FILADÉLFIA, EUA (FOLHAPRES0 – Muitos democratas não tinham ouvido falar no nome de Tim Walz até esta terça-feira (6), quando o governador de Minnesota foi anunciado por Kamala Harris como sua escolha para vice-presidente.
E não estamos falando de um grupo pouco engajado politicamente, mas de eleitores que vieram ao primeiro comício da dupla, que acontece nesta noite na Filadélfia (Pensilvânia).
A Folha de S.Paulo conversou com participantes do evento enquanto aguardavam o início dos discursos, durante a tarde de quarta. O Liacouras Center, onde acontece o comício, tem capacidade de 10 mil pessoas e tinha cerca de 80% de lotação. Uma playlist com músicas pop, muitas de Beyoncé, tocavam a todo volume, enquanto vez ou outra o público fazia olas.
“Ouvi o nome de Walz pela primeira vez hoje, literalmente”, diz, rindo, Angelique Jackson, 37. A enfermeira afirma que não sabe muito sobre o político, mas que achou a escolha de Kamala inteligente -apesar de sua torcida ter sido por Josh Shapiro, o governador da Pensilvânia que era o favorito para o posto até esta segunda.
“Walz é um cara branco de Minnesota, do meio do nada. Acho que as pessoas podem se identificar com ele”, afirma ela, bem-humorada. “Shapiro talvez fosse liberal demais. Uma mulher negra e Shapiro talvez fosse uma chapa difícil.”
Myriam, 71, afirma que foi procurar saber mais sobre Walz nesta terça, após ele ser anunciado por Kamala. “Uma coisa que me chamou a atenção foi que ele e a mulher passaram por um tratamento de fertilidade. Acho que isso é importante para esta eleição. O passado dele em educação também pode fazer diferença”, aponta ela.
Myriam também ficou animada com a retórica direta do governador de Minnesota. “Você viu ele chamando o Trump de esquisito?”, pergunta ela à reportagem, dando risada. “Quero ver hoje se ele não vai ter medo de continuar usando a mesma linguagem, isso é muito interessante.”
A abordagem simples de Walz foi justamente o que o destacou na corrida pelo posto de vice. O jeitão de técnico de futebol americano de ensino médio do político do meio-oeste é uma aposta da campanha para engajar um eleitorado mais moderado.
Myriam diz que tem esperança que a personalidade de Walz ajude a responder ao apelo de Donald Trump, que também se vale de uma comunicação mais direta e popular com o eleitor. “Espero que agora meu sobrinho mude de lado”, diz ela.
Amy Kaner, 59, também afirma que não conhece Walz o suficiente para avaliar a escolha de Kamala, mas que confia na decisão da candidata. Ao lado da amiga Hgayle Share’raab, 64, ela afirma que ambas vêm do condado de Bucks, uma área extremamente polarizada da Pensilvânia. “Metade das pessoas lá são democratas, metade são republicanas”, diz Share’raab.
Apesar da popularidade de Shapiro no estado, elas afirmam que o governador enfrenta muita oposição, e por isso Walz pode ser uma escolha melhor.
Amy Kanner, 59, e Hgayle Share’raab, 64, conversam com a Folha em comício do Partido Democrata na Pensilvânia no dia do anúncio de Tim Walz como vice de Kamala Harris Fernanda Perrin – 6.ago.24/Folhapress A imagem mostra duas mulheres sorrindo para a câmera em um ambiente de evento. A mulher à esquerda usa uma camiseta cinza com a frase ‘WE’RE NOT GOING BACK’ e a mulher à direita está vestindo uma blusa laranja. Ambas estão sentadas em cadeiras vermelhas, com um fundo que sugere um local de evento. Ao fundo, é possível ver outras pessoas e uma iluminação suave. **** Rebecca Wilson, 20, concorda que Walz foi um caminho mais seguro. “Como Shapiro, eu também sou judia, mas o antissemitismo está fora de controle”, afirma a jovem, que participa da mobilização jovem democrata em Washington, onde estuda na universidade Georgetown.
Bob Morris, 77, também vê Walz como uma escolha segura. “Muitos dos meus amigos mais progressistas não votariam em Shapiro”, diz o aposentado.
Dois participantes de origem indiana, um homem de 35 anos e uma mulher de 31, também afirmaram que precisam saber mais sobre Walz para opinarem sobre a escolha, mas que, a princípio, parece estratégia. Eles vieram de Nova York para acompanhar o comício, e não quiseram dizer seus nomes por temerem uma represália de seu empregador.
Os dois afirmam estarem muito empolgados de verem a primeira mulher de origem indiana que pode se tornar presidente. Sobre os comentários de Trump questionando a raça de Kamala, eles dizem que esse tipo de retórica é “irrelevante”. Ao mesmo tempo, eles admitem que é o tipo de discurso que pode funcionar com eleitores brancos que não têm exposição a ambientes de maior diversidade, geralmente concentrados em centros urbanos.
Jackson também afirma estar preocupada com as perspectivas de Kamala, por ser mulher e negra -como ela própria. “Nos EUA, não há igualdade entre pessoas negras e brancas. Você [negro] tem que lutar muito mais para ser visto como valoroso o suficiente. Meu medo é que as pessoas não vejam Kamala como valorosa o suficiente”, diz.
Ela ficou mais otimista com a corrida após a troca de Joe Biden por sua vice, mas não a ponto de achar que o partido tem melhores chances de vencer agora. “Melhor é uma palavra forte”, diz.
FERNANDA PERRIN / Folhapress