MACEIÓ, AL (FOLHAPRESS) – A australiana Rachael Gunn, conhecida como Raygun, não imaginava que sua participação na estreia do breaking nas Olimpíadas, nos Jogos de Paris-2024, fosse trazer tanto ódio para ela e sua família. Raygun acabou atraindo uma fama que não gostaria depois de receber uma nota zero em todas as suas disputas.
Ainda tentando lidar com a onda de comentários maldosos que tem recebido nas redes sociais, a b-girl fez um desabafo nesta quinta-feira (15), pediu privacidade à sua família e amigos, e ressaltou que a prática do breaking não costuma ter pontuação.
“Só quero agradecer a todos os que me deram apoio. Eu realmente agradeço pela positividade e fico feliz porque pude trazer um pouco de alegria às suas vidas. Era o que eu esperava”, iniciou Raygun. “Eu não sabia que isso abriria a porta para tanto ódio, o que vem sendo bem difícil, francamente. Eu fui lá e me diverti. Eu levei tudo muito a sério. Eu trabalhei muito para me preparar para as Olimpíadas e eu dei o meu melhor, de verdade”, acrescentou.
A australiana é pesquisadora há anos na área de política cultural do breaking e possui um doutorado em estudos culturais. Ela também é professora na Universidade Macquarie, lecionando sobre temas como mídia, indústrias criativas, música e dança.
Apesar das piadas, Raygun foi classificada pela Associação de Breaking da Austrália como a melhor dançarina dessa modalidade em 2020 e 2021. Ela também representou a Austrália no Campeonato Mundial de Breaking durante três anos, de 2021 a 2023, e venceu o Campeonato de Breaking da Oceania no ano passado.
Nas redes sociais, surgiram alegações de que ela havia manipulado as seletivas da Austrália e por isso conseguiu a vaga. Raygun nega.
“Em relação às alegações e informações enganosas por aí, quero pedir a todos que vejam a declaração recente da AOC (Comitê Olímpico Australiano) assim como os posts da @ausbreaking [Associação de Breaking da Austrália] no Instagram”, ela comentou. “Uma coisa curiosa para vocês: não há pontuação no breaking. Se você quiser ver como os juízes acharam que eu me comparei aos meus adversários, basta ver as comparações através dos cinco critérios no olympics.com. Todos os resultados estão lá”, afirmou.
O chefe dos juízes que deram zero a ela explicou o motivo da nota.
“Pessoalmente, sinto muito”, começou Martin Gilian em entrevista ao jornal MetroUK. “A comunidade do breaking e do hip-hop com certeza oferece seu apoio a ela, que estava apenas tentando trazer algo novo, algo original e representativo de seu país”, continuou.
Segundo ele, há cinco critérios de avaliação para definir a nota de cada praticante nos Jogos. “O ponto é que o nível dela talvez não tenha sido tão alto quando o dos outros competidores. Repito: é um sistema comparativo. Os rivais dela foram melhores, mas isso não quer dizer que ela foi péssima”, emendou.
Em seu desabafo, Raygun diz que ficará mais tempo na Europa para descansar e pensar em seu futuro. Ela também pediu à imprensa que parasse de “importunar” sua família, amigos, a comunidade australiana do breaking e a comunidade da dança em geral.
“Todo mundo passou por muita coisa por conta disso e eu peço a vocês que por favor respeitem a privacidade deles. Eu ficarei feliz em responder mais perguntas quando eu retornar a Austrália. Obrigada”, concluiu.
Com raízes no hip hop, o breaking começou nos anos 1970 em Nova York. O formato olímpico acompanha o tradicional, com algumas restrições a palavrões na seleção musical. Sob o comando de MCs, duelos acontecem em uma área circular em que o objetivo é apresentar passos de dança e movimentos acrobáticos em sintonia com a música selecionada pelos DJs.
JOSUÉ SEIXAS / Folhapress