BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Nicolás Maduro anunciou no final desta segunda-feira (9) em seu programa na TV pública da Venezuela o início de uma parceria com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) que visa a produção agrícola em uma área de 10 mil hectares no estado de Bolívar, o maior do país e o que o liga ao Brasil.
“Na Venezuela temos o ‘Movimento Com Terra’, não Sem Terra”, brincou o ditador que falava ao lado de membros do MST que estão em Caracas. “Esse é o movimento mais cristão que há”, seguiu. O chavismo tem uma relação de longa data com o Movimento Sem Terra.
O objetivo é produzir alimentos como milho, soja e feijão, segundo os detalhes divulgados, e Maduro lançou a meta de chegar a 100 mil hectares de produção nessa parceria nos próximos anos.
Procurado, o MST disse à reportagem que enviará uma equipe técnica ao país para “estudar as condições da área e propor um projeto de desenvolvimento agroflorestal na região” após Maduro ter pedido apoio técnico ao movimento. A ideia seria replicar o modelo de agricultura familiar que na Venezuela foi batizado de “conuco”.
Maduro tem afagado o MST, um dos poucos movimentos sociais do Brasil que seguem com relação estreita com o chavismo mesmo após a autocratização do país conduzida na última década.
Em outros períodos, essa relação era formada por uma tríade, finalmente composta pelos governos Lula 1 e 2. Situação bem diferente da observada neste governo Lula 3, que se distanciou de Caracas desde a contestada reeleição de Maduro no final de julho passado.
As rusgas ficaram claras na indireta enviada por uma das figuras centrais do chavismo e um dos principais nomes da parceria com o MST, o ex-vice-presidente e ex-chanceler Jorge Arreaza, hoje secretário-executivo da Alba (Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América), grupo do qual outrora Lula também foi próximo.
Ao celebrar a parceria anunciada por Maduro, Arreaza escreveu no aplicativo de mensagens Telegram que “Maduro cumpre o projeto sonhado pelo comandante Hugo Chávez e o MST” e acrescentou: “e o governo do Brasil de então, diferente do atual”.
O chefe do governo ao qual Arreaza se refere não mudou: Lula (PT), que durante seus primeiro e segundo mandatos (2003-2011) foi contemporâneo de Hugo Chávez (1954-2013) na Presidência. O que muda é o tom da política externa do governo do petista.
Lula afagou Maduro e chegou a recebê-lo no Palácio do Planalto em seu primeiro ano da terceira gestão. Disse que o conceito de democracia era relativo em uma contestada fala para defender o regime de Caracas.
Até que o endurecimento da ditadura na mais recente eleição levou ao afastamento, ainda que Brasília tente se colocar como um mediador possível para a crise que novamente vive o país.
Recentemente, em um programa local após a eleição de 28 de julho, Arreaza disse que o Lula de agora é bem diferente do de outros anos. “Tem uma aliança com partidos de direita, seu próprio vice é de direita”, disse, referindo-se a Geraldo Alckmin.
“Lula almeja ser um grande líder da América Latina, e que bom se o fosse, mas não como um catalisador das pressões dos Estados Unidos”, seguiu, dando razões a recentes declarações do ex-aliado de Lula Daniel Ortega, ditador da Nicarágua, para quem o petista é puxa saco de Washington e um “representante ianque”.
Enquanto isso, o Movimento Sem Terra segue na defesa de Maduro. Em uma formação recente a seus membros compartilhada pelo próprio MST em seu site, o membro da direção nacional João Pedro Stédile, que foi à Venezuela como observador eleitoral, disse que o país “é o centro da luta de classes internacional na América Latina”.
“Se está travando há muitos anos a luta de classes. De um lado, o interesse das petroleiras americanas e, do outro, o povo da Venezuela que quer manter o controle do petróleo para que ele seja usado a serviço das necessidades do povo venezuelano”, seguiu.
MAYARA PAIXÃO / Folhapress