SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No maior site de comércio online do país, o Mercado Livre, 9 entre as 10 principais buscas na categoria celulares e smartphones estão relacionadas ao iPhone. O aparelho da americana Apple foi um dos objetos de desejo do consumidor brasileiro durante a Black Friday, mas a participação da marca no país gira em torno de 18%, segundo o site Statcounter, que mede o tráfego dos sistemas operacionais móveis.
Isso por por conta do alto preço dos aparelhos: o modelo novo mais simples disponível, o 11 64 GB, custa em torno de R$ 2.800, 80% acima do que o brasileiro paga, em média, por um smartphone novo, na casa dos R$ 1.540, segundo a consultoria IDC. O modelo mais recente, o 15, na sua versão mais sofisticada (Pro 1 TB), é vendido por R$ 13 mil.
A solução para parte do público tem sido alugar um iPhone: a locação envolve tanto aparelhos novos quanto usados, em perfeitas condições de uso, e é oferecida tanto por operadores independentes, como a Allugator, como pela própria revenda oficial da Apple no Brasil, a iPlace.
“O iPhone é um dos produtos mais desejados do país, mas nem todo mundo pode comprar um”, diz Lucas Gilbert, sócio do site Allugator. “Nosso modelo se baseia na economia circular: o aparelho deve ser devolvido depois da locação, caso o aluguel não seja renovado. Mas estamos testando a opção de compra por parte do cliente que ficar um período maior com o aparelho”, diz o empresário, que soma hoje 20 mil assinaturas de iPhone.
Na Allugator, o aparelho é usado e o cliente não escolhe a cor. No site, a opção é por aluguel anual que vai desde o iPhone 11 64 GB, por 12 vezes de R$ 108,25, até o iPhone 15 Pro Max 256 GB, por 12 vezes de R$ 516,58. “Por meio do atendimento com consultores, também é possível contratar a assinatura por três ou seis meses, mas por um valor um pouco maior”, afirma Gilbert. A cada renovação, o cliente pode fazer um upgrade do aparelho.
“Nosso smartphone vai com capinha, película, proteção completa contra roubo e furto, que dá direito ainda a um celular reserva” diz Gilbert.
Na revenda oficial da Apple no Brasil, a iPlace, a assinatura de iPhone, o “iPlace Club”, também envolve proteção contra roube e furto, mas está disponível apenas aos consumidores com cartão de crédito do Bradesco. Diferentemente da Allugator, apenas o modelo mais novo do iPhone, o 15, lançado em setembro, está disponível para aluguel. A empresa não revela quantas assinaturas tem.
Na iPlace, a locação é de um aparelho novo, por 21 meses seguidos, e o cliente pode escolher a cor. Estão disponíveis as diferentes versões: desde a de 128 GB (21 parcelas de R$ 229) até o 15 Pro Max 256 GB (21 vezes de R$ 349). Na loja, o preço de compra de cada um dos aparelhos é de R$ 7.300 e R$ 11 mil, respectivamente. “Em relação ao preço do aparelho, o desconto pode chegar a 34%”, diz Wagner Alledo, diretor geral da iPlace.
A empresa não permite ficar com o aparelho ao término do contrato de locação, mas o cliente pode fazer um upgrade. Os aparelhos devolvidos são direcionados para revenda ao mercado corporativo.
Para quem deseja ter acesso ao aparelho ao final da locação, a varejista lançou em agosto o “iPlace Hoje”: o cliente escolhe o modelo de iPhone novo, neste caso a partir da versão 13 128 GB, e paga pelo uso em 24 parcelas que correspondem de 70% a 80% do valor do aparelho. Ao final, o consumidor pode pagar os 30% ou 20% restantes e se tornar dono do iPhone, ou então devolver o aparelho e migrar para uma versão mais atualizada, com um novo valor de parcela.
“É uma maneira de o cliente estar sempre com um iPhone novo, de última geração, a um valor mais acessível”, diz Alledo. No caso do iPhone 13 128 GB, são 24 parcelas de R$ 189 mais uma parcela final de R$ 1.134 o que resulta em um valor total de R$ 5.670; hoje, o mesmo modelo é vendido na iPlace por R$ 4.544 em 10 vezes fixas.
Para ter acesso ao iPlace Hoje, porém, o consumidor precisa ter o seu cadastro aprovado pela HS Financeira, responsável pelo cartão Hoje, onde será debitado o pagamento das parcelas.
Há sites de revenda, como o Leapfone, que não oferecem só a marca da Apple, mas smartphones de outras fabricantes, como Samsung, Motorola e Xiaomi. A locação dessas outras marcas pode sair bem mais em conta: um Motorola G22, por exemplo, custa R$ 49 ao mês.
Na opinião de Lucas Gilbert, da Allugator, a depreciação do iPhone é mais controlada do que de outros smartphones, justamente pelos lançamentos anuais por parte da Apple. “Já outras fabricantes nem sempre dão continuidade a um modelo, que pode desvalorizar demais de um dia para o outro”, diz o sócio da Allugator, que este ano passou a oferecer também a locação de outros eletroeletrônicos, como tablets e notebooks, e até eletroportáteis, como cafeteiras.
“As novas gerações de consumidores estão muito mais conectadas com a ideia de usufruir do que de possuir um bem”, diz o executivo. “Daqui a pouco tempo, vamos nos perguntar por que comprávamos tantas coisas de tecnologia, que ficam rapidamente defasadas.”
QUEDA NA VENDA DE CELULARES TAMBÉM FAVORECE MERCADO DE USADOS
O aluguel de iPhone vem para tentar compensar em parte a queda nas vendas da categoria smartphones em todo o mundo, à medida que os consumidores vem ficando mais tempo com os aparelhos, como forma de economizar, diz Andréia Chopra, analista do IDC.
“Até 2020, o consumidor ficava em média um ano e meio com o celular. Agora, fica dois anos e meio, três anos”, afirma. Ao mesmo tempo, diz, a tecnologia evoluiu de forma constante, é mais difícil uma inovação tão disruptiva capaz de fomentar uma troca, como acontecia com mais frequência no passado.
No Brasil, segundo o IDC, a venda de smartphones caiu de 46 milhões de unidades em 2020 para 41 milhões no ano passado. O ano de 2023 deve fechar em queda, mesmo porque os descontos oferecidos durante a última Black Friday não empolgaram.
“Cientes desse cenário, os fabricantes têm procurado redirecionar os lançamentos para modelos mais em conta, de até R$ 2 mil. Mas ainda assim as vendas vêm caindo”, afirma. “Com a restrição este ano, ficou mais difícil para o varejo repassar condições vantajosas ao consumidor.”
Outro mercado que tende a crescer na esteira deste movimento é o de celulares usados recondicionados (reformados para retornar ao mercado). Um estudo do IDC de 2021 indicava que eles significavam 10% das vendas da categoria.
“As famílias estão com um alto nível de endividamento. Não é simples colocar mais uma parcela no orçamento”, diz Silvio Stagni, presidente da Allied, empresa de eletrônicos que trabalha tanto no varejo físico (administra rede de lojas próprias da Samsung), quanto no digital (site Mobcom e revenda autorizada de marcas como Apple e Xiaomi em marketplaces).
Na opinião de Stagni, neste contexto o usado tende a crescer. A Allied é dona da Trocafy, uma revenda de aparelhos seminovos com garantia. Um iPhone 13 128 GB, por exemplo, sai por R$ 3.799 em dez vezes fixas (R$ 4.544 é o preço de um novo). Já um Galaxy S22 256 GB, da Samsung, é vendido por R$ 2.549, também em dez vezes (um novo sai por R$ 4.615).
“Todos os produtos são verificados e têm três meses de garantia. O consumidor pode devolver o produto em até dez dias, se o aparelho não lhe agradar”, diz Stagni.
DANIELE MADUREIRA / Folhapress