirantes, fictícia cidade do interior de São Paulo, após uma tempestade. Decide então seguir o vento, deixando a velha vida para trás, em ruma a onde a vida o levar.

“Andorra” (1961), de Max Frisch

“Andorra” tinha acabado de entrar em cartaz no Teatro Oficina quando explodiu a ditadura militar, em 1964. Seu enredo, que aborda o antissemitismo após a Segunda Guerra Mundial, serviu de mensagem do grupo contra as perseguições do regime instalado.

A obra marca uma segunda transição ao capturar a mudança de estilo de Zé Celso, que até então escrevia sob a influência do realismo de Stanislavski (1863-1938) e passa a flertar com o teatro épico de Bertolt Brecht (1898-1956).

“O Rei da Vela” (1933), de Oswald de Andrade

Em 1967, Zé Celso realizou a primeira montagem “O Rei da Vela”, peça do modernista Oswald de Andrade (1890-1954) escrita em 1933 que até então não tinha subido ao palco, em partes por sua natureza rebelde e anarquista.

O diretor preserva, e mesmo realça, a antropofagia de Oswald ao apresentar o texto, que retrata um Brasil mergulhado na crise financeira de 1929, às vésperas do Estado Novo.

“Roda Viva” (1967), de Chico Buarque

Um ano após estrear a peça de Oswald de Andrade, Zé Celso dirigiu a primeira montagem “Roda Viva”, de Chico Buarque, escrita no final do ano anterior.

Através do enredo sobre um famoso cantor que é manipulado pela imprensa e pela indústria fonográfica, a montagem representa uma reação mais combativa e violenta do Teatro Oficina à censura e à situação do país, que ainda vivia a ditadura.

“As Boas” (1947), de Jean Genet

“As Boas” foi uma das primeiras peças de Zé Celso após um longo período afastado da direção teatral. Ao seu lado na direção, está Marcelo Drummond, que acompanharia Zé Celso à frente do Teatro Oficina a partir daí, e com quem o diretor se casou neste ano.

A peça conta a história de duas empregadas domésticas que se engajam em rituais sadomasoquistas que encenam o assassinato de sua patroa.

“Ham-Let” (Por volta de 1600), adaptado de William Shakespeare

Em 1993, Zé Celso adapta o clássico de William Shakespeare (1564-1616) “Hamlet”, a tragédia do príncipe da Dinamarca que descobre que o pai foi assassinado pelo tio, que casou com sua mãe.

O diretor aborda dá ao texto original uma camada musical, com sonoridades como batuque, samba, bossa nova e rock.

“Cacilda!” (1998), de Zé Celso

Em 1998, Zé Celso dirigiu mais um texto seu. “Cacilda!” conta a história de Cacilda Becker (1921-1969), grande estrela da época áurea do Teatro Brasileiro de Comédia nos anos 50, que foi também uma figura importante da classe teatral durante a ditadura militar.

Zé Celso descrevia a peça como um coma –de Cacilda Becker e também do teatro e das idéias a respeito dos padrões aceitos para a existência humana.

“Boca de Ouro”, de Nelson Rodrigues

No último ano do milênio passado, Zé Celso dirigiu “Boca de Ouro”, peça de Nelson Rodrigues (1912-1980) que parte do assassinato de um bicheiro que trocou seus dentes por uma dentadura áurea. Após sua morte, o repórter de um jornal sensacionalista começa a investigar o passado de “Boca” com a ajuda de dona Guigui, ex-amante do contraventor.

“Esperando Godot” (1952), de Samuel Beckett

Em 2001, alguns anos após escrever sobre Cacilda Becker, Zé Celso dirigiu “Esperando Godot”, de Samuel Beckett (1906-1989), a última peça encenada pela atriz, que morreu em 1969, durante a temporada.

Na história absurda que surge logo após fim da Segunda Guerra, Estragão e Vladmir se encontram perto de uma árvore e esperam por Godot, figura enigmática que nunca chega.

“Os Sertões” (1902), de Euclides da Cunha

A partir de 2002, Zé Celso dirigiu uma série de cinco peças que adaptaram o romance épico “Os Sertões”, de Euclides da Cunha (1866-1909), que narra a Guerra de Canudos no sertão brasileiro.

“A Terra” (2002), “O Homem I” (2003), “O Homem II” (2003), “A Luta I” (2005) e “A Luta II” (2006) somam mais de 20 horas de peça.

DIOGO BACHEGA / Folhapress

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