SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O Tribunal de Justiça de São Paulo determinou o bloqueio de pouco mais de R$ 530 mil das contas bancárias do atacante Willian Bigode, além do bloqueio de 10% do salário que o jogador recebe em seu atual clube, o Santos, e de 20% do valor que Bigode ainda tem a receber do Fluminense, sua ex-equipe.
A ordem judicial é referente ao processo movido pelo meia Gustavo Scarpa, atualmente no Atlético-MG, que acusa a empresa de Bigode, a WLCJ Consultoria e Gestão Empresarial, de participação comercial em golpe financeiro praticado pela Xland Holding e que gerou prejuízo de R$ 6,3 milhões a Scarpa.
No que se refere ao bloqueio de parte das verbas relacionadas à passagem de Bigode pelo Fluminense, o clube carioca ainda deve ao jogador R$ 1,8 milhão. Desse valor, portanto, a Justiça pediu o bloqueio de 20% (R$ 360 mil).
O advogado Bruno Santana, que representa Willian Bigode, destacou que o acordo entre Scarpa e Xland não envolveu a WLCJ Consultoria e Gestão Empresarial e que contestará a decisão.
“Nos mantemos convictos na certeza de que após a apresentação da defesa [contestação], restará absolutamente comprovada a ausência de qualquer responsabilidade jurídica de Willian Bigode”, disse o advogado.
A reportagem entrou em contato com os advogados de Gustavo Scarpa para posicionamento em relação à decisão judicial, mas ainda não houve retorno.
ENTENDA O CASO
Scarpa pede na Justiça a devolução de R$ 5,3 milhões investidos na empresa Xland, que prometia rendimentos de até 5% ao mês em operações com criptomoedas.
Em 31 de maio de 2022, Scarpa investiu R$ 6,3 milhões em uma conta aberta na Xland. Porém, menos de 90 dias depois, o jogador pediu a devolução do dinheiro à Xland por desconfiar da empresa. Na época, o atleta alegou a existência de cláusula no contrato que estabelecia a possibilidade de rescisão contratual por qualquer uma das partes com devolução do dinheiro.
Para a devolução da quantia investida em caso de quebra de contrato, haveria desconto de parte do valor. Desta forma, Scarpa tenta na Justiça reaver R$ 5,3 milhões.
Em setembro de 2022, Scarpa acionou o Tribunal de Justiça de São Paulo. Inicialmente, a ação tinha como alvo a Xland, mas os sócios e os bens da empresa não foram localizados. Uma pedra de alexandrita foi colocada pela Xland como garantia em caso de dívidas com clientes. A empresa teria avaliado a pedra de alexandrita em mais de R$ 2,5 bilhões, mas uma nota fiscal encontrada apresentou a compra do material no valor de apenas R$ 6 mil, insuficiente para saldar o valor da execução.
Quando Scarpa entrou com o investimento na Xland, ele e Bigode atuavam juntos no Palmeiras. Scarpa diz que foi convencido por Bigode a investir na Xland e que a empresa de Bigode teria intermediado todo o acordo, em uma relação que, segundo a defesa de Scarpa, caracterizou parceria comercial da WLCJ com a Xland.
A relação de amizade ruiu após Scarpa começar a ter problemas com a Xland e pedir auxílio a Bigode.
Em fevereiro de 2023, o Tribunal deferiu o pedido dos advogados de Scarpa para a inclusão da empresa de Willian Bigode no polo passivo do processo, determinando, posteriormente, o levantamento de valores dos sócios.
Além de Bigode, a WLCJ é composta por Loisy Marla Coelho Pires de Siqueira (mulher de Willian Bigode) e Camila Moreira de Biasi Fava. Na Justiça, a defesa de Bigode informou que o contrato de Scarpa foi firmado exclusivamente com a Xland, não havendo qualquer acordo verbal ou escrito com a WLCJ.
No entanto, o juiz Danilo Fadel de Castro concluiu que houve a responsabilidade solidária da WLCJ por “aproximar o cliente da prestadora de serviços e participar da cadeia de fornecedores, comprovando sua legitimidade solidária pelos danos porventura sofridos pelo consumidor [Scarpa]”.
“Ao que os elementos contidos nos autos indicam, através de seus sócios, a empresa requerida [WLCJ] atuou como interlocutora entre o autor e as demais prestadoras de serviço, restando incontroverso que era responsável pela captação de clientes para a requerida Xland e com esta mantém ou mantinha verdadeira parceria comercial”, destacou o juiz.
Em junho, a Justiça deferiu a tentativa de bloqueio de ativos financeiros em nome de Willian Bigode e das outras duas sócias da WLCJ (Loisy e Camila).
No rastreio das contas bancárias de Bigode, a Justiça encontrou pouco mais de R$ 534 mil, valor bloqueado. O Tribunal bloqueou pouco mais de R$ 4 mil das contas de Loisy Siqueira e apenas R$ 35,94 de Camila.
Sobre o bloqueio de 10% dos rendimentos líquidos de Bigode no Santos, o juiz entendeu que o valor retido não compromete a subsistência do atleta.
BRUNO RODRIGUES / Folhapress