BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Francisco Wanderley Luiz, 59, passou longas temporadas em Brasília e visitou prédios públicos importantes da capital federal antes de colocar em prática o atentado a bomba no qual se explodiu na noite de quarta-feira (13).
A ex-mulher de Francisco relatou que ele esteve em Brasília em janeiro de 2023, quando ficou por dois meses. Nesta última temporada, em 2024, teria chegado em julho e alugou um pequeno imóvel em Ceilândia, na região administrativa do Distrito Federal.
A responsável pela casa disse à Folha que Francisco pagava sempre em dia -às vezes adiantado- os R$ 570 de aluguel e costumava ir para a praça dos Três Poderes de bicicleta. Também afirmou que conheceu o autor dos ataques na sua primeira passagem pela capital federal.
O apartamento alugado por Francisco continha explosivos e um recado para Débora Rodrigues, presa por participar dos atos golpistas do 8 de janeiro de 2023. Policiais federais usaram um robô para abrir a residência.
O chaveiro também era conhecido por comerciantes que atuam ao lado do anexo quatro da Câmara dos Deputados, onde ocorreu uma das explosões, em um carro registrado em seu nome.
Os vendedores locais disseram à Folha de S.Paulo que Francisco alugou um trailer no espaço há cerca de três meses e costumava ficar sentado ao lado do veículo.
Além disso, afirmaram que ele foi mais de uma vez ao local na semana do atentado, quando consumiu caldo e bolo de comerciantes da região.
Em Ceilândia, uma semana antes do atentado, o chaveiro comprou R$ 1.545 em fogos de artifício. Ele gastou R$ 295 com um conjunto (torta) de 64 tubos de 20 mm, segundo o proprietário da loja. No mesmo dia, voltou para comprar fogos de maior intensidade. Gastou mais R$ 1.250 com um caixa de fogos de 25 tubos de 60 mm.
Francisco também esteve na manhã de quarta no anexo quatro da Câmara. De acordo com a assessoria de imprensa da Casa, o chaveiro entrou no local às 8h15, foi ao banheiro e “logo saiu”.
Ainda segundo a Câmara, foi feita varredura em todos os locais por onde ele passou e nada foi encontrado. Em nota, disse ainda que “não houve registro de nenhuma explosão em área” da Casa.
O deputado federal Jorge Goetten (Republicanos-SC) relatou que Francisco esteve em seu gabinete algumas vezes no ano passado e uma última vez em agosto deste ano.
Ele declarou que conhecia o homem havia mais de 30 anos. “Fiquei contente com a visita dele, sempre fico feliz com visitas, ainda mais quando é um conterrâneo. Estamos muito abalados”, afirmou à Folha.
Francisco também visitou o STF no dia 24 de agosto deste ano, quando participou de uma visita pública no local. A agenda de passeios foi suspensa pelo tribunal após o atentado.
Na noite da explosão, o homem se dirigiu até o local novamente, mas foi impedido por seguranças. Após a tentativa, ele foi para frente da estátua da Justiça, onde morreu com explosivos que carregava.
O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, disse que investiga se o chaveiro de Santa Catarina participou da depredação de 8 de janeiro e se planejou o atentado a longo prazo.
Para o diretor-geral, a ação foi premeditada. Ele apontou como indícios a presença do chaveiro em Brasília em ocasiões anteriores e os artefatos encontrados em seu carro e no local alugado por ele no DF. Andrei atribuiu a ação à radicalização de grupos extremistas.
Francisco disputou a eleição de 2020 como candidato a vereador pelo PL, com o nome de urna Tiü França, em Rio do Sul (SC), sem ter sido eleito -conseguiu 98 votos.
CONSTANÇA REZENDE / Folhapress