PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – O movimento de eleitores foi baixo no começo da tarde deste domingo (6) na escola estadual Cândido Portinari, no bairro Menino Deus, em Porto Alegre. A escola, que ficou sob 60 cm de água durante a enchente de maio, tem 11 seções eleitorais e é um dos principais centros de votação no bairro.
“A movimentação na rua está nitidamente mais fraca em comparação ao ano passado”, diz a administradora do prédio Renata Pias.
A campanha na cidade, vista como morna por eleitores, se reflete dentro da escola.
“Estranhei bastante não ter um fiscal circulando, de nenhum partido, ou nenhum delegado”, observa Renata.
“Não está se vendo mais essa participação, essa vontade de votar, de eleger os governantes”, diz a moradora do bairro Grace Kelly Ribeiro, 57, que foi atingida pelas cheias, e precisou deixar sua casa por dias. “A questão dos adesivos, que era tão forte, e tu não vê na rua.”
Ela acredita que o desgaste com as eleições presidenciais em 2022 acentuou o desestímulo do eleitorado porto-alegrense. “Foi meio traumática, no sentido que tu se sentia inseguro por manifestar a tua posição”, diz.
Também há relatos de pessoas, principalmente idosos, com problemas para justificar voto. “Muitos estão com dificuldade quando não têm o número do título, porque está dificil de acessar pelo site do TSE”, fala Renata.
As obras de recuperação na escola já foram quase totalmente concluídas e não afetaram o funcionamento das seções eleitorais no primeiro andar. Entretanto, a força das chuvas no período causou danos no segundo andar do prédio, que está em reforma para troca do telhado. Algumas seções precisaram ser remanejadas para outras salas.
O movimento de eleitores identificados com algum candidato continuou esparso mesmo após o fechamento das urnas às 17 horas.
“Estou tão desiludida com esses políticos todos, no geral. Eu fui votar hoje por obrigação”, diz a aposentada Simone Mendes, 61, moradora do bairro Cidade Baixa. Ela perdeu tudo com a enchente e ainda não conseguiu voltar para casa devido aos danos.
Eleitora de Maria do Rosário (PT), ela diz que as políticas de ajuda do governo federal estão insuficientes para quem não é de baixa renda. “Quem ultrapassou uma faixa de renda não teve financiamento para reconstrução do seu imóvel, ou para melhorias”, diz Simone. “É difícil.”
O engajamento político na capital gaúcha mudou nos últimos anos, também afirma a corretora de imóveis Sandra Coelho. Ela viu uma mobilização maior na Cidade Baixa, bairro boêmio e ponto de encontro habitual de eleitores, mas quase nada em outros bairros.
No segundo turno, acredita que pode mudar. “Eu acho que deve dar uma aquecida, porque aí são só dois, né?”, diz Simone. “Como dizem, vai ser uma outra eleição.”
O atual prefeito, Sebastião Melo (MDB), e Maria do Rosário vão se enfrentar em segundo turno para decidir quem comandará a Prefeitura de Porto Alegre nos próximos quatro anos. Melo obteve 49,72% dos votos válidos, enquanto a deputada federal alcançou 26,28%.
“A gente vê todo mundo prostrado para essa eleição. Sinceramente, parece que é mais um dia normal”, diz o engenheiro Marco Antônio da Rosa. Ele e os amigos têm a tradição de se encontrar no mesmo bar na região central de Porto Alegre para acompanhar a mobilização.
“Costumo estar aqui nessa esquina há 10 anos sempre depois das eleições, e a gente vê agora um movimento muito menor”, diz.
Ele acredita que os principais candidatos não mobilizaram o eleitor. “A Maria do Rosário é muito ligada ao governo federal, e aqui no sul há uma oposição maior, e tem também o prefeito, que, depois de tudo que aconteceu, ficou com a imagem extremamente manchada”, comenta.
CARLOS VILLELA / Folhapress