Zelenski demite chefe da Força Aérea após perda de caça F-16

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, demitiu nesta sexta (30) o chefe da Força Aérea do país, Mikola Oleschuk. O anúncio ocorre um dia depois de o país admitir ter perdido o primeiro caça americano F-16 que havia recebido de seus aliados, com a morte do piloto.

Em sua fala noturna via redes sociais, Zelenski agradeceu a Oleschuk pelo trabalho e não citou a queda da aeronave.

O F-16 havia chegado na primeira leva dos caças a chegar à Ucrânia. Ele caiu em sua primeira missão operacional, na segunda (26), quando foi aos céus para tentar abater mísseis de cruzeiro russo. Quando aproximou-se de um alvo, sumiu do radar.

Moscou fazia, naquele dia, o maior ataque da guerra até aqui, com 236 mísseis e drones. Um número incerto de F-16 interceptou 4 deles, segundo Zelenski. Como operava em uma zona saturada de fogo antiaéreo e não houve tentativa de ejeção do piloto, a hipótese mais provável é de que o caça tenha sido abatido pelos próprios ucranianos.

Ainda que nada signifique em termos de rumo do conflito iniciado por Vladimir Putin em 2022, a perda do avião em sua primeira missão é uma humilhação para Zelenski. O presidente passou meses implorando aos aliados ocidentais que vencessem o tabu e fornecessem o caça.

Sua Aeronáutica foi dizimada na guerra. Dos 124 aviões de combate que operava, ao menos 98 foram derrubados até aqui, segundo dados públicos checados pelo site holandês Oryx. O país recebeu um número incerto de modelos soviéticos MiG-29 da Polônia e da Eslováquia como reposição.

Mas a estrela da propaganda de Kiev é o F-16, cujo envio pela chamada coalizão de caças montada por quatro países europeus começou no começo de agosto. Foram prometidos de 80 a 95 aviões, e ao menos 6 já chegaram –número que pode ser de 10, o que é incerto dado o segredo em torno do assunto.

As Forças Armadas anunciaram estar dividindo informações com os EUA, fabricantes do avião, para tentar estabelecer as causas do que ocorreu.

Além da perda do avião em si, há a questão da morte do piloto. O treinamento desses militares, que dura qualquer coisa entre seis meses e um ano, é uma das peças mais complexas da engrenagem de mudar o modelo de caça usado pelos ucranianos -que desse tipo de avião operavam apenas os soviéticos Su-27 e MiG-29.

Os russos também mantiveram, nesta semana, o bombardeio a bases que podem servir de abrigo para os F-16 no oeste ucraniano. Há relatos não confirmados de que dois caças foram destruídos.

A queda do F-16 e do comandante vem num momento politicamente complicado para Zelenski. O ucraniano apostou tudo numa ofensiva surpreendente contra o sul da Rússia, que empregou algumas de suas melhores forças.

Enquanto isso constrangeu Putin e gerou uma reação atabalhoada na Rússia, do ponto de vista estratégico é incerto o ganho que o ucraniano terá. Ele já disse querer forçar o Kremlin a negociar e também que queria montar uma zona tampão em Kursk (sul russo) eficaz para proteger a região vizinha de Sumi (Ucrânia).

Nenhuma das duas coisas funcionou. Putin já estava trabalhando em eventuais conversas, mas as queria em seus termos –a cessão de quatro áreas anexadas na Ucrânia e a neutralidade militar do vizinho. Sobre Sumi, ao menos 2 pessoas morreram e 11 ficaram feridas nesta sexta, em mais um ataque.

Com a ofensiva, o flanco de defesa do leste ucraniano ficou mais exposto, e a Rússia está avançando diariamente rumo a Pokrovsk, cidade que serve de centro logístico na região de Donestk. Sua eventual queda pode prenunciar uma grande derrota para Kiev.

Pela primeira vez, surgiram críticas públicas à tática do presidente. Nesta sexta, ele foi alvo de um oficial do notório Batalhão Azov, unidade de elite das Forças Armadas associada a neonazistas.

“No momento, parece que nossa frente no Donbass [área no leste da Ucrânia que une Donetsk e Lugansk] colapsou. A defesa das forças ucranianas está desorganizada, os soldados estão cansados, enfraquecidos e muitas unidades estão desmoralizadas”, escreveu no Telegram Roman Ponomarenko.

IGOR GIELOW / Folhapress

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