BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O líder chinês, Xi Jinping, chegou na manhã desta quarta-feira (20) no Palácio da Alvorada para visita oficial. Ele foi recebido pelo presidente Lula (PT) e pela primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja.
Além da cerimônia de chegada, típica de chefes de Estado, ele terá reunião bilateral com Lula e outra ampliada, com sua delegação. Depois, participará de assinatura de cerimônia de atos, declaração conjunta à imprensa e almoço.
O dirigente chinês terá ainda um jantar em sua homenagem no Palácio do Itamaraty, no fim do dia, com convidados do governo, empresários e representantes da sociedade civil.
A recepção no Alvorada é incomum. O local é de mais difícil acesso, distante de outros prédios e com o hotel onde está hospedado o chinês a cerca de 1km. A visita de Xi Jinping, que chegou do Rio de Janeiro a Brasília na véspera, envolveu questões de segurança como reservar o hotel inteiro para sua delegação.
Como a Folha mostrou, apesar das pressões chinesas nos últimos meses, o governo brasileiro não deve assinar a Nova Rota da Seda -guarda-chuva de projetos de investimentos chineses. Apesar disso, serão assinados mais de uma dezena de acordos nesta que é a visita mais esperada do ano a Lula.
A China já é principal parceiro comercial do Brasil e, diante da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos -que prometeu tarifas e outras medidas protecionistas antes de ser eleito-, o fortalecimento da relação entre Pequim e Brasília tornou-se ainda mais necessário.
O anúncio da entrada do Brasil no projeto chinês de investimentos é há anos uma demanda da China que permeou a discussão de acordos entre os países e dividiu o governo brasileiro.
Em artigo publicado na Folha de S.Paulo, Xi falou em “reforço das sinergias entre a Iniciativa Cinturão e Rota e as estratégias de desenvolvimento do Brasil, no único parágrafo que mencionava a Nova Rota da Seda.
“No contexto de evolução rápida da nova rodada da revolução científica e tecnológica e transformação industrial, os nossos países devem agarrar as oportunidades futuras. Vamos promover continuamente o reforço das sinergias entre a Iniciativa Cinturão e Rota e as estratégias de desenvolvimento do Brasil, fortalecer constantemente a natureza estratégica, global e criativa da cooperação mutuamente benéfica China-Brasil, criar mais projetos exemplares que atendam a demandas futuras e trazem benefícios duradouros aos povos, e impulsionar o desenvolvimento comum dos nossos países e das nossas regiões”, escreveu Xi.
No artigo, o líder chinês afirmou ainda que os dois países “entendem e apoiam os caminhos de desenvolvimento que o povo chinês e o povo brasileiro escolheram”.
Xi esteve no Brasil pela última vez em 2019, ainda durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), para a cúpula do Brics, em Brasília.
A visita do dirigente em 2024 coroa as comemorações dos 50 anos de relações diplomáticas Brasil-China e era vista como a oportunidade ideal para eventual anúncio do ingresso do Brasil na Iniciativa Cinturão e Rota, outra denominação para a Nova Rota da Seda.
Em abril, Lula fez uma visita de Estado a Xi, da qual saiu com 15 acordos assinados e afirmando que ninguém iria “proibir que o Brasil aprimore a sua relação com a China”. A adesão à iniciativa, no entanto, não foi efetivada.
Em seguida, em junho, uma comitiva de ministros liderada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin com dezenas de empresários brasileiros foi à China para se reunir com altas autoridades e empresários do país asiático, como o chanceler Wang Yi -também no Brasil para a visita de Xi e o encontro do G20, ocorrido no Rio.
Alckmin negou que a comitiva iria formalizar a adesão brasileira ao projeto, apesar de dizer que o tema estava em discussão. A negativa foi uma resposta a publicação do líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT), dizendo que o grupo foi a Pequim para finalizar as tratativas.
GUILHERME BOTACINI E MARIANNA HOLANDA / Folhapress