PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – A mais recente vítima identificada da enchente no Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul, deixou nove filhos órfãos. O corpo da empregada doméstica Jaqueline Medianeira Fagundes, 45, foi encontrado por volta das 16h de terça (19) por bombeiros de Bento Gonçalves e de Porto Alegre.
Após o sepultamento de Jaqueline nesta quarta (20), a filha mais velha dela, Tainara Letícia da Silva, 28, disse que pedirá a guarda dos três irmãos mais novos: uma menina de 13 anos e dois meninos de 7 e 8 anos. A família mora em Guaporé (RS), na serra gaúcha.
O corpo de Jaqueline estava em um carro preso ao cinto de segurança. O veículo foi encontrado no rio Taquari, a 300 metros da ponte de Santa Bárbara, em São Valentim do Sul (RS) –a estrutura foi levada pelas enxurradas do dia 5 de setembro.
O veículo estava afundado em pé, com a parte dianteira em direção ao fundo do rio, e foi localizado pelas equipes de busca com um equipamento que detecta objetos submersos.
Jaqueline estava em companhia do namorado no momento do temporal. O corpo de Rogério Godofredo de Oliveira, 37, foi encontrado preso a galhos à margem do rio em 6 de setembro em um distrito de Santa Tereza (RS).
Ela estava visitando o namorado, morador de Santa Tereza, quando o casal foi surpreendido na estrada pela tempestade. Para a família, eles podem não ter percebido que a ponte havia sido derrubada pela força da água e, com isso, caíram no rio Taquari.
Rogério havia comprado o carro, um Escort, na véspera. Jaqueline acompanhava o namorado, que trabalhava como gesseiro e estava a caminho de um serviço na região quando ocorreu o acidente.
Apesar de ter sido encontrado no dia 6, o corpo de Rogério só foi identificado no dia 8. Foi então que a mãe dele comunicou a família de Jaqueline que, provavelmente, ela estaria entre as vítimas da enchente. Até então, Tainara e os irmãos tinham a esperança de que a mãe e o namorado estivessem apenas incomunicáveis.
Após quase uma semana sem notícias, os filhos passaram a temer que o corpo estivesse em algum IML (Instituto Médico-Legal) sem identificação e fizeram uma romaria por instituições em busca do corpo e fazendo coleta de DNA.
A hipótese de que o carro pudesse ter caído no Taquari foi reforçada por câmeras de segurança que captaram o Escort deixando a cidade antes do temporal. Todavia, o carro passou duas semanas afundado até que a tragédia se confirmasse.
A morte de Jaqueline dá novo rumo a um drama familiar já em andamento. Os filhos de Jaqueline são de três relacionamentos diferentes. As três filhas mais velhas, do primeiro relacionamento, já haviam saído de casa. Jaqueline morava com dois filhos homens.
Dos quatro filhos mais novos, um estava aos cuidados de uma madrinha. Os três outros foram recentemente encaminhados a uma casa de acolhimento até que Jaqueline se reestabelecesse de uma crise financeira que a levou a ter luz e água cortados.
Agora, Tainara, que é casada e mãe de uma criança de três anos, pretende pedir na Justiça a guarda dos três irmãos mais novos. A madrinha que toma conta de uma das crianças também pedirá a guarda desta.
“Minha mãe tinha os problemas dela, mas tinha um coração gigantesco e apreendi isso com ela. Não posso deixar eles [os irmãos] nesse lugar, nessas condições, tristes porque perderam a mãe”, diz Tainara.
Para isso, ela pretende contar com a ajuda das estruturas de assistência social que se estabeleceram no Vale do Taquari desde a tragédia e mobilizar ações beneficentes.
Conforme o último boletim da Defesa Civil do Rio Grande do Sul, são 49 mortes confirmadas e nove pessoas seguem desaparecidas. Há 753 desabrigados.
CAUE FONSECA / Folhapress