A Justiça do Rio de Janeiro decretou a prisão preventiva do rapper Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, o Oruam, após, de acordo com a Polícia Civil, ele atacar agentes e, com isso, facilitar a fuga de um dos principais ladrões de carros do estado. O rapper acusa a polícia de abuso de poder (leia mais abaixo).
A ordem de prisão foi expedida no plantão judiciário sob a acusação de lesão corporal leve, descrita no Código Penal, artigo 129, parágrafo 12. O texto estabelece o aumento de pena quando a lesão é praticada contra autoridades ou agentes.
Em nota, o TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro) citou “prática dos crimes de tráfico de drogas, associação ao tráfico de drogas, resistência, desacato, dano, ameaça e lesão corporal”.
O jovem que fugiu é descrito pela polícia como líder da chamada equipe do ódio, responsável pelo roubo de veículos na zona norte do Rio, além de ser apontado como segurança de Edgar Alves, o Doca, líder do Comando Vermelho.
“Analisando os autos, verifico que, no presente momento, mais adequado se faz a decretação da prisão preventiva (e não da prisão temporária), conforme sugerido pelo Ministério Público”, diz trecho da decisão.
“A prisão preventiva encontra respaldo nos artigos 311 a 313 do Código de Processo Penal e se faz pertinente para a garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado. E os requisitos se fazem presentes, de acordo com os elementos probatórios”, acrescentou.
AGRESSÃO
Oruam foi indiciado sob suspeita de associação ao tráfico e lesão corporal leve após, segundo a polícia, agredir agentes que tentavam apreender o adolescente. O jovem estava na residência do rapper e foi abordado ao sair do local.
Segundo a Polícia Civil, Oruam teria atacado agentes com pedras e paralelepípedos. Com a ação, o alvo do mandado conseguiu fugir.
A confusão ocorreu na casa do rapper, no Joá, zona oeste do Rio. Agentes da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes) monitoravam o adolescente e esperavam a saída dele da residência. Quando o jovem foi abordado, do lado de fora da casa, Oruam incentivou ataques, incluindo o uso de pedras contra os policiais, segundo relato dos agentes.
“Uma equipe diligenciou ao local, onde permaneceu monitorando o alvo em viatura descaracterizada. Ao sair da casa, junto com outras quatro pessoas, foi abordado pelos agentes, ocasião na qual foi anunciada a apreensão dele, bem como dos bens que portava, um celular e um cordão”, afirmou a polícia.
Segundo os agentes, oito pessoas apareceram na varanda da residência e começaram os ataques.
Oruam identificou o delegado Moysés Santana e passou a xingá-lo. “Delegado da Civil! Ei, Moysés! Tu é cuzão! Filha da puta! Tá tudo gravado! Você é covarde!”, gritou o artista.
Ele usou as redes sociais para chamar apoio. “Quem tiver de moto brota no Joá”, escreveu. “Me ajuda, eles estão aqui na minha porta”, falou.
Um dos homens que participaram do ataque aos policiais correu para dentro da casa. Os policiais entraram no local e conseguiram capturá-lo. Identificado como Pablo Ricardo de Paula Silva de Morais foi autuado em flagrante por suspeita de desacato, resistência qualificada, lesão corporal, ameaça, dano e associação para o tráfico.
“Aí, tropa, posta isso daí, tropa: tem mais de 20 viaturas na porta da minha casa. O mesmo delegado que me prendeu, eu estava saindo, botou uma pistola na minha cara, tentou me prender, conseguimos sair”, falou.
Ainda de acordo com a polícia, Oruam e os demais fugiram do local. O rapper afirmou estar no Complexo da Penha e desafiou a polícia a ir até lá.
“Vale destacar que esta é a segunda vez, em menos de seis meses, que um integrante da facção criminosa é localizado no interior da mesma residência”, declarou a polícia.
O QUE DIZ O SECRETÁRIO DE POLÍCIA CIVIL
Felipe Curi, secretário de Polícia Civil do Rio de Janeiro, afirmou que Oruam é criminoso. Segundo Curi, em razão do episódio, Oruam foi indiciado sob suspeita associação ao tráfico, resistência qualificada, dano ao patrimônio público e desacato.
“Se havia alguma dúvida de que o Oruam seria um artista periférico ou um marginal da pior espécie, hoje nós temos certeza de que se trata de um criminoso faccionado, ligado ao Comando Vermelho, facção que o pai dele, o Marcinho VP, controla a distância de fora do estado, mesmo estando preso em presídio federal”, afirmou.
Em fevereiro, Oruam foi alvo de uma operação da Polícia Civil que investigava disparos feitos por ele em um condomínio no interior de São Paulo, em dezembro de 2024.
Durante o cumprimento dos mandados em sua residência, os policiais encontraram e recapturaram um foragido da Justiça por organização criminosa. O músico foi autuado em flagrante pelo crime de favorecimento pessoal.
O que diz o rapper
O rapper Oruam, 24, acusa a polícia de abuso de poder.
Em nota, Oruam afirma que só jogou pedras nos agentes após ter sido ameaçado com arma de fogo e diz ter provas.
Segundo o cantor, que é filho de Marcinho VP, mais de 20 viaturas da Polícia Civil entraram em sua casa “de forma abrupta e agressiva”. E que “os policiais estavam sem farda, o que demonstra a ilegalidade da ação. Os agentes apontaram armas de fogo, incluindo fuzis, para mim, minha noiva e cinco amigos. Sabe o que encontraram? Nada”, diz ele.
Na versão de Oruam, durante toda a ação, ele e os amigos foram insultados, xingados e agredidos fisicamente. Por se sentirem acuados, diz ele, começaram a gravar as ações policiais com celulares. “Essas gravações mostram claramente as ações desmedidas, as ameaças de morte e as agressões físicas.”
Na sequência, houve o choque entre eles e a polícia. “Para tentar cessar a violência e as ameaças de morte, joguei pedras na direção dos policiais numa reação de desespero. Após toda essa violência e intimidação, me senti completamente acuado e traumatizado com a situação”, afirma.
Na nota, Oruam nega ser de facção. “Meu trabalho como músico vem de uma trajetória de muito esforço e dedicação. Meu dinheiro é obtido através da minha música, que muitas vezes está entre as mais ouvidas no Brasil, e não tenho qualquer relação com atividades ilícitas.”
O rapper ainda classifica a ação como “preconceituosa”, “arbitrária” e “injustificada”. “A lei tem cor e só vale para preto. Vocês não estão prontos para [ver] pretos no topo. Exijo respeito à minha dignidade, à minha história, ao meu trabalho e à minha vida. Espero que essa denúncia seja levada a sério.”



