Zack Snyder faz de ‘Rebel Moon’ seu épico espacial e busca franquia na Netflix

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma jovem mulher de cabelos negros e lisos trabalha no campo, preparando o plantio. Com um macacão velho, ela usa a foice para cortar a plantação e encontrar a terra, cavando o solo e plantando as sementes pelo caminho.

A cena que abre o filme “Rebel Moon” passaria por bucólica se não fossem as duas luas ao fundo, que iluminam o céu rosado da noite. O perfurador flutuante denuncia que estamos em outro mundo. Na verdade, segundo o prólogo, estamos num sistema de planetas a anos-luz daqui, um universo com outras diversas civilizações.

A história desse espaço fantástico, porém, é tão reconhecível aos olhos quanto a ceifadeira manuseada pela garota. A moça, chamada Kora e vivida por Sofia Boutella, mora em uma comunidade de fazendeiros que, certo dia, se vê encurralada pelas forças do império militar cruel que comanda o sistema.

A população recebe um ultimato: ou entrega quase toda a sua reserva de alimentos a uma tropa militar, ou paga as consequências com a vida. Diante do problema, Kora decide viajar a outros planetas em busca de ajuda, reunindo um grupo de guerreiros que faça frente ao exército.

Em outras palavras, “Rebel Moon” segue o caminho de “Os Sete Samurais”, clássico de Akira Kurosawa repetido à exaustão ao longo das décadas —de “Sete Homens e Um Destino” até “Vida de Inseto”. A diferença, aqui, é o épico espacial, que redimensiona a trama a uma escala maior, nos moldes de “Star Wars” —com direito a robôs, alienígenas e até um sabre de luz improvisado.

O que faz muito sentido considerando que o longa é de Zack Snyder, o cineasta que abraçou a megalomania como modo de vida.

“Rebel Moon” está à altura da reputação do diretor. O filme que chega à Netflix nesta sexta-feira é só a primeira parte da história —a segunda programada para abril de 2024. Uma versão estendida das duas produções também está nos planos, indo além das duas horas e quinze minutos.

Snyder já mostrou interesse em fazer um terceiro capítulo, e trabalha com a plataforma em derivados que incluem uma HQ e um podcast. O primeiro filme mal saiu e ele trata o projeto como uma franquia —ou, em suas palavras, uma nova e empolgante propriedade intelectual.

“Nós tivemos a oportunidade de construir uma mitologia extensa a partir dessa história simples”, diz o diretor. “Quando começamos a explorar o universo, percebemos que tínhamos que povoá-lo com elementos como religião e filosofia. Nesse processo, encontramos essas pequenas tramas, e daí fomos tirando ideias para outros projetos.”

Esse nível de dedicação é esperado do cineasta, que investe em versões estendidas desde a estreia em longas com “Madrugada dos Mortos”, de 2004. Snyder fez da ambição a marca de seu cinema, na mesma intensidade com que usa o efeito da câmera lenta para destacar a grandiosidade do momento.

A novidade é que o diretor encontrou um estúdio disposto a casar a aposta. A Netflix garantiu um grande orçamento para as duas partes de “Rebel Moon” e pretende cumprir com todos os planos da franquia. O investimento é tamanho que o filme foi o único projeto destacado pela empresa na última CCXP —onde apresentou a primeira parte com o diretor e boa parte do elenco principal.

Para Snyder, o cenário é bem diferente do seu período turbulento na Warner Bros., uma experiência coroada no lançamento controverso da sua versão do filme “Liga da Justiça”.

“A gente foi capaz de explorar esse universo porque pudemos trabalhar muito nisso, senão tudo vai pelo ralo sem ninguém saber”, diz o cineasta. “É algo que fazemos para que o mundo faça sentido, então soa natural deixar que essas partes vivam por conta própria.”

O elenco sente o investimento de Snyder com “Rebel Moon”, começando por sua decisão em fazer a fotografia dos dois filmes. Para o diretor, assumir a função o ajudou a construir a história. Para Sofia Boutella e o ator Ed Skrein —que vive o vilão, o general Atticus Noble—, o trabalho aproximou ainda mais o realizador das cenas.

“Era como se ele [o diretor] estivesse respirando o momento com a gente, ao invés de ficar distante e escondido, berrando do megafone”, afirma Skrein. “Isso foi muito importante porque tudo parte da cabeça dele. Ele arregaçava as mangas e quase entrava na cena, independente do que estivesse acontecendo.”

Boutella, por sua vez, diz que Snyder estava sempre disponível ao elenco nas filmagens. “Era uma interação constante, o que é impressionante dado a quantidade de coisas que ele tinha que fazer.”

Para Djimon Hounsou, que faz um dos guerreiros da trama, a proximidade ajudou o elenco a confiar na visão do diretor, o que facilitou a compreensão daquele universo. O ator trabalhou em todo tipo de grande produção nos últimos 20 anos —de “Gladiador” a “Guardiões da Galáxia”— e afirma que “Rebel Moon” foi uma experiência diferente.

“Esta história carrega muito da trajetória humana e diz muito sobre nosso esforço de preservar o planeta. Só isso já é um diferencial sobre os filmes da Marvel e da DC que fiz nos últimos anos.”

O tamanho dos sets também ajudou o elenco a se inteirar do universo dos longas. “Todo dia era uma surpresa diferente, porque eram naves diferentes no set”, diz E. Duffy, artista não binário que faz outro dos guerreiros da história. “A quantidade de cenários e figurinos dava vida às cenas.”

Charlie Hunnam, por sua vez, afirma que Snyder se destaca dos outros por confiar a responsabilidade do personagem ao elenco. “Isso me toca muito enquanto ator, porque sempre senti o mesmo”, diz ele, que faz um mercenário que ajuda a protagonista Kora a encontrar o seu exército.

O ator também reconta a experiência que teve com o diretor em meados dos anos 2000, quando foi considerado para o elenco de “300”. Tanto na época quanto agora, Hunnam fala que Snyder faz questão de dar todos os detalhes do filme para ajudar o elenco a entrar na história.

“Zack faz um tour com você, mostrando artes conceituais e até atuando alguns pedaços da história. Em duas horas de almoço, a sensação é de que você trabalhou com ele por três semanas. Ao final, ele ouve as suas perguntas e, depois de respondê-las, diz: ‘Ótimo, te vejo no set’.”

Ray Fisher, que fez o Ciborgue em “Liga da Justiça” e uma ponta em “Rebel Moon”, afirma que essa forma de trabalho define o diretor. “O Zack é o Zack. Você coloca esse homem em qualquer ambiente e ele vai conseguir manter sua identidade artística”, ele diz. “É isso que faz todo mundo se apaixonar por Zack durante um projeto.”

REBEL MOON – PARTE 1: A MENINA DO FOGO

Quando Estreia nesta sexta (22) na Netflix

Classificação 14 anos

Elenco Sofia Boutella, Charlie Hunnam e Ed Skrein

Produção Estados Unidos, 2023

Direção Zack Snyder

PEDRO STRAZZA / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS