SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O setor de varejo foi um dos destaques negativos da Bolsa nesta terça-feira (18). O principal motivo para o desempenho das ações foi o recuo do governo na intenção de cobrar impostos sobre compras internacionais de até US$ 50, que tinha como alvo principalmente plataformas chinesas como Shein e Shopee.
A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de retomar a isenção das remessas internacionais de até US$ 50 teve como pano de fundo a recusa do mandatário de penalizar a camada mais pobre, além de uma dose de pressão da primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a Janja.
O governo Lula anunciou na manhã desta terça-feira o recuo e manteve a isenção nas remessas internacionais de até US$ 50 de pessoa física para pessoa física.
Entre as dez maiores quedas do Ibovespa nesta terça-feira ficaram as ações ordinárias da Lojas Renner, com 4,12%, do Magazine Luiza, com 3,28%, e as preferenciais da Alpargatas, que fabrica e vende calçados, com 2,95%. Fora do índice, destaque para a ordinária da C&A, que caiu 3,31%.
Fabio Louzada, economista e fundador da Eu me banco, aponta que a desistência do governo em taxar as pequenas compras internacionais teve impacto direto nas ações. “As empresas varejistas brasileiras poderiam ser beneficiadas caso a isenção acabasse”, afirma.
Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos, afirma que o varejo já vinha sofrendo com a concorrência chinesa. “O que parecia ser um alívio para um setor que já sofre com os juros altos acaba voltando a ser mais um fator de dificuldade. As empresas estão apanhando de todos os lados”, diz Carvalho.
A queda das ações em 2023 comprova que o ano tem sido difícil para o setor. A ordinária da Lojas Renner acumula queda superior a 21%.
Denis Medina, economista e professor da Faculdade do Comércio, afirma que o impacto da medida na arrecadação de impostos pelo governo era questionável. “Se calculou cerca de R$ 8 bilhões a mais, mas haveria uma queda nas vendas, então este número poderia ser menor.”
Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos, afirma que houve um componente político na decisão. “O governo não quis correr um risco de imagem junto à classe média, que compra bastante nestas plataformas.”
Para o economista da XP, o recuo vai provocar a continuidade das discussões sobre concorrência desleal no varejo. “O cenário macro não muda, mas é um obstáculo a mais para as varejistas locais”, afirma Margato.
RENATO CARVALHO / Folhapress