SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Vice?” foi a pergunta que o coronel da reserva da PM Ricardo Mello Araújo (PL), candidato a vice-prefeito na chapa de Ricardo Nunes (MDB), mais ouviu ao circular em campanha pela Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) nesta sexta-feira (16).
Ex-chefe da Rota, o bolsonarista Mello Araújo foi nomeado diretor-presidente da Ceagesp por Jair Bolsonaro (PL) em 2020 e ficou no cargo até 2022. Foi o ex-presidente que o indicou para a vice de Nunes.
Pela manhã, vestindo uma camiseta verde com a inscrição “pátria amada Brasil”, Mello Araújo foi tietado por apoiadores entre galpões e corredores do entreposto no seu primeiro dia de campanha oficial.
Além de pedir “voto no 15” aos trabalhadores do local e escutar deles que sua gestão faz falta, teve que explicar que era candidato, o que muitos desconheciam. Mais de uma vez, recebeu como resposta: “poxa, mas eu voto em Osasco”, cidade vizinha à Ceagesp.
“É igual Benzetacil, dói um pouquinho, mas cura. Estamos entrando para ajudar”, disse Mello Araújo ao distribuir o material de campanha que traz ele ao lado de Nunes.
Em meio a uma crise entre a família Bolsonaro e Nunes e diante da predileção do eleitorado bolsonarista a Pablo Marçal (PRTB), Mello Araújo ainda defendeu sua escolha e expôs as polêmicas do influenciador para quem o questionou sobre isso.
“Caramba, coronel, era para o senhor sair [candidato a] prefeito, deixa o Nunes de lado”, desabafou um trabalhador, demonstrando indignação com o fato de o PL de Bolsonaro não ter um candidato próprio.
“O Nunes é de esquerda”, emendou, lembrando que Marta Suplicy (PT) era secretária na gestão municipal, algo que Marçal menciona com frequência.
“A gente tem que dar um passinho por vez. Ajuda a gente. O Ricardo tem a experiência e eu tenho a vontade. Ele trabalha, ele fez muita coisa, vai começar a mostrar. Muita gente não enxergou, ele ficava trabalhando, e os outros só falam”, respondeu Araújo.
“O Marçal?”, perguntou o trabalhador ao pegar a referência no ar. E apontou para um colega: “esse aqui é apaixonado por ele”.
“Pesquisa”, recomendou Mello Araújo, questionando se eles achavam certo votar em alguém que já foi condenado por participar de uma quadrilha que dava golpe em bancos –o crime prescreveu.
Diante da dúvida dos trabalhadores sobre isso ser verdade, esclareceu: “É verdade, pesquisa”. E se despediu com “fiquem com Deus”.
“Um tem o dom da palavra e arrasta muita gente. O pessoal precisa saber quem é quem. Foi o que eu falei, pesquisa, é só pesquisar”, disse o candidato a vice para a Folha, que acompanhou seu giro pela Ceagesp.
Questionado sobre as críticas da família Bolsonaro a Nunes e os acenos a Marçal, expostos nesta semana em declarações de Jair e Eduardo Bolsonaro, ele afirmou que “isso vai ser resolvido”. Segundo ele, “não há dúvida” de que o ex-presidente vai participar da campanha de Nunes.
O estopim da crise foi um vídeo que Nunes gravou em apoio a Joice Hasselmann (Podemos), que é considerada uma traidora pelo boslonarismo e que agora concorre a vereadora. Trata-se de uma vinheta genérica, gravada pelo prefeito para vários candidatos a vereador de sua coligação.
“Foi um vídeo que gravou, infeliz, que acabou gerando isso aí”, completou Araújo.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, aliados de Nunes passaram a atuar em uma reaproximação com a família Bolsonaro para contornar o desgaste. Durante a tarde, em uma entrevista à imprensa ao lado do vice após um ato de campanha no centro, Nunes afirmou que Mello Araújo ajudou nesse processo.
“Está tudo tranquilo, o coronel Mello esteve com ele [Bolsonaro], esteve com o Eduardo, falei com a Michelle [Bolsonaro]. A gente está unido. Às vezes dá um ruidinho aqui, outro ali, por [questão de] interpretação. O que ele nos disse é que foi mal-interpretado e que ele é 100% com a gente. Isso é palavra do presidente Bolsonaro”, disse o prefeito.
Além de acompanhá-lo no ato na região central, Mello Araújo também esteve ao lado de Nunes pela manhã, em uma missa na Catedral de Santo Amaro (zona sul), na estreia da campanha.
Na Ceagesp, Mello Araújo participou de um café da manhã no Sincaesp, sindicato dos permissionários. Em seguida, em seu passeio pelo entreposto, ouviu reclamações sobre a gestão atual e elogios ao seu período como diretor-presidente.
O coronel afirma que, à frente da Ceagesp, combateu a corrupção, o tráfico de drogas e a exploração sexual de menores, além de reduzir taxas.
CAROLINA LINHARES / Folhapress