ABU DHABI, EMIRADOS ÁRABES UNIDOS (FOLHAPRESS) – O caldo cultural de Abu Dhabi está prestes a ferver. Uma série de obras de arte serão espalhadas pelas ruas da cidade, ao longo dos próximos meses, em pontos como fachadas de prédios, túneis e locais históricos. A intenção é exibir peças ao ar livre para que fiquem à vista de qualquer pessoa.
O projeto chamado Public Art Abu Dhabi estreou no mês passado com a obra “Wave”, do coletivo D’strict, exposta no topo do edifício Cultural Foundation, um espaço de prestígio da capital dos Emirados Árabes Unidos. A peça é uma tela gigantesca de LED que exibe uma onda quebrando e se formando de novo sem parar.
O projeto, comandado pelo Departamento de Cultura e Turismo da cidade, vai se desdobrar ainda em outras duas etapas. Peças de arte que misturam luz e esculturas vão ser espalhadas por arquipélagos -a ideia é que as pessoas façam passeios pelas águas para observar as obras. Isso vai ocorrer em novembro.
Haverá também uma bienal de arte, com uma curadoria de obras que ainda não foi divulgada. O evento será inaugurado em novembro do ano que vem.
A iniciativa foi lançada num evento pomposo. O governo vai aplicar no novo projeto US$ 35 milhões por ano, o que equivale a cerca de R$ 172 milhões. Os números astronômicos podem impressionar, mas não é de hoje que os Emirados Árabes gastam uma fortuna com cultura.
Antes disso, em 2017, Abu Dhabi virou casa de uma sede do Louvre, o icônico museu francês que abriga o quadro ‘Mona Lisa’, com estrutura desenhada por Jean Nouvel. A cidade tem também uma unidade do americano Guggenheim, com arquitetura do vencedor do Pritzker Frank Gehry.
A cúpula metalizada do Louvre Abu Dhabi faz os olhos brilharem, mas o seu processo de construção foi permeado por polêmicas envolvendo abuso trabalhistas e até morte de operários.
Agora, com o Public Art, a cidade quer agradar quem já vive ali, mas também atrair cada vez mais visitantes de fora. A obra “Wave”, por exemplo, foi colocada num local estratégico para ser vista diariamente tanto por moradores quanto por turistas. O Cultural Foundation é um dos espaços mais visitados por estrangeiros.
“Temos infraestrutura o suficiente para criar mais arte pública em Abu Dhabi”, afirmou a historiadora de arte Reem Fadda num discurso para jornalistas. Ela está por trás de parte do novo projeto.
Enquanto almoça no Fouquet’s, um restaurante requintado do museu Louvre Abu Dhabi, Fadda diz querer levar diversidade cultural à cidade. Para isso, vai selecionar obras feitas por artistas de todo o mundo.
“Abu Dhabi reúne várias culturas e pessoas que representam as diferenças do mundo. A coleção do museu Guggenheim Abu Dhabi, por exemplo, tem muitas peças que representam outras nacionalidades. Diversidade ainda vai conduzir as nossas escolhas.”
Mas a verdade é que os Emirados Árabes têm uma relação complicada com diversidade.
É crime ser gay no país. O código penal diz que homens que fazem sexo anal devem ser punidos com morte. O Qatar, país árabe onde ocorreu a Copa do Mundo no ano passado, foi alvo de críticas por causa das suas leis anti-LGBTQIA+.
GUILHERME LUIS / Folhapress