RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O deputado estadual Eduardo Cavaliere (PSD), 29, escolhido por Eduardo Paes (PSD) como vice na chapa para tentar a reeleição, teve ascensão meteórica no grupo político do prefeito do Rio de Janeiro. De admirador-colaborador na campanha derrotada ao governo estadual de 2018, ele se cacifou para, seis anos depois, ser a primeira opção como sucessor do prefeito.
Antes de assumir por completo a carreira política, Cavaliere fundou a startup Gabriel, de videomonitoramento urbano, produziu documentário e organizou treinamentos em inovação na China, onde viveu por cerca de três anos.
Cavaliere conheceu o prefeito em 2018 por meio do ex-chefe de gabinete de Paes, Gustavo Schmidt, de quem foi aluno na FGV Direito Rio. Ele se declarou um admirador e conseguiu uma vaga de ajudante de ordens na campanha.
Naquele ano, aos 23, Cavaliere havia recém-encerrado o curso de Direito com concentração em matemática aplicada na FGV. Com um currículo considerado invejável, que incluía um intercâmbio de dois anos na China, o então recém-formado acabara de concluir uma pesquisa cuja conclusão era a principal bandeira de Paes no pleito que simbolizou o auge do bolsonarismo no país: os movimentos de renovação política eram um engodo.
“Não podemos condenar a esperança justa de brasileiras e brasileiros por ideias novas, mudanças e melhoria em suas vidas. O erro que não podemos cometer mais uma vez é confundir a luta por um país justo, menos desigual e mais desenvolvido com slogans de grupos que aspiram a ocupar esses espaços. Grupos que propõem a renovação de caras e práticas, mas nem sequer apresentam uma proposta clara e corajosa sobre como chegaremos lá”, afirmou Cavaliere à Folha em 2018, junto com Octávio Miranda, com quem realizou a pesquisa.
Paes acabou atropelado pela ascensão de Wilson Witzel, símbolo das “candidaturas outsiders”. Menos de dois anos depois, o ex-governador sofreu o impeachment.
“Eduardo [Cavaliere] sempre teve muito sucesso. Era o melhor aluno da escola, da faculdade. A derrota foi boa para ele lidar com a frustração”, disse Erick Coser, CEO da Gabriel e ex-sócio do deputado.
Cavaliere voltou à China para a produção de documentários sobre o país junto com Ronaldo Lemos, advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro e colunista da Folha. A série “Expresso Futuro” foi exibida no canal Futura e TV Globo.
No fim de 2019, ele fundou a Gabriel, start-up de videomonitoramento urbano que levantou, pouco após ser fundada, US$ 1,75 milhões (cerca de R$ 10 milhões à época) numa rodada com investidores em novas tecnologias. Um dos aportes veio Globo Ventures, unidade de investimento do Grupo Globo.
Em alguns meses, a Gabriel espalhou cerca 300 câmeras pela zona sul do Rio de Janeiro e apostou na tecnologia junto com uma colaboração intensa com a polícia. Atualmente, a empresa expandiu sua atuação para São Paulo, conta com 7.000 câmeras nas duas cidades e já levantou R$ 110 milhões em novas rodadas de investimento.
Apesar do sucesso empresarial que se avizinhava, Cavaliere decidiu retornar à política. Em 2020, participou de forma mais ativa na campanha de Paes à prefeitura, deixou de integrar a Gabriel e foi nomeado secretário de Meio Ambiente no ano seguinte.
Em 2022, foi candidato pela primeira vez a uma vaga na Assembleia Legislativa, tendo sido eleito com 33,6 mil votos com uma campanha vinculada a Paes.
O mandato lhe garantiu mais espaço na gestão municipal. Em 2023, assumiu a chefia da Casa Civil, onde emulou as características do prefeito no dia a dia: ordens diretas, muitas vezes interpretadas como arrogância por subordinados.
Deixou o cargo em abril justamente para ser uma opção para o prefeito de escolha ao cargo. Acabou sendo escolhido para o posto, tendo sido preterido o deputado federal Pedro Paulo (PSD), braço-direito de Paes há três décadas. A justificativa foi o possível impacto de um vídeo íntimo do aliado na campanha.
Segundo interlocutores, Paes viu como um potencial as semelhanças de Cavaliere.
Além do estilo, o deputado acabou trilhando, com atalhos, carreira com semelhanças com a do prefeito. Formou-se em Direito, mas não exerceu a advocacia. A primeira secretaria a assumir foi a de Meio Ambiente, assim como Paes em 2001, na gestão César Maia.
Não foi, porém, subprefeito, vereador, deputado federal e secretário estadual como o chefe.
Líderes partidários do Rio de Janeiro afirmam que falta a Cavaliere o traquejo político de Paes, conquistado ao longo de mais de 30 anos de vida pública mais do que o seu vice de chapa tem de vida. Há dúvidas se ele poderá adquiri-lo num curto prazo.
Ao ser escolhido, Cavaliere pode vir a comandar a segunda maior cidade do país aos 31 anos. Se reeleito, Paes avalia a possibilidade de concorrer ao governo estadual em 2026, quando teria de deixar o cargo em abril.
A inexperiência política do vice, combinada à real possibilidade dele assumir o Palácio da Cidade, será um dos flancos de ataques dos adversários de Paes, em especial o deputado Alexandre Ramagem (PL).
ITALO NOGUEIRA / Folhapress