CASCAVEL, PR (FOLHAPRESS) – Maria Valdete, 61, e Renato Bartnik, 65, embarcaram no voo da Voepass na última sexta-feira (9) para visitar o irmão dele no Rio de Janeiro. Juntos havia 45 anos, eles começaram namorar ainda na infância em Cascavel (PR) e tiveram quatro filhos.
Amigos próximos da família contaram que Maria Valdete tentou convencer o marido a adiar a viagem porque queria passar o Dia dos Pais em casa. A data era delicada para o casal que tinha perdido um filho há cerca de um ano.
No dia do embarque, a filha cabeleireira fez questão de arrumar o cabelo e fazer a maquiagem da mãe. Toda a família foi ao aeroporto para se despedir. Das 62 vítimas do voo com destino ao aeroporto de Guarulhos (Grande SP), 22 moravam em Cascavel. Nenhum dos 58 passageiros e quatro tripulantes sobreviveu à tragédia.
Os corpos do casal chegaram ao aeroporto local no início da tarde desta quarta-feira (14) em um voo da FAB (Força Aérea Brasileira) junto ao caixão que trazia a escrevente Adriana Dalfovo, velada em uma capela do serviço funeral municipal.
Caminhoneiro e ex-boia fria, Bartnik prestava serviço de frete para produtores de grãos da região. O casal costumava frequentar com a família as missas de domingo na paróquia São Paulo. “Dirigiu a vida toda nas estradas e morreu em um avião”, lamentou o amigo Manoel da Silva.
Ele contou que viu Bartnik pela última vez no domingo anterior ao acidente, quando conversaram após a missa.
Durante o velório, uma das filhas passou mal e precisou ser levada a um posto de saúde. Com 96 anos, a mãe de Bartnik teve a pressão arterial monitorada após a chegada das urnas funerárias.
Na floricultura em frente ao cemitério, um familiar negociava a compra de uma coroa de flores, mas foi avisado pelo atendente de que o arranjo teria que ser entregue sem o tradicional cavalete, item em falta na cidade diante da comoção causada pelo acidente e dos velórios simultâneos.
Em Cascavel, o serviço funerário é administrado pela prefeitura, que dispõe de apenas quatro capelas pela cidade. Como forma de dar vazão aos velórios simultâneos, o prefeito Leonaldo Paranhos (Podemos) disponibilizou às famílias o centro de eventos municipal para a organização de um velório coletivo, mas a proposta foi recusada pelos parentes. Das 22 vítimas de Cascavel, 18 optaram por fazer as homenagens fúnebres em locais particulares.
O casal Antonio Zini Júnior e Kharine Pessoa Zini foram as primeiras vítimas do acidente aéreo a serem veladas em Cascavel, na terça (13). Os corpos foram liberados pelo IML (Instituto Médico Legal) de São Paulo na noite de segunda (12) e transportados de carro até o local onde a família vive, já que os parentes optaram por não esperar o translado disponibilizado em avião da FAB.
MARIANA ZYLBERKAN / Folhapress