WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, voltou a Washington nesta quinta-feira (21) em um clima muito menos hospitaleiro do que o encontrado em sua primeira passagem pela capital americana.
Em dezembro passado, ele discursou no Capitólio a convite da então presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, e voltou para o campo de batalha com a Rússia munido de um sofisticado sistema de defesa antiaéreo.
Agora, porém, ele se vê tendo que responder a cobranças de seus anfitriões, apelar para congressistas liberarem mais dinheiro ao seu país, e convencer o presidente americano, Joe Biden, a enviar mais armamentos.
O ucraniano chegou a pedir para discursar no Congresso novamente, mas o atual presidente da Câmara, o republicano Kevin McCarthy, recusou. “Não tínhamos tempo. Ele já falou para uma sessão conjunta”, afirmou o deputado a jornalistas nesta quinta.
Zelenski e Biden se reúnem às 16h (horário de Brasília). Segundo a Casa Branca, o presidente americano quer ouvir do ucraniano como está a situação na frente de batalha da guerra com a Rússia e qual é o caminho à frente.
Durante a manhã, o ucraniano teve reuniões com deputados e senadores. Ele também fez uma visita ao Pentágono, a sede da Defesa americana.
O objetivo da visita é convencer o Legislativo a autorizar o pedido feito pela Casa Branca para enviar mais US$ 24 bilhões em ajuda militar e humanitária à Ucrânia. Uma ala mais extremista dos republicanos tem criticado o apoio financeiro americano à guerra e afirmado que votará contra o pacote.
A divergência republicana acontece em meio a uma briga entre o Executivo e o Legislativo em torno do financiamento do governo. O Congresso tem até o final do mês para aprovar a liberação de recursos adicionais e evitar uma paralisação das contas.
McCarthy chegou a fazer um acordo com a Casa Branca por mais recursos, mas congressistas de seu próprio partido estão aproveitando a maioria apertada que o líder tem no plenário para impor mais cortes de gastos em troca de apoio ao projeto de lei a ajuda bilionária a Kiev entra nesse pacote de cortes.
“Se nós não conseguirmos a ajuda, nós vamos perder a guerra”, disse Zelenski a senadores nesta quinta, de acordo com o líder democrata na Casa, Chuck Schumer.
Outra meta que move Zelenski, mais ambiciosa, é conseguir que Biden autorize o envio de um poderoso sistema de mísseis conhecido como ATACMS (sigla em inglês para sistemas de mísseis táticos do Exército). No entanto, falando a jornalistas no início da tarde, o conselheiro especial de segurança da Casa Branca, Jake Sullivan, já disse que isso está fora de cogitação no momento.
“Hoje Biden está determinado a não prover ATACMS, mas isso não está fora da mesa de negociação no futuro”, afirmou a jornalistas. O temor americano é que o armamento acabe escalando o conflito, uma vez que se a Ucrânia usar os sistemas para atacar diretamente a Rússia, isso poderia ser o gatilho para uma resposta ainda mais agressiva talvez até nuclear, como Vladimir Putin e vários membros do alto escalão de Moscou já ameaçaram diversas vezes.
Sullivan disse ainda que Washington deve anunciar um novo pacote de ajuda à Ucrânia voltado ao fortalecimento das defesas aéreas. Mais cedo, a Rússia lançou uma nova ofensiva com mísseis contra o país, mirando a infraestrutura energética ucraniana.
A visita de Zelenski a Washington ocorre após sua passagem por Nova York, onde estreou como líder de um país em guerra na Assembleia-Geral das Nações Unidas. Na quarta, ele teve uma reunião bilateral com o presidente Lula (PT), onde ambos conversaram sobre esforços para promover a paz e reforma do Conselho de Segurança da ONU.
FERNANDA PERRIN / Folhapress