BOA VISTA, RR (FOLHAPRESS) – As negociações para um cessar-fogo em troca de reféns entre Israel e Hamas se tornaram ainda mais difíceis nesta semana. No domingo (5), o Hamas lançou foguetes no posto de controle de Kerem Shalom, a principal entrada de ajuda humanitária em Gaza, e matou quatro soldados israelenses.
Israel fechou a passagem, revidou com mais bombardeios e deu início ao que afirma ser uma ação limitada em Rafah, o último grande centro urbano da Faixa ainda não invadido por terra.
Em seguida, tanques israelenses tomaram a passagem de Rafah, o outro posto de controle no sul, além de Kerem Shalom, para entrada de auxílio e o único que não era diretamente controlado por Israel –embora Tel Aviv tivesse a prerrogativa, assim como o Egito, de barrar entradas e saídas.
Leia abaixo perguntas e respostas sobre Rafah e a ação militar de Israel no local.
O que é a passagem de Rafah?
O local é o único posto de controle da Faixa de Gaza que não é controlado diretamente por Israel, já que fica na fronteira com o Egito. O trânsito no local, no entanto, é condicionado à autorização do Cairo e de Tel Aviv.
Há outras passagens abertas nas fronteiras de Gaza?
A passagem de Kerem Shalom, próxima à de Rafah na fronteira tríplice entre Israel, Egito e Gaza, tem sido usada desde dezembro também para a entrada de ajuda humanitária. Há ainda a passagem de Erez, na fronteira ao norte de Gaza, que Israel reabriu no início de maio, em meio a pressões externas pela ampliação da entrada de auxílio no território palestino.
Quão importante é a passagem de Rafah para o transporte de ajuda humanitária?
O posto de fronteira de Rafah foi o primeiro ponto de entrada de auxílio em Gaza, duas semanas após o início da guerra. Segundo dados do escritório para a coordenação de assuntos humanitários da ONU (Ocha), 2.820 caminhões com ajuda humanitária, de comida a artigos de higiene e remédios, entraram via Rafah apenas em dezembro –esse número foi o pico mensal nesse posto de controle.
A passagem de Kerem Shalom, aberta em dezembro, aos poucos se tornou o ponto de maior entrada: em abril, por exemplo, 4.395 caminhões chegaram por este posto de controle a Gaza, contra 1.276 via Rafah.
Há quanto tempo Israel diz que vai invadir Rafah e por que agiu agora?
Ao menos desde fevereiro o governo de Netanyahu aponta a cidade como a última fronteira do combate dentro de Gaza. A ação é um dos grandes pontos de discórdia nas negociações de um cessar-fogo em troca da libertação de reféns –o Hamas tem condicionado um trato à garantia de que Israel não entrará na cidade e deixará Gaza. Mas as conversas não têm avançado.
Além disso, só aumenta a pressão interna contra Netanyahu para agilizar a libertação dos reféns que ainda estão com o Hamas: a estimativa é de que 129 ainda estejam sob armas do grupo terrorista, das quais 35 já teriam morrido.
Como Israel vinha atacando Rafah?
A cidade é alvo de bombardeios desde o início do conflito (inclusive o posto de fronteira). Em comparação com centros como Khan Yunis e a Cidade de Gaza, ainda há alguma infraestrutura de pé, mas há ataques aéreos frequentes e a superlotação.
Foi para Rafah que centenas de milhares de palestinos fugiram em meio à ofensiva terrestre de Israel no norte do território, e era para lá que o Exército de Tel Aviv exigia que os deslocados se movessem –a despeito de continuar com os bombardeios.
O que dizem os críticos de eventual ação militar na cidade?
Mesmo aliados próximos de Israel criticam uma ofensiva ampla contra a cidade. Em jogo está o potencial de uma das maiores catástrofes da região.
O presidente americano, Joe Biden, foi claro: barrou o envio de novas bombas a Israel dizendo que elas estavam sendo usadas para matar civis e que Washington não apoiaria Tel Aviv na invasão de Rafah –e Israel reagiu. Diversas agências da ONU e o secretário-geral, António Guterres, além de líderes da União Europeia, têm condenado a possível invasão.
Há alternativa para a população que está em Rafah?
Não há alternativa segura para cerca de 1,5 milhão de pessoas, que não podem deixar Gaza. Israel designou uma área um pouco mais ao norte, próxima de Khan Yunis e margeada pelo mar Mediterrâneo, para os civis se deslocarem –muitos dos quais foram a Rafah justamente fugindo de locais mais ao norte. Nesta quinta, a agência para refugiados palestinos da ONU estimou em mais de 80 mil os palestinos que já deixaram Rafah desde o início da ação israelense mais recente.
Em que pé estão as negociações para acordo de trégua em troca de reféns?
O Hamas indicou nesta quarta (8) que insiste com a proposta feita que diz ter aceitado na segunda (6) –Israel negou o trato, e afirmou que o grupo terrorista acatou um pacto com elementos novos que não atendiam às suas demandas.
Redação / Folhapress