SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A eleição de 2024 para vereador em São Paulo resultou numa Câmara Municipal mais ao centro e menos à direita do que a eleita no último ciclo. A análise das escolhas por locais de votação, porém, consegue revelar a existência de “ilhas ideológicas” e divisões claras nos partidos preferidos em áreas dentro de bairros.
Em distritos paulistanos, o centro político predomina em 44 deles, a direita em 30 e esquerda em 22. Há nessas regiões, locais de votação que mostram contraposição ao espectro ideológico dominante na vizinhança.
É o caso da Vila Andrade, por exemplo, na zona sula, onde existe predominância em votos para vereadores de siglas de direita. Mas, numa área do bairro, na favela de Paraisópolis, há uma divisão da maioria em votos de centro (parte oeste do bairro) e esquerda (parte leste).
Situação semelhante ocorre em Itaquera, na zona leste. Enquanto boa parte vota em vereadores alinhados à direita, o Conjunto Habitacional (Cohab) A. E. Carvalho escolheu políticos de esquerda.
O centro da cidade e parte da zona oeste votam em representantes de partidos de esquerda, mas na região de Higienópolis, entre os distritos da Consolação e Perdizes, há uma pequena ilha que elege nomes da direita.
No distrito de Pinheiros (zona oeste), também há uma diferença clara na tendência dos votos. A região com prédios e comércio tem mais apoio a políticos de esquerda, enquanto a área de casarões inclina-se para a direita. Essa divisão é marcada geograficamente pela avenida Rebouças.
O mesmo padrão se repete no distrito do Jardim Paulista, com a mesma avenida servindo como linha divisória das preferências políticas.
Em Marsillac, distrito do extremo sul com votos apenas em partidos à direita, há uma pequena mancha com votos mais ao centro. Assim como em Parelheiros, também à direita, mas com uma mancha de votos à esquerda na parte noroeste.
Na região central, há ilhas que concentram apoio a nomes do PSOL pela esquerda e do Novo pela direita. Na periferia, o domínio é de siglas maiores, como PT e União Brasil, é mais acentuado.
Para criar esse mapa, a Folha identificou locais de votação e os relacionou a bairros e vizinhanças (tecnicamente, os setores censitários, limites determinados pelo IBGE para coleta de dados do Censo). Depois, classificou os votos do eleitorado divulgados pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) conforme o GPS Partidário, metodologia que mede o posicionamento entre partidos no espectro ideológico.
O percentual de votos de cada região foi calculado a partir de uma ponderação dos mesmos de acordo com a distância do local de votação do ponto central do setor censitário. Com isso, o voto do eleitor de uma área mais afastada desse ponto foi computado no setor mais próximo.
Como votaram os distritos
As votações mais expressivas para vereadores ligados ao centro foram na área que engloba os distritos Belém, Pari, Penha e Tatuapé, na zona leste, e Jaçanã, Tucuruvi, Vila Guilherme, Vila Maria e Vila Medeiros, na zona norte, com 1,1 milhão de moradores.
O centro conquistou 20 das 55 cadeiras da Câmara. Os vereadores Danilo do Posto de Saúde e Ana Carolina Oliveira, ambos do Podemos, foram dois dos eleitos mais votados nessa área.
Já a direita, apesar de ter perdido espaço no Legislativo da cidade, passando de 26 para 17 cadeiras, principalmente por causa da derrocada do PSDB, teve candidatos a vereador mais votados em 30 distritos da cidade.
A área de maior domínio abrange os bairros da zona sul Capão Redondo, Cidade Dutra, Jardim Ângela, Jardim São Luís, Santo Amaro, Socorro, Vila Andrade e Campo Limpo -onde mora o candidato a prefeito Guilherme Boulos (PSOL).
O mais votado desse campo ali foi o vereador Silvinho, do União Brasil, que tem o atual presidente da Câmara Municipal, Milton Leite, como padrinho político.
Já a esquerda, que conquistou 18 cadeiras, uma a mais em relação a 2020, predominou em 22 distritos da cidade.
As áreas com votação mais expressiva abrangem Alto de Pinheiros, Barra Funda, Butantã, Jaguaré, Lapa, Morumbi, Perdizes, Pinheiros, Rio Pequeno, Vila Leopoldina, na zona oeste, e Bela Vista, Bom Retiro, Consolação, Jardim Paulista, Liberdade, República, Santa Cecília, Sé, Vila Mariana, Moema, na região central.
METODOLOGIA
A reportagem obteve a latitude e longitude dos locais de votação, disponibilizados em arquivo do TSE. Para locais sem coordenadas, utilizou-se o CEP para busca no banco de dados do Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos do IBGE. Nessa base, foi feita a filtragem por rua com nome semelhante dentro do mesmo CEP e número. Na ausência de correspondência exata, usou-se latitude e longitude do ponto médio do CEP ou outras alternativas, como a busca do endereço no Google Maps.
Depois, foi feita a correspondência entre locais de votação e setores censitários. A reportagem buscou locais de votação em intervalos crescentes de 100 metros, estabeleceu correspondência com os locais mais próximos e calculou a distância entre cada local de votação e o centro do setor censitário.
Por fim, os votos foram classificados conforme o GPS Partidário. A reportagem ponderou votos pela distância ao centro do setor e calculou a porcentagem de votos por ideologia, considerando a ponderação por distância.
O uso de setores censitários para a análise de resultados eleitorais é semelhante às análises realizadas pelo site Pindograma, que emprega técnicas diferentes de ponderação para setores sem locais de votação, utilizando a seleção de vizinhos aleatórios ou invés da distância para locais de votação próximos.
DANIEL MARIANI, NICHOLAS PRETTO E GÉSSICA BRANDINO / Folhapress