Veterana do skate aos 26, Gabi volta como fênix para ir às Olimpíadas

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Décima colocada do ranking olímpico do skate street, Gabi Mazetto foi só espectadora da final da SLS, em São Paulo, no fim de semana. Um mês e oito dias depois de passar por uma cirurgia na fíbula, que exigiu a colocação de uma placa de titânio e seis parafusos, ela já anda sem muletas e planeja o retorno às competições a tempo de se classificar às Olimpíadas.

“Em três semanas já comecei a caminhar sem muleta, eu não acreditava. O fisioterapeuta da seleção falava para andar, eu não acreditava. Tem um mês e oito dias, só, e falta só mais um pouquinho para poder subir no skate”, contou.

Aos 26 anos, a brasileira é uma veterana perto da turma que, como ela, anda na elite do skate mundial. Na final da SLS, a mais velha era a japonesa Yumeka Oda, de 17 anos. No pódio, Rayssa Leal, de 15, Momiji Nishiya, de 16, e Chloe Covell, de 13, exatamente a metade da idade de Gabi.

A veterana já viveu de tudo um pouco e, no ano passado, lançou um minidoc chamado “The Phoenix Comeback” (“A Volta da Fênix), para contar uma história cheia de recomeços. Nascida em Praia Grande, no litoral de São Paulo, despontava como candidata a formar a seleção olímpica do Brasil em Tóquio-2020 quando rompeu praticamente todos os ligamentos possíveis do joelho.

Quando estava perto de voltar ao esporte, descobriu que estava grávida da pequena Liz, que nasceu seis dias antes de começar o skate nas Olimpíadas e, naturalmente, a tirou da corrida por uma vaga em Tóquio. “Para mim, era o skate estar lá, e eu tinha a oportunidade de estar lá, mas a Liz nasceu e veio como minha medalha”, contou ao UOL, este ano.

Na volta, foi gradualmente assumindo um lugar no top 3 do skate street brasileiro, onde Rayssa e Pâmela Rosa têm lugar cativo. Foi finalista de duas etapas e da final da SLS do ano passado, sexta colocada no Mundial, em fevereiro, e sétima da etapa da Roma do circuito pré-olímpico, em setembro. Tudo muito bom, tudo muito bem, até que veio a nova lesão, e a nova cirurgia.

“Essa lesão eu creio que veio para me fazer mais forte”, avalia Gabi, que só vai poder voltar a subir no skate quando conseguir levantar a ponta do pé, com o calcanhar no chão, em um ângulo de 45º. Atualmente está nos 32º. “Espero que no próximo mês já esteja conseguindo. Eu sei que não é uma boa hora para se machucar, mas graças a Deus tem mais duas etapas para as Olimpíadas na primeira janela. Vou conseguir me recuperar bem e ir forte para as próximas etapas”, acredita.

A corrida olímpica continua com o Campeonato Mundial, em Tóquio, na semana que vem, sem Gabi. A brasileira espera estar presente no evento que fecha a “primeira janela”, que seria em Sharjah, nos Emirados Árabes Unidos, em janeiro, mas foi adiado para março, em Dubai, no mesmo país.

“Essa mudança me ajudou. Não foi bom para outras pessoas, que estavam treinando para competir lá, mas para mim acabou sendo bom, porque tenho mais tempo para me recuperar e treinar. Se der tudo certo, espero estar lá”, afirma.

A World Skate ainda não divulgou detalhadamente como será a chamada “segunda janela”. Existem dois eventos confirmados, do Olympic Qualifying Series, que também incluem escalada, BMX freestyle e breaking, em Shangai (China), em maio, e Budapeste (Hungria), em junho, mas não está claro se haverá outros, nem se a pontuação vai zerar ao fim da primeira janela.

Em décimo lugar em um ranking repleto de japonesas e norte-americanas, Gabi tem, nesta sexta-feira (8), enorme folga sobre a linha de corte e sobre a quarta melhor brasileira, Kemily Suiara, que é a 31ª.

“Eu sabia que estava numa vantagem, graças a Deus consegui fazer duas finais nesses quatro campeonatos em que fui, e com isso consegui bastante pontos. Mas não tenho que ficar no conforto. Sei que as meninas estão andando bastante, o nível mundial tá bem alto, sei que quando voltar a andar de skate tenho de correr atrás e fazer o possível para me fazer forte.”

Nesse retorno, Gabi quer dar um passo além, e entrar diretamente na briga por medalhas contra as mais novas. “Eu preciso acreditar mais em mim mesma, manobra tenho, força de vontade também. Eu tenho que acreditar mais em mim e ir firme e forte pensando que posso conseguir as coisas. A maioria das manobras que as meninas dão eu sei que tenho também.”

DEMÉTRIO VECCHIOLI / Folhapress

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